quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Dignidade dos portugueses é o escudo da nação


Publicado   18/12/12 no.Portal Vermelho

A velha ambição de dominar o planeta e escravizar todos os povos sob o comando de uma elite poderosa - com as figuras históricas dos Césares, dos Reis, dos representantes dos Deuses, e, no século 20, do nazismo de Hitler e do imperialismo representado pela força militar dos Estados Unidos, apoiada por governantes dos países mais ricos da Europa - agora é definida pela União Europeia, por uma fórmula moderna capitalista, com o controle financeiro exercido pelo Banco Central Europeu, através da subordinação de todos os bancos do continente extinguindo a autonomia de cada nação que aceitou abandonar a sua moeda para adotar o euro.

Por Zillah Branco*

Alguns países, como a Inglaterra, a Irlanda e a República Checa, cautelosamente mantiveram-se fora desse programa de anulação da autonomia nacional pretendida pela chanceler alemã Angela Merkel e outros membros do Clube de Bilderberg (criado na sequência da II Grande Guerra em um encontro de chefes políticos, militares e das monarquias, na Holanda, que construíram o projeto da União Europeia implantada em 1993 com o Tratado de Maastrich).

A crise econômica atual serve de pretexto na Europa, para a criação de um superpoder - a Troika - que leva o FMI a imiscuir-se na vida de todos os países impondo os seus métodos e programas para "organizar a existência" das populações de modo a servir aos interesses do Mercado Europeu. Com a afirmação de que "os governos não souberam gerir as economias nacionais e provocaram o desemprego e uma grande dívida externa" a UE, que incentivava esta mesma gestão durante décadas, agora parece repreender os seus acólitos e apertar os cintos das populações vitimadas. 

Debatem longamente os valores a serem creditados a cada país e emprestam "aos bancos privados a baixos juros" para que sejam eles a financiarem (com maiores taxas) os investimentos ao Estado para a saúde, a educação, a segurança social, as infraestruturas, a energia, etc. Claramente uma aliança do poder central europeu com as empresas financeiras privadas, em prejuízo dos Estados nas suas funções sociais. Trata-se de uma nova forma de invasão com armas financeiras que ameaçam com a fome e a miséria social.

Como o povo organizado não é idiota nem passivo e está preparado para manifestar a sua vontade, com os empréstimos, as elites invasoras e os governantes submissos impõem as condições para que não proteste - cortam os direitos anteriormente conquistados pelos trabalhadores (salários, subsídios, legislação do trabalho, remuneração para o desemprego, merenda escolar, atendimento médico, etc.). Só falta cortar o abastecimento público da água, do gás e da energia elétrica. E os campos de concentração, como os “campos de refugiados" que foram espalhados pela África e Oriente Médio, estarão também no pacote da crise financeira criada pelos gestores do sistema? 

A mídia, em Portugal, vê-se obrigada a divulgar os protestos que se multiplicam nas ruas promovidos pelos sindicatos e partidos de esquerda, e declarações feitas por personalidades da vida nacional que não podem ficar caladas diante do "desrespeito pela dignidade dos portugueses". Como bem diz o cantor Pedro Abrunhosa que analisa a crise devida à "subordinação do governo a uma legião de bastardos estrangeiros" que invade o país. O protesto contra a falta de respeito pela dignidade dos portugueses e do país sensibiliza a maior parte dos setores da sociedade.

Em abril de 2012 foi divulgada pelo youtube uma palestra do médico alemão Dr. Matthias Rath que, nas vésperas da eleição francesa que apeou Sarkozy ( parceiro político de Angela Merkel), na qual chamava a atenção para a necessidade de acabarem com o euro que funciona como uma coleira amarrando os países mais pobres ao controle pelos poderosos. "Defendam as suas moedas", que é o caminho para defenderem a autonomia de cada nação, ou seja, a dignidade de cada povo. E a moeda portuguesa é o escudo, e de escudo os povos independentes necessitam com urgência. 

*Zillah Branco é socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O mundo tornou-se mau?



18 DE DEZEMBRO DE 2012 

 Diante do flagrante abuso de um super-poder, no caso a União Europeia somada ao FMI, ao eliminar a autonomia dos países independentes que a compõem, pela via de imposições de medidas draconianas de austeridade à população trabalhadora e suas famílias, surgem ofertas atenuantes em nome da solidariedade para distribuírem alimentos e outras formas de esmolas que disfarçam a penúria dominante. 

Por Zilah Branco*


 "Boas almas" dão o seu tempo e dedicação nessas tarefas caridosas e procuram explicar os perigos que os mais frágeis, principalmente as crianças, correm na vida. O responsável pelo SOS Criança se refere a "este mundo mau", e outros dizem que "a maldade está no ser humano". Não há dúvida de que todo o socorro às pessoas carentes é meritório, mas os cidadãos com alguma formação política e social e os responsáveis pela gestão do Estado não podem ficar encostados na disposição sentimental dos que ajudam para amenizar os efeitos dos erros impostos pela elite poderosa.

Enquanto tentarmos eliminar as "maldades" que se revelam pontualmente em pessoas ou que parecem fazer parte da "natureza do mundo", estaremos alimentando a ignorância dos que preferem manterem-se alheios aos abusos cometidos por quem ocupa uma posição de poder. Este alheamento é uma forma de submissão e de conivência com o crime de criar o mal. 

As falsas explicações, baseadas em medos do desconhecido que são atirados para o campo das superstições e das ideias abstratas para negar o conhecimento objetivo da realidade, também são elaboradas pela elite dominante para manter as populações atreladas às informações que manipula, impedindo que se revoltem e conquistem os seus direitos, a sua dignidade, a força construtiva que pertence à humanidade. Assim, a mídia divulgou recentemente em todo o mundo, uma falsa afirmação atribuída à cultura Maia, de que, no próximo dia 21 de dezembro, será o fim do mundo. A Nasa viu-se forçada a declarar que a ciência - de que depende a sua função - nega a crendice ameaçadora divulgada.

As maldades, que se sucedem no nosso mundo, cada vez com maiores requintes de crueldade - vejam-se as chacinas cometidas por norte-americanos em escolas, igrejas e locais públicos; o crime organizado nas grandes cidades brasileiras; o terrorismo nos países invadidos pelas forças militares imperialistas, provocados entre tribos e seitas, em países africanos e asiáticos, impedidos de assumirem o seu desenvolvimento devido ao domínio colonial exercido pelo mercado imperialista; a destruição dos solos tratados quimicamente, como ocorreu na Índia, nas regiões submetidas aos projetos agrícolas criados pelas multinacionais da indústria de inseticidas; a multiplicação de doenças oncológicas favorecida pelo uso indiscriminado de medicamentos criados pelos grandes laboratórios da indústria farmacêutica mundial; a fome que mata milhões de crianças na África e que começa a penetrar as camadas populares da Europa que suportam o desemprego e a austeridade imposta para salvar os setores financeiros da crise do capitalismo; os vírus introduzidos para prejudicar a produção de alimentos; os vírus criados para impedir o uso da informática de maneira independente das grandes empresas multinacionais, etc - todas as maldades são produzidas a partir de uma estratégia de dominação da humanidade pela famigerada elite que detém o poder militar e, com ele, os poderes econômico, social e político no planeta. 

Tanto a natureza como os seres humanos estão condicionados no seu desenvolvimento pelas ações realizadas em função do controle do poder. É a ganância e o egoísmo que determinam os abusos de poder em prejuízo dos mais fracos, dos ingênuos, dos ignorantes, de todos os que, de uma forma ou de outra, forem dependentes para sobreviver e desenvolver as suas potencialidades naturais. 

Diante do recente massacre de crianças e professores nos Estados Unidos, Obama reconhece o aumento da violência (o quarto que, na sua gestão presidencial, ocorre sacrificando jovens) e que as várias causas não estão sendo combatidas devidamente no país. Talvez se refira ao controverso porte livre de armas defendido pelos conservadores, mas deve refletir também sobre o discurso a favor das "guerras justas" que proferiu cinicamente ao receber o prêmio Nobel da Paz, que serviu de estímulo aos massacres imperialistas no Oriente Médio e norte da África, onde os povos estão sendo igualmente chacinados.

Como bem disse uma emigrante portuguesa que acompanhou os tristes acontecimentos da escola de Connecticut nos Estados Unidos, "o nosso papel como membros daquela coletividade é o de mostrarmos que estamos identificados com as famílias no seu luto e sofrermos juntos para lhes dar forças". A solidariedade é assim, a solução para os problemas completa o socorro necessário para que os desastres não se repitam, e os governantes são responsáveis por impedirem que a violência e as crueldades não vitimem as populações.

A solidariedade com os que estão oprimidos nas sociedades obriga-nos a buscar a origem das maldades, denuncia-las, lutar pelo fim do seu poder perverso. Em Portugal os movimentos sindicais desenvolvem formas de manifestações permanentes para formar uma consciência popular capacitada a defender os direitos estabelecidos pela legislação do trabalho que reflete os princípios da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e exigir do governo uma gestão administrativa avançada e democrática. Só assim a população pode fiscalizar, com conhecimento objetivo da realidade nacional, o que os governantes e as instituições do Estado estão cumprindo em benefício da nação.

Ao longo do ano de 2012 esta formação cívica nacional evoluiu e hoje não restam dúvidas de que os atuais governantes estão subordinados às pressões externas contra os interesses do povo português. O Orçamento Nacional terá de ser examinado pelo Tribunal Constitucional e, se provada a inconstitucionalidade das medidas ( como ocorreu em 2011 e absurdamente aprovado precariamente), o governo terá de ser substituído. Em uma manobra política, de acordo com a explicação de analista da RTP (16/12/12), o presidente da República, Cavaco Silva, aprova primeiro e subordina depois ao Tribunal Constitucional para que "externamente possam prosseguir as relações financeiras e de mercado" (cit.RTP), e que, só quando a Assembleia de Deputados exigir, o Tribunal reconhecerá a necessidade de um novo governo. A manobra é bastante rasteira, mas os defensores deste governo desacreditado, como o analista político da RTP, não encontraram melhores alegações. 

O movimento sindical, liderado pela CGTP e apoiado pela esquerda de vários partidos, pacientemente continua a construir uma consciência nacional de cidadania que conquista a admiração dos demais países na Europa e se expande nacional e internacionalmente. Na verdade, a participação popular se faz em torno da questão do trabalho - que é o eixo da vida dos cidadãos - e das condições de produção, que o país oferece, e da legislação, que as instituições do Estado registram e aplicam de acordo com a história coletiva daquele povo. Cabe aos trabalhadores organizados apontar caminhos de desenvolvimento e fiscalizar a conduta dos governantes.

* Zilah Branco é socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Retrocesso econômico em Portugal



A crise do sistema capitalista tem sido aprofundada pelos governantes dos países mais ricos que preferem garantir maiores juros aos bancos e maiores lucros às grandes empresas às custas do empobrecimento das populações trabalhadoras. Este é o impasse político que está em causa, nos Estados Unidos e na Europa. 

Por Zillah Branco*



A crise do sistema capitalista tem sido aprofundada pelos governantes dos países mais ricos que preferem garantir maiores juros aos bancos e maiores lucros às grandes empresas às custas do empobrecimento das populações trabalhadoras. Este é o impasse político que está em causa, nos Estados Unidos e na Europa. 

O movimento sindical português, que se destacou na Revolução dos Cravos em 1974 pelas grandes conquistas no âmbito dos direitos no trabalho, cada dia que passa fortalece a sua função no despertar da consciência popular de que o povo organizado deverá lutar por um caminho que garanta o Estado Social sem os ônus da crise do sistema financeiro. E cada setor da produção, nesta linha, apresenta as suas reivindicações que se somam em um projeto alternativo de governo contrário ao que a Troika com o FMI propõem. E as forças partidárias de esquerda buscam a unidade para definirem um Governo capaz de impedir a destruição Estado independente e encetar o seu necessário desenvolvimento.

Esta conduta unitária e de responsabilidade pela ação governativa consolida as formas de participação social a partir do profundo conhecimento do papel do trabalho e da produção nacional como eixo prioritário dos investimentos, e não as opções elitistas de uma super- estrutura financeira agarrada como classe ao poder. Várias vozes, de origem ideológicas diferentes, têm expressado opiniões que convergem para o caminho de luta proposto pelos sindicatos, integrando setores internos da sociedade portuguesa e atraindo a solidariedade dos demais países da Europa.

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, padre Jardim Moreira, afirma que, pela primeira vez, há casos de famílias com índices de rendimento negativos. Estas situações chegam às suas mãos enviadas pela Segurança Social. Em declarações à mídia em Portugal (23/11/12) refere que as famílias não têm dinheiro para pagar a renda, para comer ou para as restantes despesas básicas. “Esta gente tem que viver de uma economia paralela ou subterrânea, o que leva as famílias a ter todo um outro tipo de forma para angariar o sustento para poder sobreviver”, explica. A diferença entre pobres e ricos em Portugal é já uma vergonha. “Estou muito triste por ver um retrocesso na dignidade de mais de 2 milhões de portugueses e ver que a diferença entre ricos e pobres tem aumentado de forma desavergonhada neste país”, sublinha. 

Manuel Durão Barroso, atual presidente da Comissão Europeia, revela a grande preocupação que os grandes da UE têm com a "emergência social de Portugal". As manifestações, conduzidas pelo movimento sindical, se sucedem quase diariamente à frente do Parlamento e Ministérios protestando contra as decisões que destroem a autonomia nacional reconquistada com a Revolução de Abril depois de meio século de ditadura e miséria. 

As várias tendências partidárias de esquerda, incluindo a base do Partido Socialista que se sente órfã devido aos compromissos que os seus dirigentes assumiram com a direita europeia, retomam a consciência de luta que experimentaram na defesa da produção nacional e organização do trabalho a partir de 1974 que elevou o nível de vida dos trabalhadores e desenvolveu os setores sociais que proporcionaram a integração de todo o povo nos sistemas de saúde, educação e segurança social do Estado. A vitória alcançada por Portugal com a Revolução de Abril, que encerrou a política colonialista que oprimia vários países africanos além de promover o desenvolvimento nacional, atraiu a solidariedade de outros povos na Europa e no mundo, o que hoje começa a ressurgir entre categorias de trabalho que fazem greves e pronunciamentos nos seus respectivos países onde sofrem o esbulho levado pelo FMI a serviço da UE.

As farmácias de todo o país aderiram a uma campanha de Luto diante da ameaça de encerramento de 600 farmácias para as quais tornou-se insustentável a situação financeira que já vinha sendo prejudicada pela má gestão praticada pelos governantes desde 2010 quando caiu o valor das vendas e o Estado poupou 603 milhões de euros em medicamentos nas farmácias conduzindo-as ao colapso pelo endividamento.

Situação semelhante sofre o pequeno e médio comercio sacrificado pelo favorecimento nacional às grandes superfícies criadas por multinacionais em todo o território português e beneficiadas pelo traçado de uma rede de grandes estradas por onde são escoados os produtos vindos dos países ricos da Europa. O Primeiro Ministro teve a infeliz ideia de dizer que há "excesso de empresas comerciais", o que revela a análise superficial e meramente visual que os governantes fazem das relações economico-sociais existentes na sociedade portuguesa. Com a visão modernista implantada pela UE valoriza os grandes supermercados e centros comerciais que não correspondem às necessidades reais e ao gosto popular.

Manifestaram-se os "feirantes" que compõem os parques de diversões que tanto estão nas grandes cidades como nas aldeias, afirmando que o IVA que era de 6% passou para 23% impossibilitando o seu trabalho em todo o país. Alegam que são desprezados pelo Governo e que então não devem pagar impostos. 

O repúdio às imposições da Troika - protetora das altas finanças e inimiga do Estado Social - generalizou-se quando os cortes orçamentais exigidos às escolas secundárias revelou que o objetivo será cobrar taxas mesmo no ensino que agora é obrigatório e gratuito. A visão de um futuro miserável traçado para a população que ainda está lembrada que conquistou com a Revolução dos Cravos o salário mínimo nacional e os direitos trabalhistas, incita a um radicalismo capaz de guardar os Cravos mas reavivar a Revolução. A fama de povo pacífico começa a incomodar uma juventude que perde a perspectiva da construção de uma vida equilibrada.

O antigo ministro das Finanças Silva Lopes acusa a Alemanha de impor as suas políticas a Portugal e a outros países europeus, o que considera ser uma asneira monstruosa. Silva Lopes admite que o euro venha a cair. Em entrevista à mídia, Silva Lopes dá como exemplo o impasse que está a marcar as negociações no Conselho Europeu para defender que Berlim está a cometer uma "asneira monstruosa que vai levar Portugal e a Europa em geral à desgraça."

“Eles não quiseram expandir a procura interna, não quiseram expandir o consumo, quiseram travar os salários, não aumentaram os gastos do Estado, e a única coisa que eles quiseram foi aumentar as exportações. Eles aí são muito bons”, afirma.

“Querem impor essa política aos outros países, e, portanto, isto acaba na desgraça. Nós vamos na enxurrada. Somos os primeiros, aliás”, acrescenta. O resultado final poderá ser o fim da moeda única. “Eu admito que o euro não vai poder funcionar com estas regras alemãs”, até porque “o que os alemães fazem é uma asneira monstruosa”. “Admito que o euro, a prazo, se possa partir”, remata.

O atual Governo de Portugal, submisso à Troika, recebeu da UE 7 bilhões de euros dos quais entregou 4 bi aos Bancos e conservou 3 bi para "garantir novos empréstimos ao setor financeiro se necessário". Os juros de tal empréstimo, determinado pelo FMI, será pago pela população que sofrerá um corte de 3 bilhões no orçamento anual do Estado. Visivelmente repete-se em Portugal o empobrecimento provocado anteriormente na América Latina pela política financeira do FMI e faz recordar a exploração colonialista que levou as nações africanas à miséria .

*Zilayh Branco é socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho