terça-feira, 12 de julho de 2016

A grande mudança no Brasil



Os anos nefastos da ditadura militar, de autoritarismo e perseguição aos que defendiam a liberdade, dividiu a população brasileira que exercia a participação política em duas posições: a conservadora, apoiante da opressão -  no partido ARENA - e, em oposição, a democrática, no MDB que era um movimento social e político.

As discordâncias envolviam princípios políticos de liberdade - para que o país se desenvolvesse com independência, livre das pressões externas do imperialismo, e para que todo o povo conquistasse os seus direitos de cidadania - e a luta pelo poder autoritário, ou seja, apenas a substituição de uma elite (militar) por outra (civil) concorrente.

A esquerda clandestina, dos comunistas e militantes de movimentos sociais, trabalhou duramente junto ao povo dando apoio aos mais perseguidos, sem poder concorrer aos cargos políticos. Eventualmente foram acolhidos pelos democratas sob a legenda do MDB para serem eleitos e participarem do poder local. Muitos passaram pelas prisões, sofreram torturas e atè a morte. Tiveram os seus direitos de cidadania cortados, foram banidos da sua pátria. Grande número deles foi obrigado a exilar-se em outros países para poderem trabalhar e criar os seus filhos.

A luta armada e a pacífica foi mantida durante todos os longos 21 anos, conservando a chama da resistência e iluminando a esperança em todos os brasileiros que conservaram a consciência de que a liberdade é essencial ao desenvolvimento humano e da sociedade com a sua estrutura econômica e social.

O poder imperialista percebeu que as formas de opressão geravam a resistência de um número cada vez maior de pessoas que se afastavam dos políticos conservadores e descobriam o valor da democracia. Os próprios militares no Brasil se convenceram de que a ditadura esgotara a sua força. Foi aberto um caminho de transição para formar governos civis, e ser retomado o caminho democrático das eleições com a participação popular. Vestidos de democratas misturaram-se vários políticos cuja ambição individualista era apenas a de participar da nova estrutura de poder que se pretendia popular e voltada para a criação de melhores condições de desenvolvimento nacional e de vida para todo o povo. Com esta mistura o processo de transição seguiu, cheio de contradições.

Em 1988 foi produzida uma Constituição Federal pelos parlamentares que representavam os partidos que surgiram das duas forças políticas legais sobreviventes - ARENA e PMDB - e de outras que emergiram da clandestinidade com um passado histórico de esquerda, direita ou centro. Foi a Constituição possível, democrática (sem explicitar a ambiguidade do conceito), que admitia o voto dos analfabetos sem estabelecer os limites ao exercício do poder dos oligopólios nascidos das velhas oligarquias e da ação imperialista, que modernizava o sistema com aperfeiçoamentos tecnológicos, de gestão financeira da economia e de controle da mídia para a formação da opinião pública.

O PT nascia como uma esquerda moderna, livre do peso histórico que os partidos comunistas e socialistas carregavam suportando os preconceitos dos partidos de direita e até de centro esquerda recem-nascidos. A liderança de Lula, com o carísma pessoal de quem viveu a miséria como a maioria dos cidadãos brasileiros, e do trabalho sindical que liderava, ultrapassou as divergências intelectuais e ideológicas dos quadros do PT, conquistou o apoio massivo popular e atraiu franjas da burguesia que estava decepcionada com os problemas gerados pelo neo-liberalismo adotado nos dois mandatos de FHC a favor do enriquecimento da elite, e venceu a eleição presidencial em 2002.

Abria-se um novo caminho para o Brasil, tentando ser livre dos comandos externos com a matriz do neo-liberalismo, voltado para o desenvolvimento nacional com a integração dos milhões de trabalhadores pobres que passavam fome com as suas famílias e nem sabiam que tinham direitos de cidadania. O país reconhecia como parceiros os vizinhos de continente que, a exemplo de Cuba, recusavam a permanente sangria imposta pelo vampiro imperialista em que se transformaram os Estados Unidos aliado às nações mais ricas.

Muito foi feito desbravando o território brasileiro, criando infra-estruturas básicas para as populações dispersas, desenvolvendo o sistema de saúde e o ensino público, criando condições para integrar todo o povo nas instituições nacionais e acabando com o trabalho infantil, favorecendo os mais pobres com uma bolsa-família e promovendo pequenas cooperativas que organizaram o trabalho artesanal e de coletores rurais de produtos para entrarem no mercado sem a exploração dos intermediários. Nas cidades foi impulsionado o ensino superior e técnico de formação profissional, promovida a produção científica e de  varios ramos da cultura e da arte, criados incentivos financeiros para estudantes sem recursos, construção de casas populares, criação de restaurantes para atender os mais pobres, introdução da merenda escolar, e várias iniciativas para que o Brasil superasse as condições de subdesenvolvimento herdada do passado colonial e do poder de elites.

Mas as pressões contra este progresso - que dá prioridade aos mais pobres e ao desenvolvimento dos recursos nacionais incluindo a mão de obra que se foi formando,  e levava a uma melhor distribuição da renda nacional com a recolha de impostos junto às camadas sociais mais ricas - foram crescendo insidiosamente apoiadas pela mídia ao serviço dos oligopólios. Era a instauração de um regime democrático, e de um Estado social, que o sistema capitalista repudia para manter a concentração do capital nas mão da elite poderosa.

A culminação desta luta foi a execução do golpe que colocou Temer, o interino, no lugar da Presidenta legítima, Dilma Roussef, eleita por 54 milhões de brasileiros, com o falso pretexto de um impeachment sem base jurídica e com falsas alegações de crimes. Estranhamente o sistema judicial tem prolongado a contestação desse governo ilegal que trouxe para a administração da vida nacional a direita que tem sido sistemáticamente rejeitada pelo voto democrático.

Impõe-se uma solução urgente para impedir o desmonte das conquistas históricas que desde 2003 têm assegurado um caminho que garante a independência nacional, o desenvolvimento de um valioso patrimônio econômico e a criação de soluções para acabar com os sofrimentos da miséria que a maioria dos brasileiros suporta. Os movimentos sociais se estruturam e procuram a unidade com as forças de esquerda para registrarem em plebiscito a vontade popular. Não se pode admitir que persistam razões teóricas ou de interesses particulares que impeçam uma medida pacífica de expressão da vontade dos brasileiros. A luta é coletiva, urgente, patriótica, contra um ato ilegal programado por forças externas e realizado por traidores.

Zillah Branco

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