quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ditadura e formação do PT


Ditadura e formação do PT

Zillah Branco *

Em 1964, diante do fortalecimento de tendências nacionalistas com Jango e projetos progressistas ligados à FAO e outros institutos de formação desenvolvimentista, como a CEPAL, atuantes na América Latina, com influência na área militar (ISEB no Brasil), o imperialismo infiltrou os países ainda democráticos para instaurar ditaduras sob o seu controle e assassinou Allende (1972) que furara o cerco.


A resistência popular no Brasil foi esmagada fascistamente pela polícia política apoiada por militares, tal como depois ocorreu no Chile sob ordens de Pinochet. A esquerda partidária dividiu-se entre guerrilheiros e socorro vermelho, destruindo as estruturas ligadas ao movimento internacionalista que entrou em colapso final com Gorbatchev na URSS em 1989.

Socialistas, comunistas (1) e democratas resistentes durante as décadas de 60 e 70 no Brasil, compuseram um partido dos trabalhadores - PT - de intelectuais, classe média com inspiração socialista e apoio social-democrata norte-americano, contando com um líder carismático operário Lula da Silva, humanista e patriota. Como único partido de esquerda não clandestino, atraiu várias tendências mais ou menos radicais e humanistas, unidos como opositores à ditadura - socialistas, nacionalistas, comunistas, cristãos, anarquistas, etc. A consciência social tomou como objetivo a promoção da classe média dentro do modelo consumista do sistema capitalista, a extinção da miséria e a marginalidade em que vivia 70% da população brasileira e os preconceitos que negam os direitos humanos Já conquistados na Europa.

Lula, com a sua intuição política de esquerda e profundo humanismo cristão, com consciência de operário e de brasileiro pobre, despido de orgulho individualista e dotado de natural sensibilidade e respeito elo ser humano, conquistou a confiança do povo brasileiro e de outros países. Dividiu o poder com aliados bem diferentes ideologicamente que reivindicaram postos públicos e compensações para o exercício das suas funções privadas e carreiras na estrutura de poder que mantiveram os vícios da antiga oligarquia em aparente equilíbrio com a formação nacional de uma consciência de cidadania que seria o esteio da democracia.

Dilma, sem o carisma pessoal de Lula, com formação técnica além de um respeitável passado de luta radical contra a ditadura, dedicou-se à promoção do país em termos econômico e financeiro, que ainda dependem estreitamente do mercado internacional e de uma classe média consumista. No final do seu mandato eclodiram as contradições entre a consciência de cidadania, que se expandiu no seio das novas gerações, a injusta distribuição da renda e dos serviços públicos essenciais ao exercício dos direitos sociais elementares, e a dependência do Estado E dos bancos em relação ao imperialismo, o que foi aproveitado pela mobilização popular feita pela direita e provocadores fornecidos pela rede do crime organizado pelo Império e seus aliados.

Até o dia 26/10 terá de surgir um compromisso claro da candidata com o povo para respeitar imediatamente um programa democrático com prazo marcado para a implementação da reforma política e da democratização dos serviços públicos essenciais. Os movimentos sociais serão os porta-vozes mais fiáveis para uma população que demonstrou a sua desconfiança no ato eleitoral. Estamos no fio da navalha, pois este caminho afastará os velhos oligarcas que ainda aparecem como aliados de uma democracia morna.

(1) Os dois partidos comunistas - o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB) - mantiveram-se independentes, mesmo clandestinos, e foram legalizados em 1985, após o fim da ditadura militar. A partir de 1989, o PCdoB, mantendo sua independência política, ideológica e orgânica, aliou-se ao PT em coligações eleitorais, (Nota da Redação do Vermelho)


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