domingo, 28 de janeiro de 2018

Lula é o expoente da eleição presidencial

Zillah Branco *

Esta é a conclusão do "julgamento" do, ex e sempre, Presidente dos brasileiros quando houver liberdade de escolha popular no Brasil. Lamento pelos dignos juristas que, no mundo inteiro no dia 23/01/18, assistiram à tragédia que enterrou o sistema judicial brasileiro vitimado por um golpe meticuloso que minou o esqueleto do Estado além de colocar farsantes nas funções políticas dominantes no governo.


"Lula voltará!", é o brado mundial das pessoas que lutam continuamente pela democracia e o respeito pelos direitos e a dignidade humanas. É um grito que vem da alma, acompanhado de lágrimas pelo sofrimento de um símbolo da soberania nacional que deu e seguirá dando a sua vida pela libertação do Brasil, que continuará estimulando a luta em defesa dos oprimidos em todo o mundo. É o eco que a história repete através dos 500 anos de colonização e escravidão que forja consciências na população lutadora produzindo novos heróis para a defesa da unidade do povo, da nação, da América Latina. Assisti ao mesmo fenomeno no Chile, de Allende, e no Portugal de Abril, de Vasco Gonçalves. Tal como no Brasil surgiram os arautos da "ameaça de guerra civil", a direita contratou terroristas vestidos de povo e promoveu desordens, o medo da burguesia à verdadeira democracia alastrou-se com as exibições da falsa origem dos conflitos.

O sistema está em crise institucional enquanto o dinheiro voa alimentando um mercado de quinquilharias e drogas para não financiar a saúde, a educação, a previdência social, a ciência, o ambiente. Trump, Presidente dos Estados Unidos, é criticado pelos seus concidadãos por exibir a imagem da mediocridade e da desonestidade nos quatro cantos do mundo. E ele o faz acintosamente, por saber que é a imagem que corresponde ao quadro político sustentado pelo capital.

Antes usavam as armas e desgastaram os militares que se prestavam à triste figura de impor ditaduras. Agora usam as leis, eternamente interpretadas pela elite, e corromperam as instituições jurídicas cujas carreiras se perpetuam como as dos antigos monarcas. Resta a dignidade de cada um, e a coragem de contestar. Começamos do zero neste mundo político de escombros. Daí a vitória de Lula, que semeou consciências, que despertou associações de luta popular para onde convergem intelectuais honrados, gente que recusa a destruição das conquistas institucionais em séculos de luta.

A direita conservadora vai-se reduzindo e buscando vestir-se de uma democracia "menos agreste" para os seus interesses de elite, uma democracia que se case com os seus privilégios e as suas idiosincrazias culturais. Reconhece que o povo sofre e multiplica as "sopas dos pobres" e as campanhas "caridosas". Toca o sino da matriz quando os acidentes climáticos desalojam populações, queimam propriedades, provocam mortes. São os primeiros a clamarem pela salvação e os últimos a enfrentarem as responsabilidades por terem desprotegido as florestas onde cultivam eucaliptos para suas empresas de celulose ou por terem deixado a limpeza das suas terras por conta dos velhotes que são uma espécie de zeladores sem salário. São os arautos da provável "guerra civil" se houver a vitória popular.

Ilustres intelectuais chamam a atenção para o "perigo" de termos o povo revoltado. Alguns chegam a louvar o sistema judicial que "cumpriu a sua função" condenando, sem provas, o herói nacional! Preferem culpabilizar alguma "esquerda inexperiente" para fazer valer a cautela e o caldo de galinha que aquece a burguesia e alguns cérebros bem pagos que até leram os clássicos do pensamento revolucionário. E culpam o país pela violência, o racismo e o sexismo, como uma característica congênita, sem revelar que tais conflitos sempre foram criados para manter a elite no poder em todo o mundo.

O medo ao "povo que pensa e exige" tira o sono a muita gente que passa a vida jogando dados com hipóteses políticas alternativas. Não percebem que o mundo mudou, que Trump faz papel de idiota para receber financiamentos de última hora, que Rajoy assume um poder fascista para impedir que os que lutam pela independência possam tê-la na Cataluña, que a UE tenta construir sua base de apoio longe do tradicional Império, que a consciência e a ação das massas é imparável.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O falso desenvolvimento sem Direitos Humanos



O problema principal do Brasil é ter muitas riquezas naturais que despertam a cobiça dos bandidos e dos políticos menos dotados de inteligência natural e de sensibilidade humana. Desde a colonização o "pau-brasil", madeira nobre, atraiu a atenção e a cobiça de vários países europeus que concorreram com Portugal. Os Estados Unidos, com o falso pretexto de defenderem a independência brasileira ameaçada pela neocolonização promovida pela Inglaterra na primeira metade do século 20, assumiram a dinâmica da produção de energia elétrica e gás com empresas privadas e levaram o Estado a proibir a investigação da existência de petróleo no território nacional para que não se tornasse concorrente na América.

Ha 500 anos o Brasil atrai cobiças de todos os lados do planeta que investem na extração das riquesas naturais sem que sejam criadas empresas estatais (Getúlio criou-as e matou-se para não continuar uma luta contra o império norte-americano). O produto bruto deixa a população marginalizada, sem a sua capacitação para a indústria transformadora. A elite dominante no Brasil, que serve de intermediária para a invasão estrangeira, promove alguma modernização na superfície social para o seu próprio conforto, e da sua classe, mas impede que a grande massa de trabalhadores, à quem interessa afirmar a soberania nacional, usufrua dos benefícios da modernização da pátria.

Para rompermos este domínio de sucessivos "donos" do Brasil visto como um "depósito de riquezas naturais", urge reconhecer e defender que a maior riqueza é o povo, que não pode ser traído e que garante, com o seu trabalho e talento, o desenvolvimento econômico da nação com soberania.

Queremos um governo capaz de impor como meta do desenvolvimento nacional a elevação do nível de vida e de formação dos mais de duzentos milhões de brasileiros para usufruirem do patrimônio existente, sem cair na atração histérica do "mercado" com o seu modelo de existência dominado por futilidades e venenos.

Queremos governantes capazes de impor o respeito pela soberania da pátria brasileira, e de gerir o aproveitamento das nossas riquezas em proveito dos cidadãos que constituem a força de trabalho e o talento para transformar os produtos naturais em elementos de dinamização da ciência, da técnica e da indústria nacionais.

Quando pensarmos nos Direitos Humanos antes de almejar o mercado (chamado livre) que impõe o guilhão das elites financeiras, estaremos em condições de abrir o caminho para o real desenvolvimento das forças produtivas e o aproveitamento dos talentos brasileiros na consolidação da soberania brasileira.

O exemplo da vitória popular existe em Cuba, dentro da América Latina, que tem em comum com os demais países, como o Brasil, a herança colonial, a escravidão de africanos e indígenas, o subdesenvolvimento que mantém o povo asfixiado para favorecer elites exploradoras, a cobiça do estrangeiro invasor e as oligarquias subservientes.

A pequena ilha de Cuba, tornada importante nação, enfrentou a luta pelo desenvolvimento das suas forças produtivas e, apesar do isolamento imposto pelos Estados Unidos e paises seus subordinados durante quase 60 anos, alcançou índices de desenvolvimento socioeconômicos que faltam às nações mais ricas: menor mortalidade infantil, extinguiu o analfabetismo, criou o atendimento gratúito à saúde, a formação escolar universal, a administração a partir dos bairros com participação cidadã em todos os níveis até o Conselho de Estado. A formação de milhares de médicos permitiu diversificar  em institutos especializados uma medicina socialista que supera os limites da comercialização capitalista. Daí surgem investigações científicas que beneficiam a população corrigindo hábitos alimentares inadequados e dificuldades na formação de crianças especiais, alem de oferecer solidariedade a outros povos vitimados por catástrofes.

O investimento na formação do povo abre caminho para a superação das raizes do atraso, que condena milhões de pessoas à miséria, e para a construção do desenvolvimento econômico nacional. Da investigação científica, Cuba criou o caminho para a produção no campo da biotecnologia, fundamental para modernizar a agricultura e a extração de petróleo assim como o aproveitamento de outros minerais. E assim, a pequena ilha consolidou a semente da sua resistência aos sucessivos atos de bandidagem do império do capital.

Nenhum país no mundo pode afirmar, como Cuba, que no seu território não existe nem uma criança abandonada nas ruas, nenhuma criança esfomeada, nenhuma pessoa doente sem tratamento, nenhum idoso sem apoio social, nenhum cidadão sem emprego ou pensão de sobrevivência. Ali não ocorrem os crimes de tráfico de pessoas, ou de órgãos, nem mesmo o comércio sexual que nos demais países existe como condição de trabalho e de vida. É um exemplo da maior defesa dos Direitos Humanos que abre caminho para o desenvolvimento econômico e cultural.

O panorama que o nosso rico Brasil oferece com os altíssimos índices de assassinatos de jovens, de mulheres estrupadas, de crianças comercializadas, de crime organizado, de roubo de terras dos indígenas e dos quilombos herdeiros da escravidão, da exploração e martírio das famílias camponesas, da invasão estrangeira das terras produtivas e florestas nacionais, da promoção das drogas e perversões através dos meios de informação social, da privatização do ensino e da saúde, da transformação das cidades em campo de guerra sem segurança, de uma elite política corrompida para manter o povo na miséria, impõe a defesa dos Direitos Humanos para além da mera caridade pessoal que mal corrige os efeitos locais dos crimes. A única defesa eficaz dos Direitos Humanos é o combate às suas causas que se enraizam na miséria em que os ricos mantêm a maioria do povo para garantirem os seus privilégios de classe.


Zillah Branco

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A democracia e o ornitorrinco



É preciso clarificar o conceito de "democracia" dentro do sistema capitalista. Para melhor compreender o que significa, em termos sociais e econômicos a democracia capitalista reconhece os direitos humanos e garante os privilégios da classe dominante. Corresponde, no reino animal, ao estranho "ornitorrinco" que existe na Austrália e na Tasmânia. Tem uma pitada de cada interesse, por mais contraditórios que sejam.


O bichinho tem pelo, bico de pato, bota ovo e amamenta sem ter mamilos, chega a viver 17 anos se o protegerem. Assim é a social-democracia. O povo não pode tirar o olho de cima, para evitar que desapareça.

No planeta em que vivemos, por enquanto existem experiências na construção do sistema socialista - Cuba, China, Vietnam, Coreia do Norte e Laos - que conseguiram desenvolver os países com maior igualdade de direitos sociais para todos os cidadãos, sempre condicionados pelo capitalismo no relacionamento externo. E convivem com os "ornitorrincos" como podem, improvisando soluções que permitem o equilíbrio, sempre com otimismo sem deixar ser realistas.

A elite imperialista que controla o sistema através do capital e das ações militares prossegue a sua política de bloqueios e de intimidação e, como simboliza o presidente Trump, ameaça com "fúria e fogo" para travar as iniciativas de solidariedade e de apoio às nações mais frágeis. No entanto, as crescentes ameaças revelam uma crise sem precedentes da política financeira que está centralizada nos bancos, desestabilizam os países conservadores do capitalismo social-democrata onde a conscientização dos trabalhadores se manifesta contra os privilégios impeditivos da verdadeira igualdade de direitos. Surgem formas progressistas que buscam atender democraticamente às necessidades populares ao contrário das exigências das elites enfraquecendo-as apesar das ameaças.

Com o fim do bloqueio contra Cuba, declarado "inútil" pelo ex-presidente Obama, 75 paises entraram em contacto com a Ilha revolucionária para estabelecer laços comerciais e de troca de conhecimentos. Nas áreas científicas e técnicas, no inicio de 2018, a União Europeia assinou em Cuba um protocolo de parceria. Isto demonstra que existem características multipolares dentro do sistema capitalista que pretendem um convívio fraterno com as experiências socialistas.

As nações mais pobres querem aprender como Cuba superou o subdesenvolvimento herdado de uma colonização expoliadora que foi a causadora das suas próprias misérias. Mesmo as nações mais ricas do continente Europeu precisam conhecer o caminho que Cuba seguiu para levar toda a população a frequentar escolas formando a mão de obra necessária para desenvolver a educação e mais a produção agrícola e industrial em todo o país, e formar os quadros universitários que assumiram as funções no Estado que alcançou um nível de organização invejável. Têm de reconhecer, como demonstram os estudos da ONU, que Cuba está à frente de nações ricas na defesa do seu povo, pondo fim à fome, ao analfabetismo, impulsionando a criatividade da sua gente na produção industrial e no aproveitamento dos produtos naturais para a alimentação, na elevação do nível da saúde e da formação cultural, na garantia dos recursos de habitação e emprego para todos.

Enquanto os defensores do capital multiplicam as imagens de riqueza com alta tecnologia, muitas luzes e som alto, as pessoas normais se dão conta de que lhes falta sossego, tranquilidade para apreciar a beleza natural e a arte. Começam a dar atenção ao ser humano, inclusive ele próprio, e decidem conhecer a simplicidade cubana onde encontram um produto, escasso no "mundo desenvolvido", que é a fraternidade e a disposição de lutar pela pátri e por uma democracia sem contradições de classe.

O território brasileiro é bastante rico em terras, minérios, gado, além de ter mão de obra competente para transformar os produtos naturais em industriais de boa qualidade devido aos conhecimentos tecnológicos e científicos que concorrem com os dos países mais desenvolvidos. E, não se pode esquecer, este patrimônio pertence a todos os brasileiros, pobres e ricos. O problema nacional não está na capacidade de desenvolvimento mas sim na cobiça de alguns que trabalham no sentido da desnacionalização das empresas e da associação com estrangeiros ligados ao capital financeiro e às multinacionais para impor o agro-negócio que polui o mundo com tóxicos e escravisa os trabalhadores sem qualquer princípio humanista.

No sentido de se definir um projeto de desenvolvimento será necessário superar a dinâmica existente que aponta para uma "regressão colonial", como diz o professor Luiz Bernardo Pericás (artigo "Desnacionalização e Violência", Jan/2018, blog Boitempo).

"Não há nenhum projeto para levar o Brasil a superar seus dilemas históricos e fazer avançar um processo de desenvolvimento autônomo e soberano, com a elevação material, intelectual e cultural da maior parte da população. Pelo contrário, temos uma dinâmica econômica baseada na desindustrialização, na desnacionalização e na privatização, no fim dos assentamentos rurais, na reconstrução da estrutura fundiária, na desestatização e no aumento dos oligopólios e transnacionais em nosso território".


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Feliz Brasil Novo !

FeliFeliz Brasil Novo!

Manuela d'Avila surge como uma lufada de ar puro acima do hábito repetitivo de velhos discursos. Atrai pela serenidade e firmeza com que enfrenta o desafio de abrir um panorama novo para varrer o lixo criado pelo golpe e toda a execrável corja que, atrás de Temer, defendeu o seu preço e o seu posto no Estado devastado pela indignidade dos corruptos e pela sanha de um "cupinzeiro" que se tornou "dono dos destinos dos brasileiros".

É preciso mesmo ter muita firmeza e serenidade para, com o apoio do povo trabalhador, fazer uma faxina completa que liquide a praga imperial. Ela vem de terras que produziram destacados lutadores: Getúlio, conhecido como "pai dos pobres" e que morreu depois de nacionalizar as empresas de energia, Prestes, o "Cavaleiro da Esperança" que desvendou a vida do povo brasileiro do sul ao norte, e outros que também deram a vida pela democracia no país dos coronéis.

Sem qualquer presunção Manu conversa com profissionais respeitados que levantam problemas econômicos, sociais e políticos sem amarras às viciadas forças políticas nacionais ou internacionais; consulta essa juventude inovadora que tomou para si a tarefa de defender a educação com a valentia necessária; debate com os movimentos sindicais as questões trabalhistas e com as várias associações que combatem os preconceitos contra as mulheres, os negros, as etnias que povoam o Brasil, os que defendem a própria independência sexual, enfim, todos os que levantam a cabeça para afirmar os seus direitos de cidadãos; acompanha os trabalhos da Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, estuda o longo caminho do MST em defesa da reforma agrária e da formação técnica e cultural dos que vivem esquecidos nos campos; visita o Maranhão tornado livre da família ex-proprietária do governo, que retardou o seu desenvolvimento agora plenamente visível; visita indústrias onde ouve as questões apresentadas pelos seus trabalhadores; enfim, estuda o Brasil a partir do conhecimento dos estudiosos e da gente brasileira que constrói de baixo para cima esta imensa riqueza natural e cultural que está sendo esbanjada pelos "vende-pátria" desonrados.

Manuela está fazendo um curso intensivo da realidade brasileira porque, como diz,  "mudar o sistema político sem debater com o povo, é golpe". Quer aprofundar o conhecimento das carências que mantêm um país, com o enorme (e cobiçado) patrimônio natural, científico e artístico, na condição de subdesenvolvimento periférico.

Esta é a base para traçar um sistema político que garanta uma política pública de desenvolvimento social e econômico. Esta é a causa que incentiva a unidade de todas as tendências de esquerda a se integrarem, dos que defendem os oprimidos contra a exploração, dos que sentem a responsabilidade por criar uma sociedade melhor para os seus filhos e netos, dos que ainda acreditam ser possível um futuro digno para os povos.

O exemplo de Cuba que, para aguentar 60 anos de bloqueio do sistema capitalista mundial e superar o atraso (imposto pelos Estados Unidos e herdado da sua condição de subdesenvolvimento para enriquecer milionários escravocratas), construiu uma nação livre e soberana onde não há analfabetismo e nem crianças com fome. A sequência da sua história inicial pode ser sintetizada nas grandes linhas no programa nacional seguido pelo governo revolucionário para criar bases do desenvolvimento democrático: 1959 - Ano da Libertação; 1960 - Ano da Reforma Agrária; 1961 - Ano da Educação; 1962 - Ano da Planificação; 1963 - Ano da Organização; 1964 - Ano da Economia.

Apesar da demolição dos setores sociais do Estado no Brasil, que com a eleição de Lula criou serviços públicos que estenderam à toda a sociedade equipamentos escolares e de centros de saúde, criando empregos e distribuindo Bolsas Família, a situação nacional aqui tem muito menos problemas que Cuba enfrentou. Pelo menos neste ano de eleições.

Se o povo escolher quem merece a sua participação entusiástica na retomada da democracia, um novo Brasil poderá ser construído.

Zillah Branco Brasil Novo!

Manuela d'Avila surge como uma lufada de ar puro acima do hábito repetitivo de velhos discursos. Atrai pela serenidade e firmeza com que enfrenta o desafio de abrir um panorama novo para varrer o lixo criado pelo golpe e toda a execrável corja que, atrás de Temer, defendeu o seu preço e o seu posto no Estado devastado pela indignidade dos corruptos e pela sanha de um "cupinzeiro" que se tornou "dono dos destinos dos brasileiros".

É preciso mesmo ter muita firmeza e serenidade para, com o apoio do povo trabalhador, fazer uma faxina completa que liquide a praga imperial. Ela vem de terras que produziram destacados lutadores: Getúlio, conhecido como "pai dos pobres" e que morreu depois de nacionalizar as empresas de energia, Prestes, o "Cavaleiro da Esperança" que desvendou a vida do povo brasileiro do sul ao norte, e outros que também deram a vida pela democracia no país dos coronéis.

Sem qualquer presunção Manu conversa com profissionais respeitados que levantam problemas econômicos, sociais e políticos sem amarras às viciadas forças políticas nacionais ou internacionais; consulta essa juventude inovadora que tomou para si a tarefa de defender a educação com a valentia necessária; debate com os movimentos sindicais as questões trabalhistas e com as várias associações que combatem os preconceitos contra as mulheres, os negros, as etnias que povoam o Brasil, os que defendem a própria independência sexual, enfim, todos os que levantam a cabeça para afirmar os seus direitos de cidadãos; acompanha os trabalhos da Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, estuda o longo caminho do MST em defesa da reforma agrária e da formação técnica e cultural dos que vivem esquecidos nos campos; visita o Maranhão tornado livre da família ex-proprietária do governo, que retardou o seu desenvolvimento agora plenamente visível; visita indústrias onde ouve as questões apresentadas pelos seus trabalhadores; enfim, estuda o Brasil a partir do conhecimento dos estudiosos e da gente brasileira que constrói de baixo para cima esta imensa riqueza natural e cultural que está sendo esbanjada pelos "vende-pátria" desonrados.

Manuela está fazendo um curso intensivo da realidade brasileira porque, como diz,  "mudar o sistema político sem debater com o povo, é golpe". Quer aprofundar o conhecimento das carências que mantêm um país, com o enorme (e cobiçado) patrimônio natural, científico e artístico, na condição de subdesenvolvimento periférico.

Esta é a base para traçar um sistema político que garanta uma política pública de desenvolvimento social e econômico. Esta é a causa que incentiva a unidade de todas as tendências de esquerda a se integrarem, dos que defendem os oprimidos contra a exploração, dos que sentem a responsabilidade por criar uma sociedade melhor para os seus filhos e netos, dos que ainda acreditam ser possível um futuro digno para os povos.

O exemplo de Cuba que, para aguentar 60 anos de bloqueio do sistema capitalista mundial e superar o atraso (imposto pelos Estados Unidos e herdado da sua condição de subdesenvolvimento para enriquecer milionários escravocratas), construiu uma nação livre e soberana onde não há analfabetismo e nem crianças com fome. A sequência da sua história inicial pode ser sintetizada nas grandes linhas no programa nacional seguido pelo governo revolucionário para criar bases do desenvolvimento democrático: 1959 - Ano da Libertação; 1960 - Ano da Reforma Agrária; 1961 - Ano da Educação; 1962 - Ano da Planificação; 1963 - Ano da Organização; 1964 - Ano da Economia.

Apesar da demolição dos setores sociais do Estado no Brasil, que com a eleição de Lula criou serviços públicos que estenderam à toda a sociedade equipamentos escolares e de centros de saúde, criando empregos e distribuindo Bolsas Família, a situação nacional aqui tem muito menos problemas que Cuba enfrentou. Pelo menos neste ano de eleições.

Se o povo escolher quem merece a sua participação entusiástica na retomada da democracia, um novo Brasil poderá ser construído.

Zillah Branco
Feliz Brasil Novo!

Manuela d'Avila surge como uma lufada de ar puro acima do hábito repetitivo de velhos discursos. Atrai pela serenidade e firmeza com que enfrenta o desafio de abrir um panorama novo para varrer o lixo criado pelo golpe e toda a execrável corja que, atrás de Temer, defendeu o seu preço e o seu posto no Estado devastado pela indignidade dos corruptos e pela sanha de um "cupinzeiro" que se tornou "dono dos destinos dos brasileiros".

É preciso mesmo ter muita firmeza e serenidade para, com o apoio do povo trabalhador, fazer uma faxina completa que liquide a praga imperial. Ela vem de terras que produziram destacados lutadores: Getúlio, conhecido como "pai dos pobres" e que morreu depois de nacionalizar as empresas de energia, Prestes, o "Cavaleiro da Esperança" que desvendou a vida do povo brasileiro do sul ao norte, e outros que também deram a vida pela democracia no país dos coronéis.

Sem qualquer presunção Manu conversa com profissionais respeitados que levantam problemas econômicos, sociais e políticos sem amarras às viciadas forças políticas nacionais ou internacionais; consulta essa juventude inovadora que tomou para si a tarefa de defender a educação com a valentia necessária; debate com os movimentos sindicais as questões trabalhistas e com as várias associações que combatem os preconceitos contra as mulheres, os negros, as etnias que povoam o Brasil, os que defendem a própria independência sexual, enfim, todos os que levantam a cabeça para afirmar os seus direitos de cidadãos; acompanha os trabalhos da Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, estuda o longo caminho do MST em defesa da reforma agrária e da formação técnica e cultural dos que vivem esquecidos nos campos; visita o Maranhão tornado livre da família ex-proprietária do governo, que retardou o seu desenvolvimento agora plenamente visível; visita indústrias onde ouve as questões apresentadas pelos seus trabalhadores; enfim, estuda o Brasil a partir do conhecimento dos estudiosos e da gente brasileira que constrói de baixo para cima esta imensa riqueza natural e cultural que está sendo esbanjada pelos "vende-pátria" desonrados.

Manuela está fazendo um curso intensivo da realidade brasileira porque, como diz,  "mudar o sistema político sem debater com o povo, é golpe". Quer aprofundar o conhecimento das carências que mantêm um país, com o enorme (e cobiçado) patrimônio natural, científico e artístico, na condição de subdesenvolvimento periférico.

Esta é a base para traçar um sistema político que garanta uma política pública de desenvolvimento social e econômico. Esta é a causa que incentiva a unidade de todas as tendências de esquerda a se integrarem, dos que defendem os oprimidos contra a exploração, dos que sentem a responsabilidade por criar uma sociedade melhor para os seus filhos e netos, dos que ainda acreditam ser possível um futuro digno para os povos.

O exemplo de Cuba que, para aguentar 60 anos de bloqueio do sistema capitalista mundial e superar o atraso (imposto pelos Estados Unidos e herdado da sua condição de subdesenvolvimento para enriquecer milionários escravocratas), construiu uma nação livre e soberana onde não há analfabetismo e nem crianças com fome. A sequência da sua história inicial pode ser sintetizada nas grandes linhas no programa nacional seguido pelo governo revolucionário para criar bases do desenvolvimento democrático: 1959 - Ano da Libertação; 1960 - Ano da Reforma Agrária; 1961 - Ano da Educação; 1962 - Ano da Planificação; 1963 - Ano da Organização; 1964 - Ano da Economia.

Apesar da demolição dos setores sociais do Estado no Brasil, que com a eleição de Lula criou serviços públicos que estenderam à toda a sociedade equipamentos escolares e de centros de saúde, criando empregos e distribuindo Bolsas Família, a situação nacional aqui tem muito menos problemas que Cuba enfrentou. Pelo menos neste ano de eleições.

Se o povo escolher quem merece a sua participação entusiástica na retomada da democracia, um novo Brasil poderá ser construído.

Zillah Branco

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Os dilemas da luta


Este artigo foi peblicado no Portal Vermelho
e no blog Foicebook

Escrever sobre as conquistas democráticas e revolucionárias de um processo de luta, nem sempre permite o reconhecimento das contradições e dos dilemas enfrentados pelos seus construtores. Tais contradições abrem caminhos que podem, ou não, serem opostos à meta fundamental que define o caminho na sua essência "revolucionária" ou "reformista".

O conhecimento aprofundado da realidade vivida pelo povo, desde as camadas mais pobres até as mais abonadas, detectando as variações intermédias que definem os estratos sociais pelas suas carências, ambições e propriedades dão, pelos registros da sua importância numérica e pelas funções sociais e econômicas que exercem, a magnitude das questões políticas que representam. Não basta, a quem analisa a população, classificar em termos gerais e tradicionais a dependência de uns, a capacidade de outros, a exploração da elite. Além da posição de cada estrato social dentro da escala de prestação de serviços, a remuneração pelo trabalhos, as propriedades adquiridas, assim como a escala do usofruto dos beneficios oferecidos pelo Estado e o acesso aos privilégios de classe dominante, que geram uma determinada consciência social, existe o peso cultural com que foram marcados os princípios morais e éticos pela história nacional e pela imposição de valores pela elite governante.

O livro clarificador da "História Agrária da Revolução Cubana" (Alameda Casa Editora, 2016), extraido da tese que Joana Salem Vasconcelos apresentou à FAPESP, indica, ainda na sua capa, "0s dilemas do socialismo na periferia". O leitor mergulha em um relato da história épica daquele povo que, liderado pelo grupo revolucionário que desceu a Sierra Maestra conduzido por Fidel Castro que derrotou a ditadura de Baptista apoiado pelos Estados Unidos, e transformou a pequena ilha caribenha explorada como colónia do grande império em uma nação socialista independente. Mas o relato não é apresentado como uma ficção de êxitos e vitórias sucessivas. Ao contrário, e aí está o seu maior valor, desvenda os dilemas enfrentados e debatidos árduamente pelos dirigentes revolucionários cubanos com o apoio de inúmeros intelectuais estrangeiros e nacionais que participavam de organismos internacionais como a CEPAL, o Banco Mundial e universidades de vários países.

Diante do cerco imperialista, - que impôs o "bloqueio" econômico e político internacional por quase 60 anos para impedir o desenvolvimento de Cuba - a tarefa de superar o subdesenvolvimento de um país periférico e criar as bases para uma estrutura socialista que extinguiu os privilégios dos mais ricos e garantiu à toda a população o direito à habitação, à alimentação, à saúde, aos níveis fundamentais do ensino escolar, ao emprego, foi possível graças à solidariedade do bloco de nações socialistas e aos que ultrapassavam a fiscalização imperialista e conseguiam levar o seu apoio ao povo cubano. O resultado está à vista, um país sem analfabetismo e com índices de proteção à saúde mais elevados que em muitos países capitalistas considerados ricos, com um serviço médico que tem ajudado muitos outros povos a enfrentarem carências dos seus sistemas ou as catástrofes causadas pelo clima.

Os problemas enfrentados por Cuba para superar os seus problemas de subdesenvolvimento, de país periférico em relação ao centro capitalista que domina o mercado e detém o poder financeiro e o militar, tem muita semelhança com a de todas as nações latino-americanas, inclusive o Brasil apesar do seu tamanho e de ter vivido experiências democráticas que o destacaram no conjunto internacional representado no G20, no BRICS, no MERCOSUL, na UNASUL, na CELAC, inspiraram a ONU na divulgação da Bolsa Família para o combate mundial à fome.

O que explica o retrocesso golpista que hoje é imposto pelo imperialismo no Brasil - através dos políticos e profissionais com elevados cargos públicos que assumiram a função subalterna de traidores da pátria e corruptos - foi a escolha de caminhos inseguros e dúbios nas alianças governamentais que não respeitaram os princípios éticos de um programa democrático e de independência nacional, que esteve na base das propostas de desenvolvimento social, econômico e político de todos os brasileiros. Foi dada atenção ao desenvolvimento material do país, ao seu crescimento financeiro, ao seu prestígio no sistema capitalista global, mas não ao povo brasileiro que deve ocupar a função motora do desenvolvimento e de proteção do patrimônio nacional.

Foram muitas as iniciativas de professores universitários e de outros níveis escolares, assim como de profissionais de outras carreiras (advogados, médicos, enfermeiros, engenheiros, cineastas, músicos, e tantas outras áreas do conhecimento científico e artistico) de levarem às populações que vivem à margem da cidadania formas de apoio para os incluirem na sociedade e abrirem caminhos para o desenvolvimento daqueles brasileiros que estavam esquecidos nos programas políticos. Podemos dizer que houve participação efetiva dos autores de tais iniciativas, mas não houve tempo para que os brasileiros mais desprovidos de recursos chegassem a participar da democratização anunciada. Faltaram políticas complementares para criar uma estrutura que fiscalizasse e criasse os caminhos para transformar os que estavam excluidos em trabalhadores qualificados para desenvolver a indústria e a agricultura modernas. O golpe cortou este caminho emancipador, e antes dele, a ausência de uma reforma das instituições do Estado que abolisse o carater burguês dominante e o poder da burocracia, impeditivos da implantação da democracia de maneira plena.

A abertura ao poder financeiro internacional e ao agro-negócio, com a entrega de cargos e funções governamentais a funcionários de instituições estrangeiras, foi um dos principais fatores de anulação das políticas progressistas que os partidos e militantes de esquerda levavam à prática sem o apoio institucional. A aceitação governamental de um poder judiciário como poder paralelo e de uma mídia igualmente independente do programa nacional, foram contradições que impediram que os eleitos pelo povo pudessem efetivamente corresponder à confiança que lhes foi confiada por mais de 50 milhões de eleitores e de milhões de jovens adolescentes que refletiam a inovadora cultura democrática que o Brasil respirou a partir de 2003.

A consciência cidadã não se forma a partir de discursos ou da leitura de cartilhas. Ao contrário do pensamento preconceituoso dos conservadores, o trabalhador e sua família são inteligentes e  estão atentos à comprovação das promessas com a acuidade de quem tem fome de um alimento bom para a sua alma. Não aceitam falsificações e deslealdades, não aceitam jogos políticos como os que são praticados nos encontros formais entre elites. Os que pensam poder manipular as grandes massas populares que se apresentam nas ruas para um convívio animado com bandeiras e músicas, devem prever que a atração da ação coletiva sobre as populações não se prende a um compromisso político mas sim uma integração social. Não se pode confundir "participação social" com "presença massiva". Basta ver que o carnaval e os grandes jogos de futebol são mais mobilizadores que os comícios.

A longa luta pela reforma agrária dirigida há mais de duas décadas pelo Movimento dos Sem Terra tem demonstrado a capacidade de formar consciências de cidadania levando-os a exercitar uma vida democrática que organiza várias formas de produção e escolas para superar o analfabetismo e desvendar a história do Brasil e da América Latina. O conhecimento tem início nas condições em que vivem (e sobrevivem às perseguições violentas) para depois abordarem os fatos da história nacional e regional passada que explicam porque enfrentam as condições de dificuldade existentes. Então podem compreender as histórias dos países vizinhos e dos povos irmãos, assim como o de outros continentes de civilizações mais antigas ou de países mais ricos. É um exemplo de formação a ser utilizado para outros setores ainda marginalizados no Brasil.

Ao pensarmos na construção de um programa político capaz de dar origem a uma proposta governamental de restauração da democracia nacional não podemos deixar de considerar tudo o que o Brasil produziu com características progressistas como eixo fundamental. E devemos rever os erros cometidos, como alertas para serem evitadas as portas abertas ao domínio imperial.

Zillah Branco

Bibliografia:

História Agrária da Revolução Cubana - Joana Salem Vasconcelos - Alameda Casa Editora,2016

Oficina das Fundações: Perseu Abramo, Maurício Grabois, Leonel Brizola-Alberto Pasqualini
www.anitagaribaldi.com.br.  /. www.grabois.org.br