segunda-feira, 27 de março de 2017

O mau uso da palavra PAZ



O sistema capitalista, para não reconhecer a crise que o despedaça em frações nacionais vitimadas pela promoção irresponsável do individualismo, da competição à procura de lucro e do desprezo pela tendência humana à solidariedade fraterna, comemora o Tratado de Roma que há 60 anos combateu a guerra entre Alemanha e França.

Assim, dizem orgulhar-se da paz criada entre duas nações que se tornaram aliadas através do poder financeiro e militar. Assim ocultam  que, para fortalecer uma Europa rica, destruiram a URSS pela guerra fria, e através da NATO e seus bombardeios, a Líbia, o Egito, a Siria, o Iraque, a Jugoslávia, a Ucrânia, e vários povos do norte da África, para além de realizarem os programas terroristas dos Estados Unidos que semeiam discórdias internas em paises alheios, em todo o Oriente médio e norte europeu, em todo o mundo. A verdadeira Paz, que só existirá com a independência dos povos a caminho do próprio desenvolvimento, desapareceu até mesmo dos sonhos dos modernos governantes.

Os discursos são desonestos ao fazerem uso de termos esvaziados dos seus verdadeiros conteúdos éticos: democracia, solidariedade, estado social, respeito humano, direitos sociais, paz, soberania, independência, justiça social. Quem comemorou a queda da URSS provocada pela guerra fria que abriu caminho para as ações internacionais mais inexcrupulosas - corrupção, crimes acobertados oficialmente, banditismo generalizado, informações falsas, violações de compromissos oficiais, promoção de anti-cultura nos órgãos de comunicação social, etc - não é capaz de aceitar o direito da humanidade de optar por outro sistema sócio econômico. Impõe os seus interesses mesquinhos de elite privilegiada fazendo uso da mesma falta de excrupulos para iludir os seus seguidores. Instituiram a negação dos princípios éticos liminarmente.

Não é por acaso que um alto funcionário da União Europeia refere os países mais pobres da Europa como irresponsáveis e dissolutos, que usam os apoios financeiros "com mulheres e copos", como diria um inquisidor medieval ou calvinista fanático. Ele está preocupado em descobrir o caminho das suas moedas dentro dos limites da sua falsa moral, não o benefício social alcançado por um povo que constrói a sua independência. A sua imaginação viciosa não alcança para além do que vê na sua roda de amigos de elite. Que sabe êle da produção nacional? Da educação e da saúde social? Da vida dos trabalhadores em miséria?

Os trabalhadores que aguentam os programas de austeridade é que têm fundamentos éticos para criticar os devassos das instituições financeiras que usam pessoalmente os recursos de todo um povo e jogam e roubam o que deverá ser pago por quem trabalha duramente e vive em péssimas condições. Mas o calvinista inquisidor Presidente do Eurogrupo não tem discernimento para tanto.
Os seus valores são apenas os sonantes. Ética está fora do mercado.

Portugal, país pobre e honrado

Em Portugal, o golpe militar que derrubou a ditadura de Salazar/Marcelo Caetano em 1974 contou com duas intenções opostas: a de realizar a justiça social dando condições ao povo para criar as bases do desenvolvimento social que tornariam Portugal independente (tese da esquerda civil e militar) e a que pretendia substituir uma fórmula política esclerosada de ditadura por outra versão moderna idealizada pela Europa e Estados Unidos (tese da direita, do PSD e do PS e Internacional Socialista).

O PCP trabalhara clandestinamente, durante quarenta anos, junto aos trabalhadores rurais e urbanos de todo o país pela consciência do seu papel condutor na transformação nacional e os militares de esquerda apoiaram o Movimeno das Forças Armadas e o seu líder Coronel Vasco Gonçalves que foi Primeiro Ministro durante um ano e meio em que levou à prática as principais medidas soberanas: fim da guerra colonial e libertação das colonias; nacionalização da banca e instituições financeiras; criação do salário mínimo nacional e da legislação do trabalho; fim do latifúndio e Reforma Agrária através de Unidades Coletivas de Produção e Cooperativas geridas pelos trabalhadores sob supervisão do Estado que assumia as propriedades e garantia os contratos de trabalho; nacionalização das empresas de interesse do Estado; criação de sistemas nacionais de saúde, educação e segurança social.

Com a ameaça de guerra civil pela direita, o coronel Vasco Gonçalves foi substituido por Mário Soares que legislou para destruir todo o programa de esquerda. Restou a Constituição que fora assinada por todos os partidos, de esquerda e de direita (exceto o CDS) como unico traço jurídico do que fora a utopia popular e da esquerda comunista e democrática formada na luta contra 50 anos de ditadura.

Até 2016 os governos eleitos alteraram PS e PSD, ambos comprometidos com as políticas determinadas pela União Europeia que foi injectando financiamentos para que Portugal tivesse estradas suficientes e de qualidade para a circulação de mercadorias recebidas nos seus portos, e grandes superfíceis comerciais estrangeiras contruiram os seus armazens modernos que venceram facilmente o antigo comércio logista do país, agora só presente em pequenos centros urbanos. A produção de vinho foi reorganizada, também para serem criadas grandes empresas que absorvem as boas castas de pequenas produções. Muitas produções de uvas e de laranjas foram destruidas por serem inadequadas ao padrão comercial da CEE apesar de serem deliciosas.

Portugal assumia a posição de marginal à economia europeia e aceitava a condição de dependência que os ricos paises da Europa impuseram através dos investimentos que geraram uma dívida incomportável para o seu PIB (gerida por bancos nacionais e estrangeiros que desviaram grandes quantias para paraisos fiscais e corrupção de funcionários do Estado) e o controle da Troika que limitou ao mínimo as despesas com o desenvolvimento social. O ultimo Primeiro Ministro do PSD, Passos Coelho, recomendou à juventude formada em Portugal que emigrasse. Foi o que fizeram, levando o benefício da formação portuguesa para outros paises que os contrataram. Mas este foi também o caminho de milhares de desempregados e de tecnicos conceituados a quem mal pagavam no seu país. Foi desertificado o patrimônio construtor do desenvolvimento nacional.

Falsa riqueza desperta consciências

Diante da austeridade insuportável, da fome que levou o pais a ter que criar a distribuição de alimentos sob a forma de caridade que humilha a população trabalhadora, a subalimentação das crianças e idosos, os casos de suicídio e doenças agravados pela miséria, a população seguiu a liderança do PCP, dos Verdes, da Intersindical, do Bloco de Esquerda, de várias Associações democráticas e de esquerda, e encheu as ruas de protestos que abalaram algumas consciências até mesmo conservadoras. A eleição em 2016 alterou a composição das forças políticas do Parlamento elegendo uma maioria de esquerda. Apesar de o PSD ter obtido o maior número de votos porque se coligara com o CDS de direita, a maioria parlamentar indigitou o candidato do PS para Primeiro Ministro. Venceu a maioria de esquerda que fez a Revolução dos Cravos, dentro de uma Europa amordaçada.

Toda esta mudança foi proposta pelo Secretário Geral do PCP em diálogo com as demais forças políticas de esquerda para surpresa até mesmo do PS (ou da direita socialista eternamente anticomunista). Mas prevaleceu e encontrou uma nova camada socialista que recomendava ao PS que "fizesse a sua autocrítica" () e assumisse uma postura coerente com os princípios democráticos que diferiam dos da UE. A direita, demorou a aceitar a realidade, que o Poder Judiciário precisou comprovar como válida a opção do Parlamento onde foi constituida uma aliança da esquerda com o PS, deixando a direita como oposição. Os radicais da direita deram o nome de "geringonça" que combinava o que eles pensavam ser esquerda e direita.

A realidade é outra, mais profunda, que supõe a necessidade do PS de não se deixar engolir pela UE que está dominada pelos EU e vendida ao poder financeiro mundial em crise. Supõe, por outro lado a dialética que abre oportunidades a novas maneiras de ver o processo político que, tal como está, pode escorregar para o caos planetário. Muita gente percebe que a ganância impede o equilíbrio entre a classe trabalhadora e os empregadores que gostam de ser ricos, mas em uma sociedade equilibrada onde a elite inútil e esbanjadora não agrada a ninguém. É uma mentalidade mais objetiva e empreendedora, que conserva a ética como princípio no relacionamento humano.
O desafio para eles é tentar cumprir todos os compromissos com a esquerda, sem perder o apoio dos sociais democratas na UE. Não é fácil, mas para quem acredita na luta, não é impossivel.

Até agora a chamada "geringonça" tem sido uma aliança crítica porém cautelosa para dar tempo às mudanças que poderão ocorrer entre os conservadores, graças à dialética. Não se pode esquecer que a UE está em crise, que a Inglaterra se afastou da União Europeia, que o pagamento das dívidas têm levado os países à miséria e à perda da soberania (como foi o caso da Grécia), que o problema dos refugiados das guerras é crescente e ameaçador para o fraco equilíbrio social, que o corte aos orçamentos de serviços sociais agrava as tensões internas em todos os países e acentua as carências, que o aumento das grandes fortunas beneficiadas por tráfico de capitais mal fiscalizados levanta uma onda de justa indignação e a queda da credibilidade das instituições financeiras e de justiça nacionais na UE, que a eleição de Trump tornou inseguro o equilibrio entre a UE e os EU e ameaça a criação de um ambiente de paz mundial.

Paulo Portas, ex-Presidente do CDS, da direita radical, escolheu um nome (que lhe pareceu pejorativo) de "geringonça" para o que lhe parecia uma aliança entre um PS - da direita social democrata europeia - com a esquerda comunista somada aos Verdes, e ao Bloco de Esquerda (que reune ex-radicais de esquerda e dissidentes do PCP).

Acontece que o termo "geringonça" explica uma realidade muito comum a quem pensa, cria, luta e vence, sem recorrer aos financiamentos que impõem condições ultrajantes ou a teorias escritas em economês que poucos digerem. Corresponde à realidade de um país pobre, de rica história passada, que fez uma revolução de meta socialista em 1974 e construiu uma reforma agrária estudada e admirada internacionalmente, inclusive pela FAO, produzindo a Constituição Nacional mais avançada da Europa. Deixou uma população com consciência de classe, que foi traida pela direita (de vários partidos), a qual vendeu a Pátria por milhões de euros que voaram para não se sabe onde, deixando-a sem produção própria e curvada à vassalagem dos ricos paises que financiam boas estalagens para aqui gozarem férias com boa comida e muito vinho.

Este quadro transformou o próprio PS, sobretudo uma juventude honesta que ali cresceu valorizando os conceitos de socialismo, democracia, justiça social, e conhecendo o vigor da população no 25 de Abril e o sofrimento depois de traida e tornada vítima da dívida bancária cobrada pela UE. Não se sentiram diminuidos por participarem da "geringonça" que defende os trabalhadores que não deixam de lutar pelos seus direitos, os estudantes que exigem melhores condições de ensino, os idosos que reclamam o apoio da Previdência e um sistema de saúde para todos.

A "geringonça" funciona porque à esquerda existe ética e as palavras não falseiam o conteúdo para efeito eleitoral. Não há oportunismo como é hábito da direita gananciosa. Importante é a admiração desta fórmula por outros países para impedirem a eleição de fascistas nas próximas eleições.

Zillah Branco

O mau uso da palavra PAZ



O sistema capitalista, para não reconhecer a crise que o despedaça em frações nacionais vitimadas pela promoção irresponsável do individualismo, da competição à procura de lucro e do desprezo pela tendência humana à solidariedade fraterna, comemora o Tratado de Roma que há 60 anos combateu a guerra entre Alemanha e França.

Assim, dizem orgulhar-se da paz criada entre duas nações que se tornaram aliadas através do poder financeiro e militar. Assim ocultam  que, para fortalecer uma Europa rica, destruiram a URSS pela guerra fria, e através da NATO e seus bombardeios, a Líbia, o Egito, a Siria, o Iraque, a Jugoslávia, a Ucrânia, e vários povos do norte da África, para além de realizarem os programas terroristas dos Estados Unidos que semeiam discórdias internas em paises alheios, em todo o Oriente médio e norte europeu, em todo o mundo. A verdadeira Paz, que só existirá com a independência dos povos a caminho do próprio desenvolvimento, desapareceu até mesmo dos sonhos dos modernos governantes.

Os discursos são desonestos ao fazerem uso de termos esvaziados dos seus verdadeiros conteúdos éticos: democracia, solidariedade, estado social, respeito humano, direitos sociais, paz, soberania, independência, justiça social. Quem comemorou a queda da URSS provocada pela guerra fria que abriu caminho para as ações internacionais mais inexcrupulosas - corrupção, crimes acobertados oficialmente, banditismo generalizado, informações falsas, violações de compromissos oficiais, promoção de anti-cultura nos órgãos de comunicação social, etc - não é capaz de aceitar o direito da humanidade de optar por outro sistema sócio econômico. Impõe os seus interesses mesquinhos de elite privilegiada fazendo uso da mesma falta de excrupulos para iludir os seus seguidores. Instituiram a negação dos princípios éticos liminarmente.

Não é por acaso que um alto funcionário da União Europeia refere os países mais pobres da Europa como irresponsáveis e dissolutos, que usam os apoios financeiros "com mulheres e copos", como diria um inquisidor medieval ou calvinista fanático. Ele está preocupado em descobrir o caminho das suas moedas dentro dos limites da sua falsa moral, não o benefício social alcançado por um povo que constrói a sua independência. A sua imaginação viciosa não alcança para além do que vê na sua roda de amigos de elite. Que sabe êle da produção nacional? Da educação e da saúde social? Da vida dos trabalhadores em miséria?

Os trabalhadores que aguentam os programas de austeridade é que têm fundamentos éticos para criticar os devassos das instituições financeiras que usam pessoalmente os recursos de todo um povo e jogam e roubam o que deverá ser pago por quem trabalha duramente e vive em péssimas condições. Mas o calvinista inquisidor Presidente do Eurogrupo não tem discernimento para tanto.
Os seus valores são apenas os sonantes. Ética está fora do mercado.

Portugal, país pobre e honrado

Em Portugal, o golpe militar que derrubou a ditadura de Salazar/Marcelo Caetano em 1974 contou com duas intenções opostas: a de realizar a justiça social dando condições ao povo para criar as bases do desenvolvimento social que tornariam Portugal independente (tese da esquerda civil e militar) e a que pretendia substituir uma fórmula política esclerosada de ditadura por outra versão moderna idealizada pela Europa e Estados Unidos (tese da direita, do PSD e do PS e Internacional Socialista).

O PCP trabalhara clandestinamente, durante quarenta anos, junto aos trabalhadores rurais e urbanos de todo o país pela consciência do seu papel condutor na transformação nacional e os militares de esquerda apoiaram o Movimeno das Forças Armadas e o seu líder Coronel Vasco Gonçalves que foi Primeiro Ministro durante um ano e meio em que levou à prática as principais medidas soberanas: fim da guerra colonial e libertação das colonias; nacionalização da banca e instituições financeiras; criação do salário mínimo nacional e da legislação do trabalho; fim do latifúndio e Reforma Agrária através de Unidades Coletivas de Produção e Cooperativas geridas pelos trabalhadores sob supervisão do Estado que assumia as propriedades e garantia os contratos de trabalho; nacionalização das empresas de interesse do Estado; criação de sistemas nacionais de saúde, educação e segurança social.

Com a ameaça de guerra civil pela direita, o coronel Vasco Gonçalves foi substituido por Mário Soares que legislou para destruir todo o programa de esquerda. Restou a Constituição que fora assinada por todos os partidos, de esquerda e de direita, como unico traço jurídico do que fora a utopia popular e da esquerda comunista e democrática formada na luta contra 50 anos de ditadura.

Até 2016 os governos eleitos alteraram PS e PSD, ambos comprometidos com as políticas determinadas pela União Europeia que foi injectando financiamentos para que Portugal tivesse estradas suficientes e de qualidade para a circulação de mercadorias recebidas nos seus portos, e grandes superfíceis comerciais estrangeiras contruiram os seus armazens modernos que venceram facilmente o antigo comércio logista do país, agora só presente em pequenos centros urbanos. A produção de vinho foi reorganizada, também para serem criadas grandes empresas que absorvem as boas castas de pequenas produções. Muitas produções de uvas e de laranjas foram destruidas por serem inadequadas ao padrão comercial da CEE apesar de serem deliciosas.

Portugal assumia a posição de marginal à economia europeia e aceitava a condição de dependência que os ricos paises da Europa impuseram através dos investimentos que geraram uma dívida incomportável para o seu PIB (gerida por bancos nacionais e estrangeiros que desviaram grandes quantias para paraisos fiscais e corrupção de funcionários do Estado) e o controle da Troika que limitou ao mínimo as despesas com o desenvolvimento social. O ultimo Primeiro Ministro do PSD, Passos Coelho, recomendou à juventude formada em Portugal que emigrasse. Foi o que fizeram, levando o benefício da formação portuguesa para outros paises que os contrataram. Mas este foi também o caminho de milhares de desempregados e de tecnicos conceituados a quem mal pagavam no seu país. Foi desertificado o patrimônio construtor do desenvolvimento nacional.

Falsa riqueza desperta consciências

Diante da austeridade insuportável, da fome que levou o pais a ter que criar a distribuição de alimentos sob a forma de caridade que humilha a população trabalhadora, a subalimentação das crianças e idosos, os casos de suicídio e doenças agravados pela miséria, a população seguiu a liderança do PCP, dos Verdes, da Intersindical, do Bloco de Esquerda, de várias Associações democráticas e de esquerda, e encheu as ruas de protestos que abalaram algumas consciências até mesmo conservadoras. A eleição em 2016 alterou a composição das forças políticas do Parlamento elegendo uma maioria de esquerda. Apesar de o PSD ter obtido o maior número de votos porque se coligara com o CDS de direita, a maioria parlamentar indigitou o candidato do PS para Primeiro Ministro. Venceu a maioria de esquerda que fez a Revolução dos Cravos, dentro de uma Europa amordaçada.

Toda esta mudança foi proposta pelo Secretário Geral do PCP em diálogo com as demais forças políticas de esquerda para surpresa até mesmo do PS (ou da direita socialista eternamente anticomunista). Mas prevaleceu e encontrou uma nova camada socialista que recomendava ao PS que "fizesse a sua autocrítica" () e assumisse uma postura coerente com os princípios democráticos que diferiam dos da UE. A direita, demorou a aceitar a realidade, que o Poder Judiciário precisou comprovar como válida a opção do Parlamento onde foi constituida uma aliança da esquerda com o PS, deixando a direita como oposição. Os radicais da direita deram o nome de "geringonça" que combinava o que eles pensavam ser esquerda e direita.

A realidade é outra, mais profunda, que supõe a necessidade do PS de não se deixar engolir pela UE que está dominada pelos EU e vendida ao poder financeiro mundial em crise. Supõe, por outro lado a dialética que abre oportunidades a novas maneiras de ver o processo político que, tal como está, pode escorregar para o caos planetário. Muita gente percebe que a ganância impede o equilíbrio entre a classe trabalhadora e os empregadores que gostam de ser ricos, mas em uma sociedade equilibrada onde a elite inútil e esbanjadora não agrada a ninguém. É uma mentalidade mais objetiva e empreendedora, que conserva a ética como princípio no relacionamento humano.
O desafio para eles é tentar cumprir todos os compromissos com a esquerda, sem perder o apoio dos sociais democratas na UE. Não é fácil, mas para quem acredita na luta, não é impossivel.

Até agora a chamada "geringonça" tem sido uma aliança crítica porém cautelosa para dar tempo às mudanças que poderão ocorrer entre os conservadores, graças à dialética. Não se pode esquecer que a UE está em crise, que a Inglaterra se afastou da União Europeia, que o pagamento das dívidas têm levado os países à miséria e à perda da soberania (como foi o caso da Grécia), que o problema dos refugiados das guerras é crescente e ameaçador para o fraco equilíbrio social, que o corte aos orçamentos de serviços sociais agrava as tensões internas em todos os países e acentua as carências, que o aumento das grandes fortunas beneficiadas por tráfico de capitais mal fiscalizados levanta uma onda de justa indignação e a queda da credibilidade das instituições financeiras e de justiça nacionais na UE, que a eleição de Trump tornou inseguro o equilibrio entre a UE e os EU e ameaça a criação de um ambiente de paz mundial.

Paulo Portas, ex-Presidente do CDS, da direita radical, escolheu um nome (que lhe pareceu pejorativo) de "geringonça" para o que lhe parecia uma aliança entre um PS - da direita social democrata europeia - com a esquerda comunista somada aos Verdes, e ao Bloco de Esquerda (que reune ex-radicais de esquerda e dissidentes do PCP).

Acontece que o termo "geringonça" explica uma realidade muito comum a quem pensa, cria, luta e vence, sem recorrer aos financiamentos que impõem condições ultrajantes ou a teorias escritas em economês que poucos digerem. Corresponde à realidade de um país pobre, de rica história passada, que fez uma revolução de meta socialista em 1974 e construiu uma reforma agrária estudada e admirada internacionalmente, inclusive pela FAO, produzindo a Constituição Nacional mais avançada da Europa. Deixou uma população com consciência de classe, que foi traida pela direita (de vários partidos), a qual vendeu a Pátria por milhões de euros que voaram para não se sabe onde, deixando-a sem produção própria e curvada à vassalagem dos ricos paises que financiam boas estalagens para aqui gozarem férias com boa comida e muito vinho.

Este quadro transformou o próprio PS, sobretudo uma juventude honesta que ali cresceu valorizando os conceitos de socialismo, democracia, justiça social, e conhecendo o vigor da população no 25 de Abril e o sofrimento depois de traida e tornada vítima da dívida bancária cobrada pela UE. Não se sentiram diminuidos por participarem da "geringonça" que defende os trabalhadores que não deixam de lutar pelos seus direitos, os estudantes que exigem melhores condições de ensino, os idosos que reclamam o apoio da Previdência e um sistema de saúde para todos.

A "geringonça" funciona porque à esquerda existe ética e as palavras não falseiam o conteúdo para efeito eleitoral. Não há oportunismo como é hábito da direita gananciosa. Importante é a admiração desta fórmula por outros países para impedirem a eleição de fascistas nas próximas eleições.

Zillah Branco

terça-feira, 7 de março de 2017

Do sentimento de discriminação à consciência de classe




Ao contrário do processo de despolitização que a direita promove junto aos grupos sociais que protestam contra a discriminação social e o preconceito cultural que impede a sua livre participação na sociedade por razões etnicas, de gênero, de opções sexuais, religiosas ou ideológicas, professoras universitárias dos Estados Unidos lançaram um manifesto baseado em aprofundados estudos da história e da filosofia do movimento feminista mundial, propondo a organização de um movimento fortalecido pela consciência de cidadania e de classe.

Só quando os movimentos sociais forem estruturados em função dos seus objetivos de luta poderão impor os seus direitos ao Estado com a participação em todos os níveis do poder saindo da fase de angariação de proteção paternalista à elite dominante que sempre está sujeita à manipulação política e às chantagens oportunistas que caracterizam o sistema.

Os problemas da violência contra todos os que lutam por mudanças na sociedade, pelo respeito à justiça e aos direitos humano, tem-se agravado especialmente contra as mulheres que suportam as tarefas domésticas e o trabalho remunerado para a sobrevivência familiar. Os estupros, as violações, os espancamentos em casa, o desprezo e humilhações de todo o tipo, são hoje moeda corrente em todos os países e servem de pasto à exploração midiática e ao comércio sexual de milhões de empresas dos mais diversos níveis sócio economicos sem que os responsáveis pelos governos ponham fim a estes flagelos. Combater tais crimes é uma necessidade urgente das mulheres, mas também de todos os que defendem a possibilidade de organização das famílias, da formação elevada das crianças, do apoio aos carentes e idosos, de sociedades civilizadas e saudáveis.

O texto amplamente divulgado atraves da net (Revista Jacobin de São Paulo 03/03/17 e blog Junho, Boletim Opera Mundi 04/03/17) que apoiam a convocação de uma greve internacional militante das mulheres para o próximo dia 8 de março de 2017, é da autoria de Cinzia Arruzza, professora adjunta de filosofia na New School e de Tithi Bhattacharya, professora associada de história na Purdue University. Ambas assinam, junto com Angela Davis, Keeanga-Yamahtta Taylor, Linda Martín Alcoff, Nancy Fraser e Rasmea Yousef Odeh, o manifesto que originalmente convocou “Por uma greve internacional militante no 8 de março“.

"Organizações feministas, populares e socialistas de todo o mundo convocaram uma greve internacional das mulheres no 8 de março para defender os direitos reprodutivos e contra a violência, entendida como a violência econômica, institucional e interpessoal.

A greve ocorrerá em pelo menos quarenta países e será o primeiro dia internacionalmente coordenado de protesto em escala tão grande depois de anos. Em termos de tamanho e diversidade de organizações e países envolvidos, será comparável às manifestações internacionais contra o ataque imperialista ao Iraque, em 2003, e os protestos internacionais coordenados sob a bandeira do Fórum Social Mundial e do movimento de justiça global no início dos anos 2000. Greve indica possibilidade concreta de um movimento feminista novo, poderoso, anticapitalista e internacionalista".


No outono de 2016, as ativistas polonesas adotaram a estratégia e a mensagem da greve das mulheres de Islândia em 1975 e organizaram uma greve massiva de mulheres para impedir a aprovação de um projeto de lei no parlamento que proibisse o aborto. Ativistas argentinas fizeram o mesmo em outubro passado para protestar contra a violência masculina contra as mulheres.

Esses eventos – que estimularam a ideia de uma greve maior no Dia da Mulher – demonstram como uma greve de mulheres é diferente de uma greve geral. A greve das mulheres surge da reflexão política e teórica sobre as formas concretas do trabalho feminino nas sociedades capitalistas.

No capitalismo, o trabalho das mulheres no mercado formal é apenas uma parte do trabalho que realizam. As mulheres são também as principais realizadoras do trabalho reprodutivo – trabalho não remunerado que é igualmente importante para a reprodução da sociedade e das relações sociais capitalistas. A greve das mulheres destina-se a tornar este trabalho não remunerado visível e enfatizar que a reprodução social é também um local de luta.

Além disso, devido à divisão sexual do trabalho no mercado formal, um grande número de mulheres ocupam postos de trabalho precários, não têm direitos trabalhistas, estão desempregadas ou são trabalhadoras sem documentos. As mulheres que trabalham no mercado formal e informal e na esfera social não reprodutiva são todas trabalhadoras. Essa consideração deve ser central para qualquer discussão sobre a reconstrução de um movimento operário não só nos Estados Unidos, mas também globalmente.

Enfatizar a unidade entre o local de trabalho e o lar é fundamental, e um princípio organizador central para a greve de 8 de março. Uma política que leve a sério o trabalho das mulheres deve incluir não só as greves no local de trabalho, mas também as greves do trabalho reprodutivo social não remunerado, as greves de tempo parcial, os chamados para redução do tempo de trabalho e outras formas de protesto que reconhecem a natureza de gênero das relações sociais.

Os Estados Unidos têm talvez as piores leis trabalhistas entre as democracias liberais. As greves gerais e as greves políticas são proibidas, as permitidas estão ligadas a exigências econômicas restritas dirigidas aos empregadores e os contratos têm frequentemente cláusulas explícitas anti-greves, cuja violação pode fazer com que o trabalhador perca o emprego e acarretar multas pesadas para o sindicato que organiza-las. Além disso, vários estados, como Nova York, têm leis que proíbem explicitamente funcionários públicos de entrar em greve.

A discussão sobre como reverter esta situação e empoderar os trabalhadores tem sido a principal preocupação estratégica da esquerda dos Estados Unidos nas últimas décadas. No entanto, um dos perigos desta discussão é o de reduzir a luta de classes apenas à luta econômica e de unir as relações sociais capitalistas com a economia formal em sentido restrito.

A transformação das relações de trabalho nos Estados Unidos requer não apenas uma ativação da classe trabalhadora com base em demandas econômicas no local de trabalho, mas sua politização e radicalização – a capacidade de realizar uma luta política dirigida à totalidade das relações de poder, instituições e formas de exploração em vigor.

Isto não pode ser alcançado apenas melhorando e expandindo a organização do trabalho de base no local de trabalho. Um dos problemas centrais que o trabalho político radical enfrenta é seu isolamento e invisibilidade. Estabelecer as bases para a revitalização do poder operário exigirá operar em diferentes níveis – criando grandes coalizões sociais, agindo dentro e fora dos locais de trabalho e estabelecendo laços de solidariedade e confiança entre organizadores e ativistas trabalhistas, antirracistas, feministas, estudantes e anti-imperialistas. Também significa aproveitar a imaginação social através de intervenções criativas, intelectuais e teóricas, além da experimentação com novas práticas e linguagens.

Em vez de um foco estreito sobre as lutas no local de trabalho, precisamos conectar movimentos baseados em gênero, raça, etnia e sexualidade, em conjunto com a organização do trabalho e o ativismo ambientalista. Somente criando essa totalidade coletiva seremos capazes de abordar a complexidade das questões e demandas apresentadas pelas diversas formas de mobilização.

Este é o caminho que a greve internacional das mulheres está perseguindo com sua plataforma política expansiva e inclusiva. O 8 de março não será uma greve geral. Mas será um passo importante para um novo ciclo de legitimação do direito de greve contra as degradações do capitalismo sentidas em todas as esferas da vida por todos os povos."


Podemos acrescentar que o movimento pelos direitos das Mulheres, que existe desde o século 19 e foi desenvolvido mundialmente com a Revolução Soviética, ao conseguir criar uma estrutura política combativa que permitirá aprofundar os conhecimentos relativos aos direitos de cidadania, dará um salto de qualidade assumindo a consciência de classe a partir do sentimento de discriminação social.

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