segunda-feira, 25 de março de 2013

O patrimônio nacional e o ataque imperialista na Europa



A definição do território pátrio estabelece as fronteiras com outros territórios vizinhos, as milhas marítimas que cada um tem para seu abastecimento e defesa, os rios, o solo e o subsolo. 

A gente que aí habita, com a sua cultura, idioma e história, o povo, tem o poder e a responsabilidade de proteger o território, desenvolver as potencialidades existentes para assegurar a melhor condição de vida coletiva, zelar pelas riquezas naturais existentes para que o patrimônio nacional seja aplicado para o bem comum e conservado para as gerações futuras. As nações europeias que alcançaram durante a Idade Média maior poder em relação ao mundo ainda desconhecido, afirmaram-se como centro do conhecimento científico, filosófico e artístico e impuseram, através do domínio dos mares e da capacidade de organização de instituições que consolidaram Estados e relações políticas internacionais, o seu modelo de pensamento às nações mais pobres conquistando o estatuto de "poder cultural ocidental".

Subordinado ao modelo dos mais ricos (ou mais fortes), o mundo colonizado esmagou o orgulho nacional que defendia os seus patrimônios – naturais, culturais e históricos – que constituem a riqueza, material e imaterial, que alicerça o desenvolvimento da sua economia e do seu povo. 

Hoje, em investigações arqueológicas, desvendam-se conhecimentos científicos, conceitos filosóficos e sociológicos, noções de arte, enfim, traços de uma inteligência criativa avançada que se interpenetrava de sentimentos humanísticos que ainda faltam no conhecimento atual divulgado pelo mundo ocidental. 

Constata-se o tempo perdido no desenvolvimento da precária "civilização" que traduziu a sua capacidade e brilho intelectual em uma elite fortemente armada e de poder autoritário que manipula os seus dependentes.

Séculos de predação e rapina do patrimônio cultural e natural de povos que foram sendo exterminados bárbaramente no "Terceiro Mundo" – que o colonialismo e o neo-colonialismo criaram no planeta com o resíduo da sua exploração da riqueza resultante das suas "descobertas" nunca reconhecidas como "encontros entre povos" – que com o impulso propiciado pelo socialismo revolucionário deu, no século 20, decididos passos no sentido da libertação ainda que subjugados pelo sistema capitalista dominante que segue o seu curso com ideal imperialista. 

Novas formas de espoliação foram criadas na Europa, agora por empresas multinacionais que acobertam as nações ponta-de-lança do imperialismo que atuam dentro das instituições administrativas das sociedades dependentes (como antes fizeram no Terceiro Mundo por meio de empresas concessionárias de serviços públicos) assenhoreando-se das riquezas do subsolo como os minérios raros e, agora, a água, e passam a vender como se fosse seu, o patrimônio que pertence ao povo.

Diferentes estratégias expansionistas deram origem à criação e povoamento europeu das nações no Terceiro Mundo onde velhas culturas indígenas foram esmagadas e povos primitivos foram escravizados com o objetivo de ser implantado um modelo "civilizado" com as características do europeu. 

Paralelamente, a exploração das riquezas naturais do novo mundo enriqueceu o sistema comercial europeu que passou a constituir a base do poder econômico e político que mantinha a aristocracia reinante no continente europeu. 

A Inglaterra capitaneou a Revolução Industrial esvaziando o seu território de um campesinato pobre que emigrou, com facções religiosas conflitantes com o poder instituído, para o norte da América onde sobreviveram e povoaram os Estados Unidos e o Canadá na companhia de franceses e holandeses que seguiram o mesmo caminho. 

Naturalmente estas condições históricas de colonização, pelo empenho de nações europeias mais ricas que aplicavam a cultura no desenvolvimento de uma nova sociedade que se organizava no caminho da industrialização com as bases do capitalismo nascente, deram origem a colónias que permaneceram como instrumentos de poder aliadas às suas metrópoles. 

No final do século 19, depois de processos de independência em que Inglaterra e França competiram hora como colonialistas, hora como libertadores do novo mundo, os Estados Unidos seguido pelo Canadá, deram início à sutil penetração nas nações latino-americanas levando tecnologia e ideias modernas de desenvolvimento econômico diferentes dos conceitos libertários herdados tanto da Revolução Francesa como da Revolução Americana que já tinham desaparecido no curso da Guerra de Secessão que dividiu o povo norte-americano entre os racistas escravocratas e os que idealizavam o socialismo utópico. 

Abria-se para os países capitalistas, independentes e agora aliados, a fase do "imperialismo" que substituiu o mercantilismo e a dominação colonial por fórmulas modernas de neo-capitalismo acompanhadas de ação destruidora das culturas tradicionais e perseguição sem tréguas a qualquer expressão individual ou coletiva de doutrinas libertárias ou do socialismo científico. 

Todo o Terceiro Mundo, inclusive no Oriente, foi invadido pelo vírus imperial que ficou colado às sementes da cultura e do desenvolvimento equilibrado com as origens tradicionais e as características de cada povo, com características de humildade submissa, o reverso da medalha dos preconceito de superioridade racial e civilizacional usado como instrumento de domínio.

A Revolução Socialista realizada na Rússia e que expandiu o seu exemplo por mais 15 nações da Ásia Central e da Europa do norte, tendo por base teórica o conhecimento gerado na Alemanha e França, com participação de intelectuais e instituições de muitas outras nações europeias e mesmo dos Estados Unidos, dividiu a humanidade como um todo entre explorados e exploradores, sem divisões raciais e com a consciência dos iguais direitos humanos. 

A Segunda Guerra Mundial contra a expansão do domínio fascista na Europa foi vencida pela união da humanidade contra um perigo global, apesar das diferenças ideológicas históricas. A reconstrução das nações europeias também foi fruto da mesma solidariedade humanista e recebeu a ajuda (que abriu caminho para desenvolver os seus interesses de domínio) do núcleo imperial do sistema que deu grande impulso à imagem da Europa como "poder cultural" ao qual se manteve aliado até conseguir minar o sistema socialista no Continente.

Como assinala a exposição feita sobre a história da União Europeia, apresentada em final de 2012 em Bruxelas, a construção deste caminho teve início com a formação do Clube de Bilderberg formado na sequência da Segunda Guerra com políticos e militares europeus e norte-americanos que também definiram o Estado de Israel a ser implantado sobre o mundo árabe. 

Este fato, que é publicitado amplamente na Europa, impede que se avalie a penetração subtil do imperialismo na sua habitual forma de dominação dos países fragilizados da própria Europa. 

A aliança de uma elite política e econômica na Europa, a qual é integrada pela realeza que encabeça vários governos republicanos, com o núcleo imperial que comanda os Estados Unidos mantendo a nação como primeira potência militar e econômica no planeta, traçou em conjunto o caminho para o combate às ideias libertárias e socialistas que germinaram em toda Europa e formaram movimentos sindicais sólidos capazes de defender o direito dos trabalhadores e os direitos sociais de toda a população que são o objetivo de luta da esquerda que resistiu às invasões fascistas e às pressões ditatoriais permanentemente. 

O imperialismo, fase superior do capitalismo, que sempre apareceu como uma "estratégia" da primeira potência - amplia a sua imagem mostrando que também é europeu no mundo global.

Permanece a humanidade, que se divide em exploradores e explorados, diante da ameaça de uma guerra que parece unir os dois lados adversários na paz, em defesa da dignidade humana e o direito elementar de viver.

Zillah Branco é socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho

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