sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Um século de história sob o controle imperial

Opinião

Brasil: Um século de história sob o controle imperial


25 DE AGOSTO DE 2016


A condição do Brasil é, apesar da sua riqueza incontestável e das conquistas a nível científico, artístico e técnico, de subdesenvolvimento. Permanece sujeito à exploração neocolonial como o foi na fase colonialista. E isto se deve a uma elite que circula pelo poder político subordinada ao domínio do sistema financeiro nacional e internacional. Não cabe uma análise moralista dos que intervêm na vida nacional, mas a imagem do país terá de ser ética, para ser respeitado como formador íntegro da cidadania.

Por Zillah Branco

Boas pessoas quando jovens, recusam uma dedicação patriótica que os animou quando ainda tinham sonhos de heroísmo em que entregavam a vida para defender a independência nacional e o desenvolvimento do seu povo, como se fosse expressão de fraqueza ou ingenuidade, coisas de criança. Justificam a mudança de rumo ideológico com o pretexto de que o momento é dos espertos para, depois, poderem caridosamente “ajudar os necessitados”. Despem a pesada capa de valores éticos que um dia vestiram e vendem a consciência e a alma, por atacado ou no varejo, a quem der mais. Passam, de uma “alucinação positiva para outra negativa”, referida por Flávio Aguiar (blog Boitempo).

Assim, ex-democratas que imitaram heróis de verdade, trocaram os objetivos pessoais e os princípios herdados que os obrigavam a ser íntegros, honestos, solidários, responsáveis e progressistas, pela perfídia, o desprezo autoritário, a crapulice, o prazer da traição, o gozo da maldade. Sentem-se, talvez, livres de um peso que os tornava gente comum. A meta é o poder que compra prazeres cobiçados.

É uma minoria, entre os que se agarram ao topo do muro, como se não participassem da traição visível. Esta segunda corja não se sente vendida, apenas mantêm os cargos de confiança com as regalias que as leis autorizam e esperam que a tempestade passe e que a inércia os proteja. Aceitam a acusação de “fracos”, pensando que merecem ajuda e compreensão.

Nada têm a ver com os que erraram e percebem que têm alguma responsabilidade no êxito dos traidores. “Só não erra quem não faz” e “errar é humano”, são velhos provérbios. Mas este respeito pelo direito a ter errado só vale para os que reconhecem o erro e procuram maneira de o corrigir. Perigosa é a aceitação passiva de “erros habituais”, abrindo um caminho permissivo sem volta. Quem procura justificações atirando os erros para outros, ou culpa alguém pela sua ignorância anterior, cai na situação dos fracos que se autodesculpam ou se promovem, por oportunismo.

Os que descobrem os erros e não se escondem merecem confiança, pois ajudam a revelar as falhas que aparecem com a transformação das condições sociais. E assim evolui a história, desvendando novas possibilidades de superação dos erros.

A história do Brasil é rica em heróis. Sem ultrapassar um século, vemos surgir a República destronando o monarca que, por ingenuidade popular e ignorância comandada, merecia confiança permitindo vagarosamente que fosse decretado o fim da escravidão e a expansão das ideias positivistas que abriram o caminho republicano e democrático. É verdade que a Primeira República foi dominada pelos senhores rurais e o fim da escravidão africana deveu-se também à pressão da Inglaterra. Tudo boa gente? Nem tanto.

As verdades começaram a ficar mais claras com o movimento tenentista, depois o sacrifício dos 18 do Forte de Copacabana, a seguir a Coluna Prestes que teve como dirigentes heroicos os jovens militares Luís Carlos Prestes, Miguel Costa, Siqueira Campos, mas também Eduardo Gomes e Juarez Távora e outros que seguiram depois por caminhos políticos ideologicamente contrários. Não traíram, apenas se divorciaram no desenrolar da história. Cada um dos heroicos dirigentes da Grande Marcha que desvendou a realidade vivida e sofrida, do sul ao norte do Brasil, pelo povo explorado e miserável, desenvolveu teorias diferentes para buscar corrigir os graves problemas nacionais.

“Não há solução possível para os problemas brasileiros dentro dos quadros legais vigentes. A questão não é de homens, mas de fatos, isto é, de sistema e de regime. Nenhum governo, mesmo animado das melhores intenções desse mundo, poderá, nos limites da legalidade normal, resolver os problemas nacionais em equação. A solução tem de vir de uma transformação radical em tudo, não apenas na superfície política, é preciso reorganizar o país sobre bases novas. É preciso criar novas bases econômicas e sociais de relações entre os homens que habitam e trabalham nesta grande terra. É preciso quebrar, resolutamente, as cadeias que oprimem o Brasil e impedem seu desenvolvimento ulterior, sua expansão fecunda e gloriosa.” (Luís Carlos Prestes, entrevistado no final da Grande Marcha por Astrogildo Pereira, 1928)

“Estas coisas ditas por Prestes têm uma importância fundamental. Elas mostram que a Revolução, para Prestes, não é um mero motim militar. Ela é um fenômeno social infinitamente mais complexo. Para resolver os problemas nacionais, a Revolução tem que ser um vasto e profundo movimento popular em que o elemento militar desempenhe o papel – já de si imenso – de dínamo propulsor. Evidentemente, movimento dessa natureza, assim amplo e difícil, não pode ser obra de um simples momento de exaltação. Ele exige, ao contrário, longa, paciente, laboriosa preparação. E a esta preparação, devem consagrar-se, coordenadamente, todas as forças progressistas do país.” (Astrogildo Pereira, transcrição da entrevista citada para o Jornal “Diário da Manhã” do Recife)

Eduardo Gomes e Juarez Távora lideraram partidos políticos que defendiam o sistema capitalista “humanizado” e eram admirados pela crescente burguesia nacional que ligava a oligarquia rural ao empresariado urbano animado pelo apoio da Inglaterra ou dos Estados Unidos sem ver que aquele povo miserável do Brasil profundo era cada vez mais explorado e afastado da condição de cidadãos brasileiros.

E assim seguiu a história do Brasil subdesenvolvido cobiçado pelo imperialismo por um caminho cheio de curvas até 1964 quando foi dado um golpe sob a cobertura dos militares. A repressão ditatorial promoveu a aproximação dos progressistas que levantaram uma bandeira “democrática”. Surgiu o Movimento Democrático Brasileiro, única porta aberta à esquerda pois os comunistas e todos os que agissem como militantes de uma causa socialista foram para a clandestinidade perseguidos, torturados ou mortos. Passaram-se 21 anos cinzentos que deram origem à formação de novos caminhos para a reconquista da liberdade de expressão. Os que se consideravam “democratas” e defendiam o neoliberalismo formaram os primeiros governos. O governo de FHC aproximou-se das forças dominantes definindo a direita nacional submissa ao poder financeiro internacional.

Com a formação do PT foram aglutinadas diferentes forças de esquerda que impulsionavam movimentos sociais e sindicatos operários, contando com iniciativas de setores da população que militam independentes de organizações partidárias junto a igrejas, universidades, associações várias. Lula é eleito com um programa contra a Fome que merece a admiração internacional, e pela integração popular cidadã com o apoio de partidos de várias tendências acobertadas pelo termo genérico da “social democracia”. O governo abre caminhos contraditórios entre si, desconhecendo a luta de classes que se agrava à medida em que a injusta distribuição de rendimentos sacrifica o atendimento social às camadas mais pobres, antes marginalizadas, e favorece a acumulação do capital da elite empresarial que põe em prática o sistema de corrupção, de promoção de privilégios salariais e impunidade judicial, fortalecidos pelo controle da mídia que funciona como um quarto poder no país. Aparentemente o Brasil é fortalecido pela autonomia na exploração das suas riquezas e na redução visível da miséria que assolava um terço da sua população, o que promove a ilusão de que estava livre das crises do sistema capitalista.

A linguagem política dos liberais altera-se à medida em que crescem as reivindicações, de base democrática e de respeito por categorias antes desprezadas – mulheres e trabalhadores – de modo a distanciar-se do discurso e dos partidos revolucionários. Aparentemente desaparece a luta entre classes e emerge uma classe média que tem como objetivo identificar-se com a alta burguesia a começar pela aparência e o comportamento modelado sob o comando da mídia. A indústria lança produtos de qualidade inferior com o desenho das marcas mais caras e investe na propaganda do “consumismo” como padrão de modernização. Este novo estrato social repudia os mais pobres e a consciência do proletariado que exerce a pressão para obter as conquistas da legislação do trabalho, e adere à ideologia liberal defendida pelo patronato. A democracia reduz-se, praticamente, ao combate à fome, às medidas corajosas de um Governo enfraquecido apoiado pelo povo, ao direito universal ao voto que é condicionado pelas campanhas eleitorais sob efeito de grandes somas de dinheiro, corrupção e a condução midiática sob o olhar cauteloso dos Estados Unidos dedicado a estraçalhar os países do Oriente Médio e da África onde vai buscar o petróleo com a parceria da União Europeia.

Paralelamente a nível mundial

As instituições de ensino superior e investigação científica, criadas ou apoiadas pelo imperialismo, aprofundaram os estudos do marxismo para poder combater o método dialético utilizado pelos revolucionários, com forte propaganda política embalada em linguagem democrática com sentido contrário. Com uma perspectiva de direita estudaram o marxismo e o percurso do socialismo realizado pela URSS e demais países revolucionários para se apropriarem dos êxitos incontestáveis da ideologia de esquerda tergiversando sobre os conceitos. Deram origem a novas interpretações teóricas que serviram de estímulo ao combate aos comunistas que referem a linguagem dos revolucionários do século XIX e início do XX quando o sistema socialista foi introduzido com a formação da União Soviética e os movimentos de libertação por ela apoiados em todo o planeta. Dessa maneira a direita apropriou-se da forma dos conceitos esvaziando do conteúdo revolucionário.

A Guerra Fria alcançou a sua meta antirrevolucionária depois de 70 anos de espionagem, terrorismo, fabuloso investimento em armas, invasões de países com movimentos de libertação em todo o planeta, formação de investigadores de todo o mundo para se apropriar do “know how” de todas os povos. Mas também com a apropriação de uma cultura que substitui a consciência da realidade social pela ambição pessoal de vencer a qualquer custo como fazem os animais selvagens facilmente controlados por sons e luzes que os encantam.

Como bem observam os chineses, agora que alcançaram o estatuto de grande potência e fazem sombra aos países mais desenvolvidos do sistema capitalista, hoje os que emigraram para estudar, deixando a sua produção científica nos países ricos, despertam para o necessário combate ao imperialismo e voltam atraídos pelas suas nações de origem em luta pelo desenvolvimento e com capacidade para aplicar as qualidades do sistema socialista em sociedades mais humanas e efetivamente democráticas. Deslumbrada com o brilho ofuscante do capitalismo fica uma população embrutecida sob o controle mecanizado do método antirrevolucionário para consumir qualquer novo produto que alimente a elite dominante (de que foi expoente máximo a sessão que aprovou o impeachment contra Dilma no Congresso Federal do Brasil).

O caminho foi aberto

A evolução se dá aos saltos e sofre retrocessos pontuais como os golpes que germinam na América Latina alimentados pela pressão de grupos contrarrevolucionários que alcançaram o controle de países ricos através da centralização de poder financeiro e domínio do chamado Mercado Livre no planeta. Os nichos criados pela política de direita reacionária aproveitam-se dos erros cometidos sob a pressão das necessárias alianças partidárias e usam os potenciais traidores da sua pátria mediante corrupção financeira e promoção institucional que são os pontos vulneráveis abertos pelo liberalismo, como assinalou Luis Carlos Prestes em 1928:

“É preciso quebrar, resolutamente, as cadeias que oprimem o Brasil e impedem seu desenvolvimento ulterior, sua expansão fecunda e gloriosa.”

E Astrogildo Pereira, que divulga este pensamento de Prestes, formula o caminho de luta:

“Para resolver os problemas nacionais, a Revolução tem que ser um vasto e profundo movimento popular (…) Evidentemente, movimento dessa natureza, assim amplo e difícil, não pode ser obra de um simples momento de exaltação. Ele exige, ao contrário, longa, paciente, laboriosa preparação. E à esta preparação, devem consagrar-se, coordenadamente, todas as forças progressistas do país.”

Lula assumiu, com êxito inegável, o papel heroico de líder popular ao ser eleito em 2002 por dezenas de milhões de brasileiros que repudiaram o programa neoliberal resultante, mais uma vez no Brasil, da combinação de tendências anti-ditatoriais apoiadas pelo vizinho imperialista que se considera dono do continente americano. O processo histórico desencadeado não se ateve às curtas rédeas do sistema capitalista vigente. Criou uma dinâmica para atender a grande massa popular com o produto do trabalho e das riquezas nacionais, o que levou a elite a abandonar a vestimenta democrática que envergara para contrastar com a ditadura falida.

Além de ser urgente a reconstrução da Nação – com a sua força produtiva voltada para o aproveitamento do patrimônio em benefício de uma população de mais de duzentos milhões de habitantes e do desenvolvimento das instituições sociais e de produção científica e artística, – impõe-se a reposição dos valores abandonados pelo sistema legislativo que mostrou a sua fragilidade na defesa do equilíbrio patriótico posto em causa por um ato golpista.



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Um século de história sob o controle imperial

Opinião

Brasil: Um século de história sob o controle imperial


25 DE AGOSTO DE 2016


A condição do Brasil é, apesar da sua riqueza incontestável e das conquistas a nível científico, artístico e técnico, de subdesenvolvimento. Permanece sujeito à exploração neocolonial como o foi na fase colonialista. E isto se deve a uma elite que circula pelo poder político subordinada ao domínio do sistema financeiro nacional e internacional. Não cabe uma análise moralista dos que intervêm na vida nacional, mas a imagem do país terá de ser ética, para ser respeitado como formador íntegro da cidadania.

Por Zillah Branco

Boas pessoas quando jovens, recusam uma dedicação patriótica que os animou quando ainda tinham sonhos de heroísmo em que entregavam a vida para defender a independência nacional e o desenvolvimento do seu povo, como se fosse expressão de fraqueza ou ingenuidade, coisas de criança. Justificam a mudança de rumo ideológico com o pretexto de que o momento é dos espertos para, depois, poderem caridosamente “ajudar os necessitados”. Despem a pesada capa de valores éticos que um dia vestiram e vendem a consciência e a alma, por atacado ou no varejo, a quem der mais. Passam, de uma “alucinação positiva para outra negativa”, referida por Flávio Aguiar (blog Boitempo).

Assim, ex-democratas que imitaram heróis de verdade, trocaram os objetivos pessoais e os princípios herdados que os obrigavam a ser íntegros, honestos, solidários, responsáveis e progressistas, pela perfídia, o desprezo autoritário, a crapulice, o prazer da traição, o gozo da maldade. Sentem-se, talvez, livres de um peso que os tornava gente comum. A meta é o poder que compra prazeres cobiçados.

É uma minoria, entre os que se agarram ao topo do muro, como se não participassem da traição visível. Esta segunda corja não se sente vendida, apenas mantêm os cargos de confiança com as regalias que as leis autorizam e esperam que a tempestade passe e que a inércia os proteja. Aceitam a acusação de “fracos”, pensando que merecem ajuda e compreensão.

Nada têm a ver com os que erraram e percebem que têm alguma responsabilidade no êxito dos traidores. “Só não erra quem não faz” e “errar é humano”, são velhos provérbios. Mas este respeito pelo direito a ter errado só vale para os que reconhecem o erro e procuram maneira de o corrigir. Perigosa é a aceitação passiva de “erros habituais”, abrindo um caminho permissivo sem volta. Quem procura justificações atirando os erros para outros, ou culpa alguém pela sua ignorância anterior, cai na situação dos fracos que se autodesculpam ou se promovem, por oportunismo.

Os que descobrem os erros e não se escondem merecem confiança, pois ajudam a revelar as falhas que aparecem com a transformação das condições sociais. E assim evolui a história, desvendando novas possibilidades de superação dos erros.

A história do Brasil é rica em heróis. Sem ultrapassar um século, vemos surgir a República destronando o monarca que, por ingenuidade popular e ignorância comandada, merecia confiança permitindo vagarosamente que fosse decretado o fim da escravidão e a expansão das ideias positivistas que abriram o caminho republicano e democrático. É verdade que a Primeira República foi dominada pelos senhores rurais e o fim da escravidão africana deveu-se também à pressão da Inglaterra. Tudo boa gente? Nem tanto.

As verdades começaram a ficar mais claras com o movimento tenentista, depois o sacrifício dos 18 do Forte de Copacabana, a seguir a Coluna Prestes que teve como dirigentes heroicos os jovens militares Luís Carlos Prestes, Miguel Costa, Siqueira Campos, mas também Eduardo Gomes e Juarez Távora e outros que seguiram depois por caminhos políticos ideologicamente contrários. Não traíram, apenas se divorciaram no desenrolar da história. Cada um dos heroicos dirigentes da Grande Marcha que desvendou a realidade vivida e sofrida, do sul ao norte do Brasil, pelo povo explorado e miserável, desenvolveu teorias diferentes para buscar corrigir os graves problemas nacionais.

“Não há solução possível para os problemas brasileiros dentro dos quadros legais vigentes. A questão não é de homens, mas de fatos, isto é, de sistema e de regime. Nenhum governo, mesmo animado das melhores intenções desse mundo, poderá, nos limites da legalidade normal, resolver os problemas nacionais em equação. A solução tem de vir de uma transformação radical em tudo, não apenas na superfície política, é preciso reorganizar o país sobre bases novas. É preciso criar novas bases econômicas e sociais de relações entre os homens que habitam e trabalham nesta grande terra. É preciso quebrar, resolutamente, as cadeias que oprimem o Brasil e impedem seu desenvolvimento ulterior, sua expansão fecunda e gloriosa.” (Luís Carlos Prestes, entrevistado no final da Grande Marcha por Astrogildo Pereira, 1928)

“Estas coisas ditas por Prestes têm uma importância fundamental. Elas mostram que a Revolução, para Prestes, não é um mero motim militar. Ela é um fenômeno social infinitamente mais complexo. Para resolver os problemas nacionais, a Revolução tem que ser um vasto e profundo movimento popular em que o elemento militar desempenhe o papel – já de si imenso – de dínamo propulsor. Evidentemente, movimento dessa natureza, assim amplo e difícil, não pode ser obra de um simples momento de exaltação. Ele exige, ao contrário, longa, paciente, laboriosa preparação. E a esta preparação, devem consagrar-se, coordenadamente, todas as forças progressistas do país.” (Astrogildo Pereira, transcrição da entrevista citada para o Jornal “Diário da Manhã” do Recife)

Eduardo Gomes e Juarez Távora lideraram partidos políticos que defendiam o sistema capitalista “humanizado” e eram admirados pela crescente burguesia nacional que ligava a oligarquia rural ao empresariado urbano animado pelo apoio da Inglaterra ou dos Estados Unidos sem ver que aquele povo miserável do Brasil profundo era cada vez mais explorado e afastado da condição de cidadãos brasileiros.

E assim seguiu a história do Brasil subdesenvolvido cobiçado pelo imperialismo por um caminho cheio de curvas até 1964 quando foi dado um golpe sob a cobertura dos militares. A repressão ditatorial promoveu a aproximação dos progressistas que levantaram uma bandeira “democrática”. Surgiu o Movimento Democrático Brasileiro, única porta aberta à esquerda pois os comunistas e todos os que agissem como militantes de uma causa socialista foram para a clandestinidade perseguidos, torturados ou mortos. Passaram-se 21 anos cinzentos que deram origem à formação de novos caminhos para a reconquista da liberdade de expressão. Os que se consideravam “democratas” e defendiam o neoliberalismo formaram os primeiros governos. O governo de FHC aproximou-se das forças dominantes definindo a direita nacional submissa ao poder financeiro internacional.

Com a formação do PT foram aglutinadas diferentes forças de esquerda que impulsionavam movimentos sociais e sindicatos operários, contando com iniciativas de setores da população que militam independentes de organizações partidárias junto a igrejas, universidades, associações várias. Lula é eleito com um programa contra a Fome que merece a admiração internacional, e pela integração popular cidadã com o apoio de partidos de várias tendências acobertadas pelo termo genérico da “social democracia”. O governo abre caminhos contraditórios entre si, desconhecendo a luta de classes que se agrava à medida em que a injusta distribuição de rendimentos sacrifica o atendimento social às camadas mais pobres, antes marginalizadas, e favorece a acumulação do capital da elite empresarial que põe em prática o sistema de corrupção, de promoção de privilégios salariais e impunidade judicial, fortalecidos pelo controle da mídia que funciona como um quarto poder no país. Aparentemente o Brasil é fortalecido pela autonomia na exploração das suas riquezas e na redução visível da miséria que assolava um terço da sua população, o que promove a ilusão de que estava livre das crises do sistema capitalista.

A linguagem política dos liberais altera-se à medida em que crescem as reivindicações, de base democrática e de respeito por categorias antes desprezadas – mulheres e trabalhadores – de modo a distanciar-se do discurso e dos partidos revolucionários. Aparentemente desaparece a luta entre classes e emerge uma classe média que tem como objetivo identificar-se com a alta burguesia a começar pela aparência e o comportamento modelado sob o comando da mídia. A indústria lança produtos de qualidade inferior com o desenho das marcas mais caras e investe na propaganda do “consumismo” como padrão de modernização. Este novo estrato social repudia os mais pobres e a consciência do proletariado que exerce a pressão para obter as conquistas da legislação do trabalho, e adere à ideologia liberal defendida pelo patronato. A democracia reduz-se, praticamente, ao combate à fome, às medidas corajosas de um Governo enfraquecido apoiado pelo povo, ao direito universal ao voto que é condicionado pelas campanhas eleitorais sob efeito de grandes somas de dinheiro, corrupção e a condução midiática sob o olhar cauteloso dos Estados Unidos dedicado a estraçalhar os países do Oriente Médio e da África onde vai buscar o petróleo com a parceria da União Europeia.

Paralelamente a nível mundial

As instituições de ensino superior e investigação científica, criadas ou apoiadas pelo imperialismo, aprofundaram os estudos do marxismo para poder combater o método dialético utilizado pelos revolucionários, com forte propaganda política embalada em linguagem democrática com sentido contrário. Com uma perspectiva de direita estudaram o marxismo e o percurso do socialismo realizado pela URSS e demais países revolucionários para se apropriarem dos êxitos incontestáveis da ideologia de esquerda tergiversando sobre os conceitos. Deram origem a novas interpretações teóricas que serviram de estímulo ao combate aos comunistas que referem a linguagem dos revolucionários do século XIX e início do XX quando o sistema socialista foi introduzido com a formação da União Soviética e os movimentos de libertação por ela apoiados em todo o planeta. Dessa maneira a direita apropriou-se da forma dos conceitos esvaziando do conteúdo revolucionário.

A Guerra Fria alcançou a sua meta antirrevolucionária depois de 70 anos de espionagem, terrorismo, fabuloso investimento em armas, invasões de países com movimentos de libertação em todo o planeta, formação de investigadores de todo o mundo para se apropriar do “know how” de todas os povos. Mas também com a apropriação de uma cultura que substitui a consciência da realidade social pela ambição pessoal de vencer a qualquer custo como fazem os animais selvagens facilmente controlados por sons e luzes que os encantam.

Como bem observam os chineses, agora que alcançaram o estatuto de grande potência e fazem sombra aos países mais desenvolvidos do sistema capitalista, hoje os que emigraram para estudar, deixando a sua produção científica nos países ricos, despertam para o necessário combate ao imperialismo e voltam atraídos pelas suas nações de origem em luta pelo desenvolvimento e com capacidade para aplicar as qualidades do sistema socialista em sociedades mais humanas e efetivamente democráticas. Deslumbrada com o brilho ofuscante do capitalismo fica uma população embrutecida sob o controle mecanizado do método antirrevolucionário para consumir qualquer novo produto que alimente a elite dominante (de que foi expoente máximo a sessão que aprovou o impeachment contra Dilma no Congresso Federal do Brasil).

O caminho foi aberto

A evolução se dá aos saltos e sofre retrocessos pontuais como os golpes que germinam na América Latina alimentados pela pressão de grupos contrarrevolucionários que alcançaram o controle de países ricos através da centralização de poder financeiro e domínio do chamado Mercado Livre no planeta. Os nichos criados pela política de direita reacionária aproveitam-se dos erros cometidos sob a pressão das necessárias alianças partidárias e usam os potenciais traidores da sua pátria mediante corrupção financeira e promoção institucional que são os pontos vulneráveis abertos pelo liberalismo, como assinalou Luis Carlos Prestes em 1928:

“É preciso quebrar, resolutamente, as cadeias que oprimem o Brasil e impedem seu desenvolvimento ulterior, sua expansão fecunda e gloriosa.”

E Astrogildo Pereira, que divulga este pensamento de Prestes, formula o caminho de luta:

“Para resolver os problemas nacionais, a Revolução tem que ser um vasto e profundo movimento popular (…) Evidentemente, movimento dessa natureza, assim amplo e difícil, não pode ser obra de um simples momento de exaltação. Ele exige, ao contrário, longa, paciente, laboriosa preparação. E à esta preparação, devem consagrar-se, coordenadamente, todas as forças progressistas do país.”

Lula assumiu, com êxito inegável, o papel heroico de líder popular ao ser eleito em 2002 por dezenas de milhões de brasileiros que repudiaram o programa neoliberal resultante, mais uma vez no Brasil, da combinação de tendências anti-ditatoriais apoiadas pelo vizinho imperialista que se considera dono do continente americano. O processo histórico desencadeado não se ateve às curtas rédeas do sistema capitalista vigente. Criou uma dinâmica para atender a grande massa popular com o produto do trabalho e das riquezas nacionais, o que levou a elite a abandonar a vestimenta democrática que envergara para contrastar com a ditadura falida.

Além de ser urgente a reconstrução da Nação – com a sua força produtiva voltada para o aproveitamento do patrimônio em benefício de uma população de mais de duzentos milhões de habitantes e do desenvolvimento das instituições sociais e de produção científica e artística, – impõe-se a reposição dos valores abandonados pelo sistema legislativo que mostrou a sua fragilidade na defesa do equilíbrio patriótico posto em causa por um ato golpista.



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sábado, 13 de agosto de 2016

Portugal vive dias de horror sob o fogo que invade casas, cultivos, oficinas artesanais, empresas industriais. Todos os concelhos, mas principalmente as regiões de centro e norte e a capital da Ilha da Madeira, a cidade do Funchal, estão com focos de fogo ativo. Os bombeiros já somam quatro mil e são poucos diante da magnitude da tragédia que aumenta e abre novos caminhos conduzida pelos fortes ventos e intenso calor do verão.

A polícia tem descoberto alguns responsáveis por "fogo posto". São pirômanos, alguns reincidentes, que revelam problemas psicológicos, comuns na nossa época de promoção de terrorismos, em que os grandes responsáveis pela administração pública escondem a sua responsabilidade social atrás de carências pessoais que não receberam o apoio médico ou educacional devidos. É fácil provocar o ódio entre os desesperados, apontando um que será o alvo da condenação. O ladrão esperto é o primeiro a gritar para pessoas distraidas: "pega o ladrão!" apontando um rumo imaginário por onde a multidão corre como gado, animada por suas tendências psicológicas de vingança.

Comparo este incêndio devastador em Portugal, pressionado permanentemente pela União Europeia para cortar as verbas orçamentárias e enriquecer os bancos onde o capital é acumulado nas mão de uma elite financeira, com a situação sofrida no Brasil, com o detonar do golpe por grandes corruptos "contra a corrupção sistêmica" atribuida políticamente à Presidente Dilma que tentava equilibrar um governo formado por forças antagônicas, algumas democráticas e outras oportunistas e corruptas.

Quem sofre e morre é o povo - os mais pobres, os que labutaram toda a vida e sobrevivem mal, os que conseguiram com muito trabalho e poupança construir uma casa e uma mini-empresa, os que são solidários e lutam contra a opressão, os bombeiros e militantes de esquerda que dão a vida por uma sociedade melhor e mais humanizada. Os grandes (ir)responsáveis pela organização das condições sociais e econômicas - os que acumulam o capital em benefício do seu próprio poder; as grandes empresas multinacionais que inventam mecanismos para que a poluição gerada por seus produtos não seja descoberta pelos fiscais do Estado; a mídia que divulga falsidades em defesa das elites e oculta a realidade que o povo enfrenta; os que gerem o mercado mundial controlando a riqueza de uns e a miséria da maioria; o poder imperial que invade países fragilizados para dominar as suas riquezas naturais; os políticos oportunistas e covardes que se oferecem para executar golpes ou "matar terroristas" em defesa dos interesses dos imperiais; enfim, os que têm o poder para organizar as sociedades mais humanizadas mas, ao contrário, destroem a capacidade popular de produzir para todos e acumulam o ouro como grandes ladrões assassinos.

Com a austeridade exigida pelos banqueiros da UE e FMI o povo português - que fez uma Revolução dos Cravos livrando-se de uma ditadura que esmagava países colonizados  e  a sua própria  população empobrecida, elevou a produção, criou empregos, atraiu os que haviam emigrado para sobreviverem, desenvolveu a saúde e o ensino públicos - foi traído por políticos que se diziam democratas (o filme "Fora Temer"?) mas na verdade eram submissos aos gananciosos do ouro, contrários à humanização da sociedade. O país viu-se diante do desemprego, os jovens emigraram deixando suas casas e seus idosos tomando conta de animais e cultivos; viu a produção nacional passar para mãos estrangeiras; os eucaliptos substituiram os carvalhos tradicionais e os pastos de grandes rebanhos de antes, por ser mais fácil vender para as grandes indústrias de papel de paises mais ricos; as aldeias históricas foram transformadas em atração para turistas e, assim, a vida rural portuguesa passou a ser cenário da indústria multinacional do turismo que é predadora e incapaz de manter a limpeza dos campos que no verão secam. 

O fogo queima o restolho, as ervas, as árvores, a produção agrícola, os animais doméstico e o gado, mata os idosos sem forças para manter a pequena produção, e anima os doentes mentais que anseiam por atividades que reunam o povo como em festas. 

Os bombeiros dão a vida, acompanhados pelos administradores dos serviços locais que não receberam o apoio financeiro para prevenir os incêndios, e os populares que tentam salvar pessoas e propriedades ou cultivos. Mas o vento empurra o fogo para todos os lados, como os donos do império capitalista fazem com os equipamentos militares que despejam bombas sobre populações indefesas.

Ao mesmo tempo milhares de fugitivos das guerras no Oriente Médio e Norte da África morrem afogados no mar Mediterrâneo ou no percurso a pé pelas fronteiras europeias em busca de ajuda pelos governos que mandaram a OTAN destruir os seus países.

O mundo hoje enfrenta um terrivel impasse: 

Acumulação do ouro ou uma sociedade humanizada. 
Q

Os povos sabem que para terem casas precisam construí-las e para comerem precisam cultivar e criar. Organizam-se com os vizinhos, ensinam as crianças a manterem o arranjo doméstico e a limpeza. Os que administram os serviços públicos zelam pelo abastecimento, pela segurança, pelo transporte, pelos cuidados de saúde e educação. O dinheiro penas serve para facilitar os cálculos do valor das coisas - produtos e trabalhos. É secundário diante da vontade e da inteligência humana.

O que será preciso acumular é a vontade de ajudar, a solidariedade, as boas idéias para resolver problemas e encaminhar soluções melhores. Só um povo autonomo e patriota, de um país independente e soberano, poderá vencer e criar a Justiça para assegurar um futuro humanizado.

Zillah Branco

Ódio e moralismo desviam o conhecimento dos erros

Portugal vive dias de horror sob o fogo que invade casas, cultivos, oficinas artesanais, empresas industriais. Todos os concelhos, mas principalmente as regiões de centro e norte e a capital da Ilha da Madeira, a cidade do Funchal, estão com focos de fogo ativo. Os bombeiros já somam quatro mil e são poucos diante da magnitude da tragédia que aumenta e abre novos caminhos conduzida pelos fortes ventos e intenso calor do verão.

A polícia tem descoberto alguns responsáveis por "fogo posto". São pirômanos, alguns reincidentes, que revelam problemas psicológicos, comuns na nossa época de promoção de terrorismos, em que os grandes responsáveis pela administração pública escondem a sua responsabilidade social atrás de carências pessoais que não receberam o apoio médico ou educacional devidos. É fácil provocar o ódio entre os desesperados, apontando um que será o alvo da condenação. O ladrão esperto é o primeiro a gritar para pessoas distraidas: "pega o ladrão!" apontando um rumo imaginário por onde a multidão corre como gado, animada por suas tendências psicológicas de vingança.

Comparo este incêndio devastador em Portugal, pressionado permanentemente pela União Europeia para cortar as verbas orçamentárias e enriquecer os bancos onde o capital é acumulado nas mão de uma elite financeira, com a situação sofrida no Brasil, com o detonar do golpe por grandes corruptos "contra a corrupção sistêmica" atribuida políticamente à Presidente Dilma que tentava equilibrar um governo formado por forças antagônicas, algumas democráticas e outras oportunistas e corruptas.

Quem sofre e morre é o povo - os mais pobres, os que labutaram toda a vida e sobrevivem mal, os que conseguiram com muito trabalho e poupança construir uma casa e uma mini-empresa, os que são solidários e lutam contra a opressão, os bombeiros e militantes de esquerda que dão a vida por uma sociedade melhor e mais humanizada. Os grandes (ir)responsáveis pela organização das condições sociais e econômicas - os que acumulam o capital em benefício do seu próprio poder; as grandes empresas multinacionais que inventam mecanismos para que a poluição gerada por seus produtos não seja descoberta pelos fiscais do Estado; a mídia que divulga falsidades em defesa das elites e oculta a realidade que o povo enfrenta; os que gerem o mercado mundial controlando a riqueza de uns e a miséria da maioria; o poder imperial que invade países fragilizados para dominar as suas riquezas naturais; os políticos oportunistas e covardes que se oferecem para executar golpes ou "matar terroristas" em defesa dos interesses dos imperiais; enfim, os que têm o poder para organizar as sociedades mais humanizadas mas, ao contrário, destroem a capacidade popular de produzir para todos e acumulam o ouro como grandes ladrões assassinos.

Com a austeridade exigida pelos banqueiros da UE e FMI o povo português - que fez uma Revolução dos Cravos livrando-se de uma ditadura que esmagava países colonizados  e  a sua própria  população empobrecida, elevou a produção, criou empregos, atraiu os que haviam emigrado para sobreviverem, desenvolveu a saúde e o ensino públicos - foi traído por políticos que se diziam democratas (o filme "Fora Temer"?) mas na verdade eram submissos aos gananciosos do ouro, contrários à humanização da sociedade. O país viu-se diante do desemprego, os jovens emigraram deixando suas casas e seus idosos tomando conta de animais e cultivos; viu a produção nacional passar para mãos estrangeiras; os eucaliptos substituiram os carvalhos tradicionais e os pastos de grandes rebanhos de antes, por ser mais fácil vender para as grandes indústrias de papel de paises mais ricos; as aldeias históricas foram transformadas em atração para turistas e, assim, a vida rural portuguesa passou a ser cenário da indústria multinacional do turismo que é predadora e incapaz de manter a limpeza dos campos que no verão secam.

O fogo queima o restolho, as ervas, as árvores, a produção agrícola, os animais doméstico e o gado, mata os idosos sem forças para manter a pequena produção, e anima os doentes mentais que anseiam por atividades que reunam o povo como em festas.

Os bombeiros dão a vida, acompanhados pelos administradores dos serviços locais que não receberam o apoio financeiro para prevenir os incêndios, e os populares que tentam salvar pessoas e propriedades ou cultivos. Mas o vento empurra o fogo para todos os lados, como os donos do império capitalista fazem com os equipamentos militares que despejam bombas sobre populações indefesas.

Ao mesmo tempo milhares de fugitivos das guerras no Oriente Médio e Norte da África morrem afogados no mar Mediterrâneo ou no percurso a pé pelas fronteiras europeias em busca de ajuda pelos governos que mandaram a OTAN destruir os seus países.

O mundo hoje enfrenta um terrivel impasse: UAcumulação do ouro ou uma sociedade humanizada.

Os povos sabem que para terem casas precisam construí-las e para comerem precisam cultivar e criar. Organizam-se com os vizinhos, ensinam as crianças a manterem o arranjo doméstico e a limpeza. Os que administram os serviços públicos zelam pelo abastecimento, pela segurança, pelo transporte, pelos cuidados de saúde e educação. O dinheiro penas serve para facilitar os cálculos do valor das coisas - produtos e trabalhos. É secundário diante da vontade e da inteligência humana.

O que será preciso acumular é a vontade de ajudar, a solidariedade, as boas idéias para resolver problemas e encaminhar soluções melhores. Só um povo autonomo e patriota, de um país independente e soberano, poderá vencer e criar a Justiça para assegurar um futuro humanizado.

Zillah Branco

terça-feira, 9 de agosto de 2016

FORA TEMER ! Apesar de você, o Brasil de amanhã será outra vez dos brasileiros

Apesar da história do subdesenvolvimento e da dependência econômica impostos pelo sistema de dominação política, dos vícios da elite permissiva e inconsequente que domina o Estado, da falta de ética ou de inteligência de uns quantos que, com seus diplomas comprados, chegaram ao poder, Lula abriu um caminho para que o povo pensante e trabalhador chegasse ao comando da nação através da razão e da cultura "pé-na-terra" que une a gente boa brasileira.


Não ha "pokemons" que imbecilizem quem nasceu livre, com idéias claras, com valor para trabalhar e sorrir, com força e entusiasmo para participar da luta pela democracia, ao lado de irmãos que, pelas suas diferenças, representam todo o planeta unificados pela integridade e a honra de patriotas verdadeiros. A judoca Rafaela Silva conquistou o ouro nas Olimpíadas tornando-se um simbolo dos brasileiros que carregam os problemas da pobreza, da vida em favelas, da cor dos escravos, do gênero das mães humilhadas, e vencem!

Os comunistas lutam em duas frentes simultaneamente: o combate ao golpe que representa a falta de patriotismo, de honra, de decência, de dignidade, de honestidade, de ética e a construção de uma semente para gerar as cidades humanas onde o DNA golpista não terá espaço porque o poder será dos que cultivam os princípios democráticos e o respeito pelos direitos humanos. O que se deseja é que os recursos do país sejam aplicados a favor do desenvolvimento da produção social e das melhores condições de vida dos brasileiros honrados e patriotas - com transporte, cuidados de saúde, ensino com educação e solidariedade, segurança pública e social, emprego e lazer livres da exploração de classe e da alienação mental que condena à subordinação dos cidadãos a um poder desumano e golpista.

"Amanhã será outro dia", apesar do golpe que uniu oportunistas que pegaram carona no processo democrático e falhados vendidos aos ambiciosos que espalham as guerras e o terrorismo pelo mundo, o Brasil demonstrará que a sua cultura é mais forte porque visa a humanização da sociedade com igualdade para os trabalhadores e suas famílias e não a acumulação do capital para satisfazer uma elite ambiciosa.

O amanhã está ligado ao combate ao golpismo de hoje. São passos de um mesmo processo que a história do Brasil registra através dos séculos. Antes surgiram heróis que deram a vida ao seu povo como exemplos a serem seguidos em defesa da liberdade, a igualdade e a fraternidade. Apesar do domínio capitalista que retira o poder aos povos para centralizar nas instituições financeiras dirigidas por uma elite corrupta e egoísta, o povo brasileiro absorveu das conquistas mundiais e do exemplo dos seus heróis a formação social humanista que se desenvolveu como filosofia, ciência e arte que hoje se manifesta nas Frentes de Luta que dominam as ruas das grandes cidades em todo o país.

Referimos como exemplo a judoca Rafaela Silva que ao viver tantos sacrifícios pessoais - vitima de privações de recursos, de preconceitos elitistas, de egoísmos de quem se julga superior, da ausência de justiça democrática na sociedade - descobriu a sua força indomável na luta bem conduzida. Assim faz o povo brasileiro que não permite a uma quadrilha de invasores a serviço de uma elite terrorista, roube a sua Pátria amada construída ha meio milênio por trabalhadores de tantas origens que não se vendem, a si e à sua cultura, à sua história, aos seus valores éticos, ao seu exemplo humano, por dinheiro nenhum. Lutam e vencem!

Não podemos continuar a perder tempo. Temos de nos preparar para a construção das cidades humanizadas com debates sérios sobre como produzir sem o esbanjamento da elite, sem a formação do mau caráter de golpistas, sem a infiltração de inimigos, sem os privilégios que impedem a justiça democrática, com o desenvolvimento da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Contaremos com o interesse e a solidariedade dos outros povos latinos-americanos e dos que, em todo o planeta, lutam pela paz e a democracia.

Fora golpistas! Viva a luta popular no Brasil! 


terça-feira, 2 de agosto de 2016

Que Brasil queremos?




As teorias são ferramentas particulares de conhecimentos da realidade existente - fotografias minuciosas do passado e da transformação no presente. Devem ser despidas do "eu acho que..." traduzidas em "verdades absolutas" pela elite "dona da verdade". Uma ganga elitista anula a possível transmissão de uma imagem da realidade. A pergunta sobre "o que queremos" não pode ser respondida apenas pelos intelectuais que debitam as suas formulas, muitas vezes fora de época e sobretudo longe do contexto geopolítico, humano, social e econômico existente. É preciso aprender a perguntar ao povo sem pretender ensinar-lhe a pensar. Pois ele pensa e sabe mais do que diz nas respostas às fórmulas habituais que circulam em uma sociedade criada para a elite.

Guardo lições ditadas por analfabetos com quem convivi na infância: "O Brasil não tem um povo, tem um montão de gente" (Cassiano, pedreiro, filho de escravos); "A vida não é uma escada, é um caminho" (Dona Justina, caiçara); "Quem despreza a gente é porque tem medo" (Brazília, cozinheira doméstica, filha de escravos). A leitura dos livros do Sítio do Picapau Amarelo ensina o que era o Brasil no século vinte, visto de baixo para cima e sem esconder a cultura importada da Europa que dominava socialmente. Monteiro Lobato desnudava o pensamento brasileiro e apontava a crítica necessária para a superação dos preconceitos que eram instrumentos do poder elitista, a começar do racismo, o machismo, a presunção classista, os "donos da verdade" que desconheciam os obstáculos reais. Precisou inventar uma boneca de pano e um de sabugo de milho para sugerir o futuro brasileiro que promoveria mudanças aliado às crianças educadas com liberdade. Misturou mitos europeus com os dos indigenas daqui e mais os que os africanos trouxeram, para abrir as portas a uma cosmogonia onde as diferenças se casam. Apontou um futuro em que, por respeito aos diversos pensamentos, a harmonia seria natural e criativa.

Autores comunistas descreviam os quadros da vida miserável em que viviam os trabalhadores e exibiam a inteligência que a pobreza não destruia, a alegria e  o respeito humano criativo, que eram divulgados por artistas geniais em sons e cores. E denunciavam os exploradores que acumulavam riquezas roubadas à natureza e às gentes brasileiras que não se amesquinhavam por "propriedade privada" e "ganância". Gente forte, gente sábia, gente que sobreviveu ao colonialismo e ao liberalismo e agora recusa o neo-colonialismo imperial. Gente que vai construir um Brasil independente.

Os colonizadores europeus trouxeram a cultura e as conquistas sociais alcançadas pelos Estados organizados através dos séculos, mas com a ambição de usar o novo território a favor das suas novas guerras intestinas, do fascínio pelo ouro e joias, com o sonho do poder total. Trouxeram também as contradições que minavam as suas nações, os que lutam pela liberdade, a fraternidade e a igualdade em vários idiomas. As elites tentaram implantar um pensamento congelado, que impedia o raciocínio e ameaçavam com os medos físicos e mentais dos opressores prometendo vinganças terríveis a quem levantasse dúvidas.

A dialética rompeu os grilhões. Era como o saci da mitologia afro-brasileira. Ninguem engole o saber do outro ou repete como papagaio os sons aprendidos. O Deus barbudo e severo e seus emissários santificados assumiram as feições que a cultura de quem convive com a natureza conhece, com sentimentos suaves e considerações éticas que abrem espaço para a harmonia e a alegria, bases para a justiça.

Os abusos nas guerras e no relacionamento doméstico, praticados pela elite, levaram o povo pacífico a criar defesas: surgiram os heróis do povo que lideraram ações libertárias de um Estado embrionário. Os modelos administrativos vindos da Europa desafinavam das necessidades sentidas pelas populações. Eram instituições próprias para a elite e os seus seguidores obedientes.

O modelo de revolução socialista penetrou como o antídoto à cultura da exploração europeia. O Cavaleiro da Esperança criou a guerrilha popular e atravessou o país, do sul ao nordeste, conhecendo a crueza da vida imposta aos povoadores do Brasil e traçando o caminho da luta. Chamou a atenção de pensadores de outros países latino-americanos e dos revolucionários da Rússia Soviética. Foi empossado como dirigente no nascente Partido Comunista. Tinha todas as qualidades de um herói nacional das gentes brasileiras, da maioria analfabeta à burguesia nacionalista. A ideologia aplicada por Lenin, que conheceu na Rússia revolucionária em plena criação de um sistema socialista, casou com os seus sentimentos puritanos cristãos. Pacientemente lutou pela constituição de um proletariado industrial e de um Estado social enquanto os abutres imperiais consumiam as riquezas minerais como lastro dos seus navios carregados com a produção agrícola barata exportada para a Europa.

Poucos intelectuais pensavam a realidade vivida pela maioria brasileira. Sequer observavam e faziam perguntas aos iletrados ou às mulheres que suportam a luta diária pela sobrevivência familiar. Alguns consideravam-se os seus interpretes, referindo teorias de origens diversas, de outras épocas e outras culturas. Interpretavam com os parâmetros da elite. Nos países subdesenvolvidos, colonizados ou dependentes do mercado e da cultura dos mais desenvolvidos, não havia diálogo entre a elite e a população. Os eleitos eram os cidadãos prestigiados "que pensam", apoiados pelos coroneis, por seus obedientes e alienados familiares, e mais o "voto de cabresto" do povo trabalhador. O resto era paisagem.

No Brasil a legislação era liberal, cópia do sistema europeu. Os preconceitos de classe, racista e machista, como pano de fundo na sociedade, pré-estabeleciam os pensamentos dos subordinados ao modelo dos cidadãos socialmente respeitados. As mulheres e os analfabetos eram os complementos naturais. As conquistas em nome da democracia só começam a ter vigência efetiva depois da Segunda Grande Guerra em que o fascismo foi vencido pelos aliados com o exército revolucionário soviético na vanguarda. O socialismo expandiu-se por todo o mundo como a ideologia alternativa ao capitalismo dominante.

A presença de Partidos Socialistas e Comunistas na vida política nacional abriu caminho para os projetos de uma democracia real. A militância progressista misturava diferenças ideológicas - anarquistas, cristãos, trotskistas, estalinistas e mais os que simplesmente defendiam os oprimidos e se rebelavam contra a presunção da elite.

A direita aperfeiçoou os métodos de dominação através da difusão literária, primeiro, e dos recursos da rádio, televisão e cinema, depois. Este tornou-se o instrumento fundamental nas campanhas eleitorais, na propaganda midiática e nos financiamentos privados de shows e mega-festas barulhentas e mediocrizantes. Ao impor um comportamento mecanizado e dominador, sem espaço para contestação, mantêm os que assistem subordinados à onda sonora e psicótica, obedientes à mesma elite que gere o poder financeiro. Uma versão moderna do antigo "cabresto dos coronéis" comanda, agora revestido de subtilezas dos que "fazem as idéias" através da cultura imposta como "moderna tecnologia".

No Brasil, com a Constituição de 1988 (onde no plano jurídico as mais visíveis restrições deixadas pela ditadura foram atenuadas), surge o anúncio da possibilidade de um regime político democrático. As forças de esquerda alcançam vitórias eleitorais, sobretudo a nível da representação municipal onde permaneceram sementes democráticas durante a repressão ditatorial, mas também nas câmaras estaduais e federais, com líderes que sempre lutaram árduamente em defesa das reivindicações populares mesmo fora dos períodos eleitorais. São os verdadeiros representantes da vontade dos oprimidos e da luta por uma transformação do Estado para que deixe de ser manobrado pela elite e realize uma administração democrática dos serviços sociais e econômicos para a independência e desenvolvimento da Nação.

Esta mudança afeta também a produção intelectual ao abrir as universidades a uma camada popular com representantes das vítimas dos mais variados preconceitos. Os temas sobre as diferenças impõem-se ao conhecimento científico, e até à mídia, ganhando as ruas. O direito a pensar com a própria cabeça estilhaçou as coleiras e grilhões. Desapareceu a névoa mental que subordinava a sociedade como um teto baixo de deveres e condições de cidadania.

Só assim pode haver uma produção intelectual integrada efetivamente na história brasileira, alimentada por um conhecimento dos que vivem a realidade suportada pela maioria da população, e as características de todas as regiõs do território brasileiro, sem a visão particular e supostamente superior de quem se beneficia dos recursos criados para a elite. As divergências que normalmente surgem nas análises teóricas serão explicitadas diante de fatos reais, com métodos científicos comprovados, e não apenas de interpretações da realidade enredados em conceitos abstratos e intraduziveis para a linguagem normal da população. O debate será sempre enriquecedor mas não mais como um campeonato de títulos universitários onde vence o que gritar mais alto.

Lula abriu o caminho para uma democracia quando venceu as eleições presidenciais em 2002. Foi um passo histórico que promoveu a participação de 61% de novos eleitores da esquerda e centro, desejosos de um caminho realmente alternativo . No entanto, para isto contou com forças políticas representantes de uma facção nativa da elite, discriminada pelos seus parceiros que assumiam o poder com a ajuda externa do sistema capitalista internacional.

No decorrer dos anos cresceu uma oposição interna às medidas governamentais favoráveis à integração de todos os cidadãos sem distinção de classe ou de etnia, de formação filosófica ou religiosa, de opção de vida. O processo de integração leva tempo para adaptar tanto os agentes sociais como o povo a um convívio igualitário. É uma mudança profunda nas convicções arraigadas pela cultura de uns e de outros, que exige um aprendizado social. Nem todos aguentam manter o entusiásmo na luta coletiva sem compensações individuais. A atração do conforto que cerca o poder é forte e "a carne é fraca" para muitos. Houve traições, insensibilidades e incompetências, que permitiram a sobrevivência de preconceitos contra a ascensão dos mais pobres.

O sistema capitalista aproveitou com a sua vanguarda financeira e uma política terrorista de expansão que enfraqueceu e quebrou a União Soviética provocando um abalo mundial nas organizações revolucionárias. No Brasil o pensamento democrático não foi assimilado pelos governantes da mesma maneira. Uns consideraram a participação popular fundamental para as decisões do Estado servirem os interesses da maioria, enquanto que outros procuraram dar aos mais pobres as condições de consumidores que o sistema estimula com a desigualdade e a corrupção. Os elitistas defenderam os seus privilégios de concentração do capital e das melhores condições de vida. Formou-se a mentalidade golpista para interromper o processo democratizante que ganhara o continente latino-americano e a admiração mundial. Mas, neste clima controverso, Dilma foi eleita por 54 milhões de eleitores. Os que defendem uma melhor distribuição de benefícios do patrimônio nacional e a participação nas decisões do Estado, exigem que os pobres sejam democraticamente integrados como cidadãos com os mesmos direitos sociais.

Vivemos um momento decisivo na história brasileira com repercussão na de toda a humanidade. Até hoje a evolução polítca só ocorreu com confrontos guerreiros. Ainda temos capacidade para defender as conquistas democráticas com os recursos jurídicos existentes na ONU a partir da definição mundial dos Direitos Humanos e da Paz para o Desenvolvimento Democrático. Haja coragem e brio!


Zillah Branco