sábado, 15 de março de 2014

O espartilho capitalista

Publicado em Sexta, 14 Março 2014 13:09

Diário Liberdade - Galiza
A redução de uma perspectiva de desenvolvimento com justiça social, no cálculo financeiro de custo/benefício que domina o sistema capitalista (e o pensamento dos que hoje detêm o poder na União Europeia e na potência imperialista) empobrece a inteligência e a capacidade criativa dos seres humanos.


É a volta ao fantasma do poder medieval onde os agiotas, donos das moedas, conduziam monarquias a fazerem guerras expansionistas e deixarem que as doenças e a fome dizimassem as populações escravizadas.
A imposição do modelo imperial na América Latina levou o Continente ao atraso, à fome endémica da maior parte da sua população, à queda da produção, ao desemprego, ao pagamento de uma dívida externa crescente que sugava todas as fontes de riqueza existentes. A década de 1980 foi considerada "perdida" para os povos latino-americanos e de grandes lucros para as sangue-sugas multinacionais, o sistema financeiro e o FMI com toda a corja parceira.
O aprofundamento da crise estrutural e sistémica do capitalismo está no centro dos principais problemas e conflitos internacionais, mas o seu preço foi cobrado às populações trabalhadoras, aos idosos e as crianças atirados à miséria em todas as nações do Terceiro Mundo.
As classes dominantes reacionárias e suas instituições económicas e financeiras transnacionais buscaram "soluções" nas velhas medidas que sempre resultaram em retumbante fracasso: diminuição do Estado, contenção salarial e redução do valor das pensões de aposentadoria, desregulamentação financeira, precarização dos serviços públicos com a semi falência do Serviço Nacional de Saúde e do Ensino Público obrigatório, desmantelamento das conquistas dos trabalhadores, circulação livre de capitais, privatização do património público, socialização das perdas das corporações.
Isto ocorreu na América Latina até que os povos decidiram substituir os governantes subservientes ao modelo imposto, por lideranças comprometidas com as forças sociais que lutavam contra o domínio oligárquico e pelo desenvolvimento com independência nacional.
Hoje, a miserabilização dos países mais pobres é o que está ocorrendo na Europa, destroçando as economias e o Estado na Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, amarrados a uma falsa "união comunitária" continental onde a moeda única permitiu que um Banco Central decidisse dos destinos das suas economias empenhadas nos créditos financeiros que beneficiam diretamente o Banco Europeu que fez uma operação triangular de agiotagem elevando os juros pagos pelas populações asfixiadas."É neste quadro de crise que se desencadeia uma brutal ofensiva dos potentados internacionais e das classes dominantes retrógradas contra as liberdades e os direitos fundamentais, a soberania e a autodeterminação dos povos e nações.
A ação imperialista resultante da evolução do sistema capitalista que só se mantêm em bases predatórias tanto das riquezas naturais do Planeta como da força de trabalho da humanidade, visa exclusivamente o poder para obter os maiores lucros alem dos saques perpetrados com as invasões periódicas contra os povos que lutam pela independência. Isto explica a autofágica ação contra as nações historicamente independentes da Europa.
Os modelos do capitalismo e a destruição das nações
A criação de "modelos" - visuais e mentais - definidos pelos critérios impostos pela elite dominante, pretende uniformizar a população tornando-a mais facilmente controlável. É a "formatação" imprescindível para manter uma organização do poder, autoritária e inflexível. A lógica do sistema capitalista, especialmente na sua fase de imposição do mercado a nível global, é intrínseca à acumulação centralizada do capital nas mãos de uma elite que exerce um poder discriminatório sobre os povos. Esta dinâmica foi despoletada na expansão colonialista com a descoberta do Terceiro Mundo, dando início à destruição progressiva de civilizações indígenas e seguiu, mesmo nos países colonizadores onde as antigas culturas ficaram marcadas pela pobreza e o atraso por falta de acesso à comunicação e desenvolvimento do conhecimento intelectual fechado nos cofres dos "escolhidos" pelo poder.

A estrutura administrativa deste tipo de poder define a sociedade como uma estratificação de acordo com a qualificação econômica dos que tiveram oportunidade de formação profissional e adquiriram conhecimento moderno e comportamento social consideradas "superiores". Os privilegiados atingem graus de chefia com autonomia para classificarem os seus subalternos enquadrados de acordo com os seus próprios critérios eivados de preconceitos e má fé. As instituições que dinamizam o Estado, formadas de cima para baixo reproduzem o "modelo" do poder central e garantem a sua permanência executando as "ordens" emitidas pelos seus superiores mesmo que contrárias aos conceitos específicos da matéria pela qual é responsável profissionalmente. Aqueles que se rebelarem apresentando argumentos alternativos às decisões superiores serão afastados da escala de poder administrativo ou mesmo demitidos.
O medo é o móbil do comportamento funcional para alcançar e conservar o emprego com os benefícios oferecidos pelas instituições do Estado e empresas. Em função do medo proliferam as formas de oportunismo que anulam os conceitos éticos básicos no comportamento humanista e independente que caracterizam a formação de personalidades criativas e solidárias com o desenvolvimento coletivo da sociedade, contrária às ambições individualistas e mesquinhas dependentes das estreitas metas
oferecidas pelo poder de uma elite.

O sistema capitalista, hoje predominante em todo o planeta, nasceu pela via financeira que passou a servir as famílias da nobreza que dominavam nações, feudos e condados herdeiros da situação medieval. Financiaram confrontos, guerras de expansão territorial, intrigas palacianas, crimes que eliminam opositores, enquanto consolidavam as primeiras instituições que constituíam o eixo dos futuros Estados republicanos. As famílias reais passaram a coadjuvantes daqueles que haviam sido os seus antigos assessores e investidores.
Foram abandonados os punhos de renda e a roupagem pouco prática para os novos políticos e executivos que assumiram os trabalhos que o poder capitalista exige aos executivos do sistema. Conservaram a gravata distinguindo-se dos trabalhadores mais rudes, de uma classe que apenas recebe para sobreviver. Entre as duas classes com condições de vida e interesses opostos, permaneceu uma classe média que tem capacidade de adquirir formação profissional e de consumir mantendo a dinâmica do mercado e recebendo benefícios do Estado como cidadãos. A perspectiva de futuro a faz adotar os modelos da classe dominante mesmo que construídos com matéria prima e Europa colonizada.
Curiosamente, enquanto os povos do Terceiro Mundo que lutam para implantar uma verdadeira democracia e aos poucos vão cortando as amarras lançadas pelo sistema colonialista que desde o século XVI afogou as suas características culturais e destruiu os seus recursos de desenvolvimento nacional, a moderna exploração imperialista voltou-se para antigas nações europeias colonizadoras. A criação da Troika pela União Européia e o FMI exerce hoje um poder que anula a existência de Governos nacionais e traça os programas de Estados, que eram independentes há dezenas de séculos, como se fossem suas colônias. Isto já ocorre em Portugal, Espanha e Grécia, avança na Irlanda e Itália, e invade com maior ou menor visibilidade em todos os demais países do Velho Continente enquanto dilacera as nações do Oriente Médio. O valor cultural e humano das nações europeias hoje sofre o mesmo aniquilamento que as civilizações na África, nas Américas, no Oriente Médio e na Ásia imposto pela invasão colonial. Para além de ser um crime hediondo contra a humanidade é o retorno da barbárie fascista.As grandes empresas farmaceuticas multinacionais substituiram o uso de cobaias nos laboratórios dos países ricos pelos testes feitos com pessoas que vivem na miséria a quem pagam uns tostões e, no melhor dos casos, dão uma "compensação" financeira à família quando a "cobaia humana" morre em consequência dos testes. Isto foi denunciado em filme (TVI,pt - programa Observatório) com entrevistas na Índia onde cresce a estatística de mortes por responsabilidade de laboratórios norte-americanos, franceses, suiços e alemães. O colonialismo britânico, ao dominar aquela civilização milenar, abriu as portas à desagregação nacional e foi expulso em 1947 pelo movimento conduzido por Ghandi, deixando o território minado para a infiltração imperialista da qual participa. Este é um dos muitos exemplos que explicam as chacinas e os projetos "errados" aplicados pelo Banco Mundial que levou povos inteiros à fome na África.
Hoje os "projetos de desenvolvimento econômicos e organização de supostos Estados Sociais" são aplicados impunemente pelo FMI e a Troika nos paises mais pobres da Europa (como anteriormente em todo o Terceiro Mundo) e têm o desplante de reconhecerem que não deu certo, por falhas técnicas dos governos subalternos de cada nação, e inventam outro programa. O mundo todo está servindo de "cobaia" para os cérebros doentios de uma elite que só visa lucros financeiros.

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quinta-feira, 13 de março de 2014

Individualismo e egoísmo são a essência do sistema capitalista

Publicado no "Avante!" 13/03/14
À comunicação social em Portugal divulga com uma frequência cada vez maior as acusações a membros do Governo que mentem sem qualquer pudor, que fazem o contrário do que anunciaram antes, que usam de esperteza inconcebível para extrair do pouco que os trabalhadores, pensionistas e reformados recebem, os recursos para pagar o endividamento criado por uma política submissa ao fortalecimento do poder financeiro globalizado que tem sido aplicado contra os princípios da Constituição de Abril. Se formos nomear os causadores da miserabilização de Portugal, da destruição das bases criadas com a Revolução dos Cravos em 1974 para o desenvolvimento nacional e a implantação de um sistema de Justiça Social, a lista é infinda.
A condenação de cada culpado, responsável pela destruição da força produtiva de Portugal, não resolveria o problema de fundo: um sistema económico, social e político que é essencialmente desumano, anti-democrático, antagónico à solidariedade e ao respeito pelo ser humano.
Importante é reconhecer que o capitalismo deriva de ações individualistas, portanto egoístas, que os líderes assumem e apregoam como modelo ideal de conduta da cultura moderna. Todas as orientações são escolhidas com critérios financeiros de custo/benefício favorecendo uma elite que detém o poder e nele quer permanecer. Para isto sacrifica o povo, o social, a parte humana e histórica do País.
A Constituição aprovada por todos os partidos, à exceção do CDS, em 1976 afirmava no seu preâmbulo que:
«A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
«Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.
«A Revolução restituiu aos portugueses os direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país.
«A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de assegurar e estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.
«A Assembleia Constituinte, reunida na sessão plenária de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta a
seguinte Constituição da República Portuguesa».
Este é um texto histórico indesmentível, oficial e reconhecido pelas instituições jurídicas nacionais, que corresponde a um facto verdadeiro registado mundialmente. Torna clara a necessidades dos políticos individualistas e egoístas, que só valorizam o custo/benefício que move o capitalismo (agora em crise profunda e global) de desejarem destruir esta grande conquista portuguesa que por si constitui a base de todos os programas de desenvolvimento nacional e de um Estado Social humanizado e capaz de subsistir com os seus recursos bem geridos com objetivos patrióticos. 
A luta pela democracia 
Em defesa dos Direitos Humanos e das conquistas até hoje alcançadas pelos trabalhadores (legislação do trabalho e direito ao emprego remunerado, apoio às formas de produção nacional), por suas famílias (condições de vida, assistência social para deficientes, idosos, crianças, segurança social), pelas mulheres (igualdade de direitos, protecção à maternidade), pelos jovens (ensino e formação profissional, formação cultural e ética através dos meios de comunicação social, oferta de empregos), pela população patriótica (instituições que organizam o Estado, assegurem a defesa do património, a segurança pública e a independência nacional), em linhas gerais acompanham a evolução da humanidade e desde o século XVIII delineou estruturas e conceitos para que cada povo definisse os seus próprios caminhos de acordo com a história e as características culturais que definem Nações.
Um dos elementos em toda esta riqueza que pertence à humanidade e a cada povo, é o instrumento económico – recursos produtivos, organização da produção com o preparo da mão de obra e garantias de condições elevadas de vida familiar, relacionamento internacional equilibrado para participar do mercado mundial. Estas questões são tão vastas e profundas que envolvem todo o saber – filosófico, científico, artístico – que permitem as múltiplas atividades que enriquecem as sociedades desenvolvendo talentos e aptidões criativas que se expandem pelo planeta.
A redução desta perspectiva de desenvolvimento com justiça social, no cálculo financeiro de custo/benefício que domina o sistema capitalista (e o pensamento dos que hoje detêm o poder na União Europeia e na potência imperialista) empobrece a inteligência e a capacidade criativa dos seres humanos. É a volta ao fantasma do poder medieval onde os agiotas, donos das moedas, conduziam monarquias a fazerem guerras expansionistas e deixarem que as doenças e a fome dizimassem as populações escravizadas.
Manifestemos unidos a força popular em defesa de um mundo aberto ao esforço e à criatividade dos seres humanos livres e fraternos.


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domingo, 9 de março de 2014

Governantes democráticos precisam explicar o que é DEMOCRACIA

Mais importante que a ortografia (que a maioria dos que falam português desconhecem e dispensam por serem analfabetos), são os verdadeiros conceitos de "democracia" ou "direitos de cidadania" utilizados de forma insistente e irresponsável, com intenções opostas, pelos governantes e autoridades das elites institucionais dos Estados Lusófonos.

Façamos um acordo globalizado para respeitar os princípios éticos que deram origem à democracia e aos direitos de cidadania expressos nas Constituições e respeitemos a maneira de ser, falar, vestir e se comportar socialmente, que cada povo adquiriu ao longo da história da sua Pátria.

"As editoras e autoridades linguísticas podem fazer o acordo que quiserem que ele não vai pegar em qualquer país lusófono que se preze. Todos os povos, mesmo o de Portugal, falam como lhes apetece e escrevem idem. A expressão popular é bué importante e carregada de afetividade, com c ou sem c antes do t, p'ra gente se preocupar com a velha gramática. O melhor será deletar o acordo e linkar os povos com a tradução gestual usada pelo tradutor na homenagem ao Mandela , que não estava nem aí para gramáticas e altas personalidades do imperialismo neo-colonial. Ele via anjos, nós também quando assistimos aos discursos democratizados e humanistas dos governantes que conhecemos de ginjeira."

Conservemos a liberdade, pelo menos, de nos expressarmos como queremos, cada qual com as manias da sua pátria. Cultivem a gramática para explicitarem melhor (sem as complicações da exibição acadêmica) o seu pensamento, se estiverem nas função de comunicadores ou professores. O conhecimento da língua e a sua evolução é matéria de grande importância cultural, mas não pode dificultar o dia a dia de uma população na sua necessária comunicação.

Os povos se entendem com ou sem gramática, pois têm os mesmos problemas de desemprego e fome. Assim ensinou o padre Antonio Vieira antes de ser preso pela Santa Inquisição, e, depois, os revolucionários internacionalistas desde o fim do século XIX. Já se foi o tempo em que a Europa se considerava o "modelo cultural" da civilização e o latim indicava que o Império lembrado era o dos Romanos.
Os representantes dos impérios relacionados com o Deus Mercado impuseram o seu idioma - inglês - e hoje muita gente estuda o mandarim preparando-se para um futuro à vista. A adoção de características autóctones traz problemas como o de vestir fantasias do Carnaval brasileiro em pleno inverno europeu ou a de Pai Natal com neve e lã em pleno verão dos trópicos. Não há saúde que aguente tanta incongruência!

Ou então façamos um acordo etnográfico misturando o idioma de Camões e outros ilustres escritores dos últimos 500 anos, com o brasileiro que integra italiano, espanhol, tupi e outros idiomas igualmente expressivos, com o umbundo de África e outros idiomas tribais, o chinês de Macau, o hindi de Goa e os diferentes crioulos. E não deixemos fora os irmãos galegos que bem se esforçam por manter a língua de origem dos lusos na Península Ibérica e entendem qualquer ortografia, desde que o conteúdo seja importante.

Publicado no portal DiárioLiberdade, da Galiza
Zillah Branco