sexta-feira, 22 de abril de 2016

Os passos da História no Brasil



Os graves problemas que geraram a iniciativa de golpe contra o Governo de Dilma no Brasil, desvendam os problemas de alianças partidárias feitas em torno de um programa de ação. O oportunismo para ocupar o poder é moeda corrente em todo o mundo. Com um pé no Governo os oportunistas usam o seu próprio poder no sistema (económico, mediático, religioso ou outros) para alterar o programa que norteara as alianças. Na Europa temos acompanhado a falência do Syriza na Grécia e do PS na Espanha, com a tentativa de promover uma aliança governamental entre os polos opostos: a esquerda e a ultra direita.

Lula, em 2002, tinha um programa de desenvolvimento necessário para consolidar a independência do país (sempre amarrado aos abutres imperialistas) e salvar da fome 50 milhões de brasileiros que sofriam a habitual austeridade que enriquece os representantes da elite capitalista. Em um primeiro momento aquela contradição, do capital e o trabalho, ficava atenuada pela necessidade dos empresários brasileiros sairem da coleira imperialista representada pelo FMI.

A esquerda brasileira que apoiou aquela aliança foi criticada por muitos teóricos como sendo "reformista" e "traidora dos princípios marxistas". Distantes do conhecimento da realidade histórica, alguns intelectuais pontificaram sem compreender o que Alvaro Cunhal afirmou em 2003 no texto "América Latina: sua potencialidade transformadora no mundo de hoje":
"os trabalhadores, os povos e as nações não podem aceitar que a ofensiva global seja irreversível"(...)"e deverão organizar as forças capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo". Faz um alerta: "apesar de ser por caminhos diferenciados, complexos e sujeitos a extremas dificuldades, é essencial para a humanidade que alcancem com êxito tal objectivo".

Os partidos aliados com o PT no Governo, à medida em que se assenhorearam de importantes postos no Estado, abandonaram o programa essencial que era o de consolidarem a democracia com uma perspectiva patritótica de independência. Surgiram várias legendas partidárias saídas da direita, cuja matriz era o PSDB e forças radicais herdeiras da ditadura de 1964, que se transvestiram em populistas à esquerda e até mesmo partidos que desempenharam importante papel no combate à ditadura fascista, como o PMDB, decidiram somar forças para expulsar o PT com um empeachment contra a Presidente Dilma que fora eleita por 54 milhões de votos.

O que ficou claro era que o apoio eleitoral estimulado por partidos revolucionários e movimentos sociais organizados, era do povo pobre e trabalhador e de grande parte da classe média patriótica e democrata, que não controlava mais o Estado e suas instituições de poder. A corrupção se espalhara como endemia natural ao sistema capitalista e os programas de apoio à democracia - Bolsa Família, Casa Própria, bolsas de estudo universitário, distribuição de energia elétrica nas regiões pobres, médicos para todos, abastecimento de água na zonas de seca, e tantos programas que foram sendo criados com o apoio governamental para reduzir as diferenças entre pobres e ricos - tudo isso foi sendo sabotado pelos falsos aliados do programa criado por Lula. O Brasil havia dado um passo histórico da luta anti-imperialista para a luta de classes que exige uma reformulação das forças governativas que não podem mais aceitar alianças com os defensores do capital contra o trabalho.

Neste clima de traição à democracia, a direita perdeu muitos militantes que não abandonam os princípios éticos que os norteiam diante da falência moral da prática do capitalismo. Apesar de conservadores e acreditarem no capitalismo, perceberam que a democracia é o esteio do humanismo e fora posta em perigo. Mesmo alguns governantes de países que colaboram com o imperialismo recusaram assumir uma postura contra o êxito de um programa humanista contra a fome que ainda flagela o planeta. Então os traidores inveterados e inexcrupulosos da direita brasileira vestiram-se com as fantasias da Igreja política-pentecostal, para reunir frágeis pessoas malformadas politicamente e dar um golpe com a ajuda dos meios de comunicação social vendidos ao império.

Agora as massas estão nas ruas acompanhadas e apoiadas por todos os que compreendem o processo histórico e defendem com unhas e dentes a democracia institucional. Não é hora de ficar em cima do muro !

Vivam os brasileiros patriotas , democratas, éticos, corajosos e exemplares!

Viva o Brasil!

Zillah Branco

terça-feira, 19 de abril de 2016

O Brasil não está à venda!



Segundo André Singer, cientista político, "é muito significativo que a luta de classes tenha voltado à cena "trazida pela direita e pelo capital". "Isso é surpreendente. Por que essa ofensiva diante de um projeto, de um governo que o tempo todo tentou conciliar, desde 2003 até agora, e jamais apostou na ruptura e no enfrentamento?"

Pois é, exatamente por falar em nome do povo e, ao mesmo tempo tentar conciliar com os exploradores, é que desmobilizou a fibra da resistência que não reconheceu os seus princípios nas ofertas de uma socialização burguesa.

"Se você desmantela a alternativa popular, ela vai demorar mais dez, vinte anos para se reconstruir. Talvez seja isso que esteja em jogo. Se for isso, estamos não no fim, mas no começo de um novo processo de luta de classes selvagem", acrescentou Singer.

A história exige tempo para amadurecer as condições de mudança. As organizações políticas que compreendem o processo que é revolucionário e trabalham incansavelmente para despertar a consciência de cidadania em todas as camadas populares. Lula levou ao seu primeiro Governo, a proposta de desenvolvimento econômico que necessitava o apoio do empresariado brasileiro que estava asfixiado pelos programas imperiais do FMI e amarrou o compromisso de tirar mais de 50 milhões de brasileiros da tortura da fome e de integrar todos na sociedade sem discriminação. Foi uma tarefa gigantesca que se realizou com exito tornando-se um modelo para todos os países em desenvolvimento.

Mas o caminho nunca foi fácil, pois os esbirros do poder elitista do sistema capitalista se infiltraram, aplicando a cunha da corrupção que enfraquece os elementos menos dotados de seriedade e patriotismo. Quando Dilma termina o seu primeiro mandato o panorama das alianças está envolto em uma teia de oportunismo e de traição (como prova o ex-democrata Temer candidato a Vice-Presidente) que lembra bem a situação que levou Getúlio Vargas, depois de assinar conquistas populares de criação de grandes empresas estatais, ao suicídio.

Felizmente o povo refletiu a formação de consciência obtida ao longo de 13 anos, empurrando para o lixo da história os que se empenhavam em criar problemas e falsas denúncias contra cidadãos heróicos que lutaram com coragem pela superação do lado podre do processo político.
Desenhou-se o "golpe" tendo como expoentes o que há de pior e mais sórdido da situação política - traidores dos antigos partidos democráticos, corruptos já denunciados mas protegidos por altos cargos no Estado, políticos oportunistas e mesquinhos sem idoneidade moral - que tentaram exibir-se na Europa e Estados Unidos sem conseguir qualquer apoio, inclusive sendo contestados por muita gente séria e até o diretor-geral da OEA, Luis Almagro; o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper; os escritórios da Cepal, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH); as declarações como a do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel, e os líderes mundiais Massimo D’Alema (Itália), Ricardo Lagos (Chile), Felipe González (Espanha), José Mujica (Uruguai), Tabaré Vasquez (Uruguai), o secretário Geral da ONU entre tantos outros.

Nas ruas o povo se uniu em torno das lideranças de trabalho e luta, sindicatos, movimentos de massas e partidos de esquerda, e criou novas frentes de combate em torno de músicos, cineastas, atores, juristas, professores em diferentes expressões do trabalho intelectual com a combativa juventude estudantil de todo o país. Assim nasceu uma nova composição para apoiar o governo que só poderá aliar-se com as forças comprometidas com o desenvolvimento nacional e o fortalecimento do Estado social para atender ás necessidades de saúde, escolas, emprego, habitação, transporte e segurança pública para construir um Brasil democrático e livre.

Não há conciliação com os defensores do capital contra o trabalho. Sabemos que quinhentos anos de dependência das nações ricas e seus representantes no aparelho do Estado deu origem a uma "democracia sob controle", que atende aos laços das interpretações legais e não ao espírito das leis em defesa dos interesses nacionais. Assistimos, na sessão parlamentar onde foi votado o impeachmen ao governo Dilma, à formação prévia de uma ameaça de pressão organizada atrás da mesa do Presidente da Camara que tem vários processos por corrupção suspensos devido á imunidade parlamentar que o protege. O clima para a votação foi alimentado pela histeria pentescostal da maioria dos participantes que impõe a emoção e anula a razão, como nas torcidas futebolísticas. A democracia ficou do lado de fora, nas ruas, onde o povo aguardava cívicamente animados com a sua natural alegria de quem tem a consciência limpa.

A luta continua, não apenas no Brasil mas em todo o mundo!

Zillah Branco

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Escravos do sistema capitalista



O sistema capitalista é anti-ético e habilidoso desde o seu nascimento. No início escravizava as crianças e as mulheres como trabalhadores, para financiar a exploração organizada de uma classe operária nascente que precisava ser formada técnicamente para a produção industrial.

Com o movimento comunista mundial, que no século XIX conduziu as lutas por direitos trabalhistas da classe operária e desvendou a exploração das mulheres atravez dos movimentos específicos que até hoje reivindicam a igualdade de direitos trabalhistas para as mulheres e o respeito pela formação e proteção das crianças, e o mundo recebeu um grande apoio da Revolução Soviética que introduziu o sistema socialista como modêlo antagónico ao capitalista.

Durante quase 80 anos, a União Soviética aguentou todas as envestidas destruidoras dos capitalistas, no que se somam guerras, crimes de toda ordem, espionagens, sabotagens e mentiras espalhadas pelos órgãos de comunicação social para formar uma cultura anti-comunista, e novas formas de escravidão aplicadas nos países colonizados. O princípio da escravidão, garantidos por leis aprovadas a nível internacional pela ONU, foi sendo adaptado aos setores da humanidade que ainda não podiam conquistar os seus direitos, trabalhistas e de cidadania das nações dependentes.

Libertadas as antigas colónias, ainda com forte apoio da URSS, dos países socialistas e dos partidos comunistas existentes em todas as nações, cresceram as reivindicações por uma legislação avançada que, apoiada nas Constituições Nacionais, defendem palmo a palmo os Direitos Humanos especificados em termos relativos à necessidade de criação de empregos com remuneração condigna e todos os atendimentos sociais devidos à população no que se refere às condições de vida e de formação.

Os cérebros que dirigem o sistema capitalista, limitados pelas leis que impõem o respeito social em países desenvolvidos, aperfeiçoaram as entidades financeiras mundiais de modo a escravizarem os sistemas bancários de todos os países estabelecendo a moeda única - dollar - e depois a sua parceira - euro - para controlarem todas as operações financeiras internacionais. Assim ficavam acima das Constituições que asseguram a soberania dos povos.

A globalização, sob o poder das empresas transnacionais que vão produzir nas regiões mais pobres onde os salários são baixos e os investimentos externos são recebidos como um "maná dos céus", estabeleceu os novos eixos da escravidão, agora dos países, usando os bancos nacionais que são os veículos das transações financeiras.

Criam-se teorias sobre o "capitalismo humanizado" e o "neo-liberalismo", mantendo a mesma lógica da exploração dos que trabalham pelo bem comum e dos lucros crescentes que enriquecem uma elite escolhida pela sua flexibilidade ética diante de corrupções e escravidão consideradas como "fatalidades".

Com todas estas formas de domínio do capital, o insaciável sistema capitalista entra em crises cíclicas. Sendo um sistema contrário ao socialismo da vida cidadã (que é fundamental ao desenvolvimento da humanidade) e anti-ético por natureza, precisa escravizar as populações que trabalham e comem menos para sustentar as elites serviçais ao controle supra-nacional. Não lhes custa dizimar grande parte dos seres humanos através da fome, das doenças (experimentadas nos seus laboratórios e nos medicamentos produzidos), das guerras com falsos pretextos e, modernamente, das migrações de refugiados em busca de socorro. Mas precisam suprir as necessidades básicas dos que trabalham e consomem os produtos que faz girar o capital, por isso oferecem créditos e obrigam os mais pobres a pagar altos juros com a austeridade. Como diz Jeronimo de Souza, "não se pode dar ao luxo de gastar todos os anos, só em juros da dívida, quase tanto ou mais do que se gasta com a saúde ou com a educação dos portugueses".

As sociedades evoluem, os povos adquirem consciência de seus direitos, os trabalhadores lutam e formam Estados sociais. As elites deformam as instituições sob gerências incompetentes e criminosas onde a burocracia serve de biombo para impedir o atendimento à população. Surge a teoria do Estado Mínimo apoiada na falsa idéia de que só o setor privado entende de gestão. Vendem as empresas básicas para a manutenção e progresso econômico e social das nações para os abutres do sistema. Empobrecem os países que, sem soberania são escravizados, e compensam os corruptos com a possibilidade de esconderem as suas fortunas em paraisos fiscais sem pagar os impostos que devem aos Estados para manter o desenvolvimento nacional.

As tentativas de golpe nos países emergentes, onde o Estado é fortalecido para atender socialmente a população, manter um sistema jurídico que garante a democracia, e zelar pelo desenvolvimento das forças produtivas e o controle soberano da economia, multiplicam-se na América Latina recém saida do subdesenvolvimento e da escravidão. As elites corrompem os fracos de mil maneiras para destruirem a unidade democrática que se fortalece nas conquistas essenciais pela independência nacional.

Zillah Branco

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Não ao golpe no Brasil

O Juiz do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, afirmou: "O Judiciário é a última trincheira da cidadania. E pode ter um questionamento para demonstrar que não há fato jurídico, muito embora haja fato político, suficiente ao impedimento. E não interessa de início ao Brasil apear esse ou aquele chefe Executivo nacional ou estadual. Porque, a meu ver, isso gera até mesmo muita insegurança. O ideal seria o entendimento entre os dois poderes, como preconizado pela Constituição Federal para combater-se a crise que afeta o trabalhador, a mesa do trabalhador, que é a crise econômico-financeira. Por que não se sentam à mesa para discutir as medidas indispensáveis nesse momento? Por que insistem em inviabilizar a governança pátria? Nós não sabemos."

E a provocação de um golpe, como foi constatado com a proposta de empeachement sem prova de crime, pelo PMDB e outros partidos, Eduardo Cunha e outros, juizes que nada entendem de ética, não é crime suficiente para ser punido com o afastamento de cargos públicos? Pode o Brasil depender da vontade irresponsável de quem perturbe a ordem nacional e provoque clamores internacionais, como até o Papa e o Secretário Geral da ONU registraram?

O mundo sofre os efeitos da crise cíclica do sistema capitalista e a elite dominante tudo faz para que os mais pobres, que constituem a maioria da população, pague as dívidas criadas pelo esbanjamento em que os ricos vivem. Isto só não ocorre quando os governantes impõem o respeito pela democracia que equilibra a distribuição de renda para que todos tenham condições de vida e desenvolvimento.

A Europa sofre as consequências das guerras que ajudaram o imperialismo a promover no Oriente Médio e Norte da Africa; a Africa sofre a fome herdada do pêso colonialista que ainda carrega; o Brasil, graças ao Governo Lula em 2002, criou condições para eliminar a fome de 50 milhões de brasileiros e desenvolveu programas de saúde, ensino, criação de empregos, construção de infra-estruturas para levar energia e água às populações de todos os Estados nacionais.

Foi pouco o que se alcançou no Brasil? Comparado com o resto do planeta foi muito, mas os ambiciosos da burguesia brasileira sentiram-se prejudicados porque a democracia não favorece o poder de uma elite privilegiada. Por isso a idéia de golpe e a enxurrada de formas de corrupção que atingiu os egoistas novos ricos. Mas houve um outro tipo de corrupção, o da quebra dos valores éticos, que atingiu a mídia e muitos altos funcionários do Estado além de personalidades com poder político, econômico e social - juizes, Presidente da Câmara de Deputados Federais, responsáveis por partidos políticos, e arrastou uma parte da população que tem os olhos fechados pelo egoísmo individualista e se deixa enganar.

A preocupação em salvar o Brasil das garras dos abutres, para que seja possível prosseguir os programas sociais pioneiros deste mundo em crise, é do povo brasileiro todo, dos responsáveis políticos e profissionais que defendem a democracia, dos altos dirigentes internacionais como o Papa e o Secretário Geral da ONU e de todos os que estão empenhados em colaborar com a humanidade em busca de um caminho de vida saudável.

A punição dos promotores do golpe não é uma vingança popular, é um dever ético do sistema judicial brasileiro. A depuração de golpistas nos partidos democráticos é uma necessidade dos seus militantes que preservam a história de luta democrática pela qual muitos deram a sua vida. Se algum brio existe na consciência do Vice-Presidente da República, Michel Temer, ele deve apresentar a sua demissão do Governo. Só então poderá ser encetado uma revisão dos problemas reais no Brasil para evitar as consequências da crise financeira e desenvolver a produção nacional e o Estado social no país.

Este será um passo revolucionário com a participação de todos os que defendem a pátria unificada em torno de princípios elevados e sem discriminação.

Zillah Branco