sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Imperialismo manipula instituições secretas




Artigo divulgado em OLadoOculto 28/12/18

A história do sistema capitalista repete-se, nas várias regiões do planeta, variando em função das diferenças estruturais entre os países. Dialéticamente produz os anti-corpos com que as nações se defendem da submissão ao imperialismo - a forma superior do capitalismo - fortalecendo o seu próprio desenvolvimento social e econômico e afirmando a soberania nacional no contexto mundial.

No chamado "terceiro mundo" (quando não havia a preocupação em disfarçar com uma  máscara  de desenvolvimento que envolvia a elite nacional como se fosse uma semente a ser "democratizada" com a "evolução" do povo), o controle imperialista agia despudoradamente aplicando as decisões tomadas nos países mais ricos como imposições às nações que "por serem pobres" cumpriam obedientes. Viviam como "colonias" ou "agregados", conforme os termos assinados pelas respectivas elites que detinham o poder.

Depois da Grande Guerra, pacificada graças à necessária aliança dos países ricos capitalistas com a recém-formada URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - que vencera o exercito de Hitler com o apoio do seu povo revolucionário e a força militar do Exército Vermelho, a linguagem política foi alterada para evitar os preconceitos utilizados relativos à dependência dos "pobres", ou "subdesenvolvidos", como se fosse uma fatalidade. Com uma substituição de títulos, o "terceiro mundo" passou a ser considerado "em via de desenvolvimento" e a "democracia" (privilégio da burguesia rica) passou a escoar como esmolas para as classes trabalhadoras, em pílulas cosméticas traduzidas em leis laborais.

A ONU, definida com base nos princípios dos Direitos Humanos e da Igualdade entre todos os povos, desenvolveu as suas funções no sentido do reconhecimento das lutas nacionais contra o domínio colonizador e a presença estrangeira que impunha medidas aos governantes subalternos. Com o apoio do sistema socialista muitos povos puderam organizar os movimentos de libertação nacional e expulsaram os seus colonizadores criando governos autonomos que a ONU reconheceu. O vocabulário político mudou, sendo banidos os termos "colonia", "subdesenvolvido" e "terceiro mundo", assim como "imperialismo" (este sendo considerado um "chavão" dos comunistas) e os governantes dos países ricos viram-se obrigados a apertar as mãos dos seus antigos "colonizados", como seus iguais, de várias etnias reveladas pelas vestes e pelos idiomas.

Só as palavras mudaram
Porém, a realidade do domínio e opressão continuou.
Mas, a maneira de poder intervir na vida de cada país - que continuava a lutar pela sua independência e soberania nacional desenvolvendo as suas forças produtivas que permaneciam oprimidas nas relações com o mercado externo e as taxas relativas a transporte, utilização de portos, sistema cambial etc., pertencentes aos países ricos - tornou-se apenas mais discreta para o imperialismo.

Em 1986, na Europa, foram divulgados os processos jurídicos, que se multiplicaram na Itália, a partir do sequestro e assassinato de Aldo Moro. Desvendaram uma teia complicadíssima do relacionamento entre forças imperialistas que se introduziram na Loja Maçonica dos Estados Unidos, na OPUS DEI (vinculada ao Vaticano) e na Máfia Italiana, manipulando destacados membros de cada uma dessas instituições para penetrar nas estruturas governativas e impedir qualquer tipo de aliança com forças de esquerda.()

Todas essas instituições têm em comum o "secretismo" imposto aos seus membros e uma função "protetora dos que trabalham pelo bem comum na sociedade". Esta imagem humanista e generosa reconhecida nas sociedades através dos tempos era o aval de uma conduta sempre positiva e respeitável, independente das oscilações políticas ocasionais  causadas históricamente. Nada melhor para o imperialismo que utilizar as estruturas seculares de tais organizações espalhadas pelo mundo, introduzindo através de novos participantes que transmitiam objetivos de ação política junto a competentes membros (mediante convencimento ideológico e aporte financeiro), que garantiam o secretismo mesmo dentro da instituição e escolhiam os executantes contratados para atuarem no interior da estrutura dos Estados.

Jornalismo com coragem
O autor de "O Labirinto da Conspiração" (1) explicita que os textos tratados são sobre política porque as seitas referidas (a maçonaria norte-americana à qual pertencem destacados quadros das empresas multinacionais, a Logia Propaganda Due P-2 que foi desmantelada na Itália, a tentacular Opus Dei liderada pelo padre José Maria Escrivá de Balaguer, e a Máfia) foram objeto de apurados estudos jurídicos na Itália que fundamentaram processos onde foi revelada a interligação entre elas para forjar caminhos aparentemennte legais na prática dos serviços públicos ou eliminar físicamente os quadros que ousaram opor-se a eles.

Aquele trabalho não contém um ataque a instituições como a Igreja Católica ou à Maçonaria: "Limita-se a denunciar as organizações e as pessoas que se aproveitam do prestígio dessas entidades para tentarem atingir objectivos que nada têm a ver com a religião ou a procura de uma maior justiça social". O que denuncia é a constituição de um sistema supra-nacional que as articulou e manipulou com recursos internacionais de uma rede subversiva secreta.

"As seitas secretas inserem-se transversalmente na sociedade, ignorando partidos e fronteiras. Os interesses aglutinadores são os do grande capital e a imposição de soluções políticas conservadoras que assegurem o afastamento das forças progressistas das áreas do poder".

Os Tribunais registaram
Na sequência de inúmeros escândalos financeiros com aparentes vínculos com assassinatos de personalidades como o dirigente democrata cristão Aldo Moro em 1978  e o do juiz Emílio Alessandrini que apurou irregularidades no Banco Ambrosiano em 1979, seguido por vários assassinatos de quem investigava as irregularidades de Michele Sindona, (entre outros o juiz Giorgio Ambrosoli) que comprara a Banca Privata Finanziaria em 1964 tornando-a a base de todo o sistema financeiro.

É longa a lista de processos, prisões, assassinatos e falências bancárias que culmina em Fevereiro de 1986 em Palermo, com o julgamento de 467 réus da Máfia. Em Março Michele Sindona é condenado à prisão perpétua por envolvimento no assassinato do juiz Giorgio Ambrosoli, sendo envenenado quatro dias depois com cianeto.

"As seitas de que aqui se fala fazem parte de um todo, são instrumentos mais ou menos coordenados de um sistema de opressão que, sentindo-se ameaçado, cria exércitos na sombra, preparados para eventualidades possíveis e prováveis (...) Os homens da velha ordem recorrem a tudo para deter a marcha inexorável do tempo porque sabem não lhes pertencer o futuro. De tal modo se enredam nas suas próprias teias que os seus enredos acabam por ser conhecidos", afirma o jornalista de "o diário", Villaverde Cabral.

Entretanto, diante da crise do sistema capitalista, essa forma de manipulação de instituições que de alguma maneira preservam a sua independência dentro do chamado Estado de Direito prossegue, como no Chile de Allende com a infiltração nas forças armadas que executaram o golpe de Pinochet, e agora no Brasil com a manipulação da Igreja Evangélica Pentecostal, o domínio incontestável do sistema judicial, para não falar no controle global dos meios de informação e comunicação social.

Servindo-se das redes sociais expandidas pela internet, conforme o plano de Steve Bannon assessor de Trump, levaram a sua falsa mensagem de combate à corrupção promovendo uma figura de valentão e torturador como lider dos cidadãos que sofrem a opressão do sistema. E conseguem formar um governo que pretente destruir todas as conquistas sociais alcançadas sob a orientação de Lula (não sendo improvável encontrar os mesmos intervenientes imperialistas do processo italiano, no golpe e no resultado eleitoral ocorrido agora no Brasil).


1) Em 1986 o jornal "o diário" criado por Miguel Urbano Rodrigues em Portugal divulgou, segundo o depoimento do jornalista A.Villaverde Cabral "uma série de reportagens-dossier(…) em "o diário", por certo o único jornal português com coragem para o fazer". Foi a base da edição de "O Labirinto da Conspiração" de J.M.Goulão.



Zillah Branco
29/12/18