quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Virando a casaca?



O canal "Odisseia", dos Estados Unidos passou a divulgar no primeiro aniversário da morte de Fidel Castro - comemorado em todo o mundo pelos partidos e movimentos de esquerda - um filme de John Hedge, sobre o Comandante da Revolução Cubana . Ao contrário da sanha com que sempre procuraram demonstrar com injúrias o herói gigante que enfrentaram, sempre vencendo as perfídias do grande império ianque, o filme adoçou a linguagem com algum respeito pela figura histórica que "sempre  defendeu o povo cubano da fome e da miséria instaladas em Cuba por governantes corruptos e a máfia". Arranjaram uma maneira de deixar o imperialismo, que bloqueou o desenvolvimento de Cuba durante 60 anos, de fora.

Até Kissinger deu um depoimento tranquilo, sem salivar veneno como de hábito. E referem a boa opinião que alguns políticos norte-americanos tinham da capacidade de diálogo e de compreensão de Fidel, como foi o caso de Kennedy, (depois de colocar navios de guerra diante da Ilha para apoiar a invasão norte-americana à Baía dos Porcos e receber a visita do Presidente da URSS avisando que dotaria Cuba de mísseis para se defender),  em entrevista referiu Fidel como um homem que não temia a morte e lutava ao lado do povo com enorme coragem.

O filme nem mesmo deixou de mostrar o assassinato do presidente Kennedy, ocorrido em seguida à suspensão da invasão da Baía dos Porcos, dentro do território norte-americano. Ao ter que renunciar àquela invasão que destruiria a pequena ilha e sua grande revolução socialista, Kennedy pagou caro aos donos do império. O filme não entrou nas confusas  explicações, deixando para o bom entendedor tirar as suas ilações.

Enfim, depois de morto, Fidel foi reconhecido como tendo algumas boas qualidades pessoais e de bom governante pelos que o perseguiram tenazmente durante seis décadas (e tentaram centenas de vezes assassiná-lo) sem qualquer capacidade para impedir que, nas barbas dos Estados Unidos, sobrevivesse com êxito político imbatível uma sementeira revolucionária que sempre esteve presente junto aos movimentos de libertação da América Latina e África.

A habilidade dos defensores do sistema capitalista de adotarem uma posição contrária a que sempre tiveram de antagonismo com as características do socialismo na promoção do desenvolvimento social com condições igualitárias de vida - saúde, educação, habitação, transporte e emprego remunerado - para toda a população trabalhadora. Começam a chamar a divulgar agora algumas mudanças ocorridas no comportamento das suas elites imperiais. Estudam a maneira de aumentar as esmolas para que as populações possam sobreviver e consumir o seu mercado tóxico, dos alimentos às quinquilharias e aos grandes eventos anti-culturais, como se fosse um arremedo de socialismo sem revolução.

Em Portugal, referem o apoio da esquerda ao PS no Governo como uma "geringonça" inexplicável e, certamente, de pouca duração. Mas, passados dois anos em que foi atenuado o sacrifício da população miserabilizada pela austeridade imposta pela política da União Europeia e FMI para concentrar o capital nos Bancos privados, defendida a Caixa Geral de Depósitos sob a responsabilidade estatal, desenvolvidos processos que desvendaram desvios bilionários (que enriqueceram alguns banqueiros e políticos corruptos) resultante de depósitos pessoais que "desapareceram" devido ás convenientes falências bancárias, cresceu o prestígio do PS na Europa e tem atraído políticos dos grandes países para analisarem os bons efeitos da sua aliança com a esquerda que não exige cargos no Governo mas, sim, o respeito pela legislação trabalhista conquistada ao longo do século XX, e pelos protocolos de apoio democrático e social a todo o povo assinados com os organismos específicos da ONU para a Previdência Social.

Será que, diante da crise irreversível dos bancos, os defensores do capital resolveram abrir um pouquinho a mão para reduzir a distância quilométrica entre pobres e ricos? Surgem até discussões abertas para combater o consumismo que impede as classes médias de gerir com equilíbrio os seus parcos recursos.

Dá para acreditar que as elites criam vergonha, - apesar das longas listas de depositantes em paraísos fiscais para lesar o fisco - ou começam a se preocupar com o Juízo Final que ameaça o sistema capitalista e sua elite? Ou é apenas uma manobra para reduzir o excesso de "carrapatos" que aderiram como "especialistas tecnocratas" à elite e, com a recuperação dos "desvios" e outras falcatruas, a elite poderosa pode aumentar as esmolas sociais e reduzir o peso da austeridade?

Interessante a distância que a mídia internacional vai criando entre os impérios - liderado por Trump ou pela União Europeia - na defesa do sistema capitalista. Na Europa, que ainda recorda o horror da Segunda Guerra, preocupam-se em falar na humanidade sem descartar o capitalismo com o poder da elite, enquanto Trump recusa qualquer "desvio humanitarista". E foi o ministro das finanças de Portugal, pela capacidade de um governo PS apoiado pela esquerda, que foi eleito para liderar o Eurogrupo onde aplicará a sua tese de que "há uma disfunção na moeda única que prejudica os países do sul da Europa". Habilidade para manobrar com palavras caras não lhes falta.

De qualquer modo os combatentes revolucionários não acreditam que os direitos democráticos caem do céu e que os lobos de antes tornaram-se cordeirinhos. Este processo de "virar a casaca" não convence, pois permanecem os mesmos grandes senhores, mesmo sem gravata, agarrados ao poder globalizado.

Igualdade com os pobres nunca a elite poderá aceitar, pois são totalmente incompetentes para enfrentar a vida e a realidade dos comuns mortais sem os seus privilégios de classe e escravos domésticos.

Zillah Branco

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