domingo, 15 de dezembro de 2013

União para organizar a resistência

Portal Vermelho, 15/12/13


É urgente a união para resistir. Para isto as divisões formais de sigla partidária, religião, grupo, tribo e as pequenas vaidades, oportunismos e preconceitos, que disfarçam a alienação dos que "preferem ficar em cima do muro", precisam ser omitidas.

Por Zillah Branco*


Os especialistas das múltiplas áreas do conhecimento que vêm sendo abertas pela humanidade (há bem mais que um milênio), para a construção de um mundo melhor onde o ser humano e a natureza sejam respeitados - filósofos, artistas, missionários religiosos, militantes políticos, e sociais, médicos, juristas, economistas, sociólogos, professores, pais e mães, camponeses, pescadores e trabalhadores em geral - têm sido mantidos isolados uns dos outros por um modelo de sociedade traçado sempre de acordo com os interesses mesquinhos de um restrito grupo que manobra o poder. 

A História registrada desde séculos antes da Era Cristã, acumula provas de que este caminho sempre foi (e continua a ser) seguido através dos tempos para manter uma elite dominante que escraviza toda a humanidade - dividida em categorias que se iludem com diferentes níveis de compensação e conforto entendidos como "formas de poder", que asseguram a divisão entre a enorme massa de explorados. As categorias ilusórias têm por base a vaidade pessoal, os preconceitos, o acesso à formação intelectual, a disponibilidade de recursos materiais que alimentam a estrutura organizada da sociedade em subpoderes onde se repete a dicotomia do explorador e o explorado. São as empresas, os títulos profissionais, a publicidade dos melhores ou dos mais belos, as hierarquias e as propriedades, os velhos e históricos conflitos entre tribos, grupos e clubes, religiões e filosofias, etnias, gêneros, opções de vida, muros que separam famílias e amigos, sempre manipulados com o único fim de dividir para dominar.

O modelo de dominação, visto no seu simples esqueleto, é transparente e sempre repetido. Complexo e confuso é o manto que o recobre traduzido em valores - financeiros, talentos específicos (meritocracia), beleza e força física, capacidade de liderança, ausência de escrúpulos para cumprir qualquer (sub)missão de comando, desumanização e individualismo absoluto. Exatamente o contrário dos valores humanitários que caracterizam os expoentes admirados pelos sacrifícios feitos para defender os explorados de todos os tempos (por exemplo, Nelson Mandela, e tantos outros que suportaram perseguições, torturas, campanhas de difamação, assassinatos) e só recebem menções oficiais honrosas depois de mortos. Inclusive de seus velhos inimigos que agora exibem falsos sentimentos para que os povos, que choram em multidões a perda do seu ídolo considerado pai por todos os que sempre lutaram, os aceitem como se fossem seres humanizados como a maioria.

Há, portanto, dois modelos de conduta humana, opostos nos seus objetivos e nos seus princípios filosóficos e ideológicos, representados pelos explorados cuja força reside na grande maioria quando se une, e pela elite exploradora cuja força está no controle econômico e no uso de armas, produtos mortíferos e meios de informação que manipula as culturas e ações da grande massa.

Não vou (para resumir a ideia essencial) citar autores, livros e filmes, que têm explicado ampla e profundamente este quadro que hoje torna mais visível a situação dramática em que a humanidade vive pressionada e escravizada por poderes nacionais que aceitam covardemente as ordens impostas por um império que estabeleceu a globalização mundial para governar o mundo anulando as diferenças entre os povos, destruindo as tradições culturais, transformando os seres humanos em robôs que não pensam mas cumprem ordens, deixando morrer à mingua milhões de crianças e adultos que fogem às guerras e à fome provocadas por agentes secretos pagos pelo império. 

Diante deste panorama catastrófico é urgente a união para resistir. Para isto as divisões formais de sigla partidária, religião, grupo, tribo e as pequenas vaidades, oportunismos e preconceitos, que disfarçam a alienação dos que "preferem ficar em cima do muro", precisam ser omitidas. Vivemos um período de guerra sob uma capa pacífica cheia de imagens festivas para distrair os mais ingênuos. Usamos a internet para nos comunicarmos sem as limitações da mídia, mas somos vigiados de mil maneiras, não há privacidade e o sistema pode ser bloqueado a qualquer momento. 

Encontremo-nos nas ruas, nos lugares possíveis para combinarmos formas de organização e de ação. Voltemos a agir como seres humanos sem o modelo moderno que "programam" a nossa linguagem e a nossa vida.

*Zillah Branco é cientista social, militante comunista, colaboradora do Vermelho e integrante do Conselho do Cebrapaz.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Confronto entre dois mundos

Confronto entre duas visões de mundo,

uma ingênua e outra perversa


O belíssimo discurso feito pelo Presidente do Uruguai - José Mujica -no Congresso da ONU em New. York em 2013, levantou uma questão que sempre dividiu a humanidade: entre exploradores e explorados, que os estudos da História e da Antropologia investigaram, com riqueza de análises, nos acontecimentos que cercaram os "Descobrimentos" no século XVI.

Sem reduzir as observações às questões meramente econômicas da apropriação pela força e o poder, do produto do trabalho individual ou coletivo, impõe-se hoje a partir das informações científicas já registadas pelos investigadores de todas as universidades mundiais, refletir sobre as formas de imposição de objetivos práticos, mesquinhos e criminosos, pelos que ocupam posição de domínio político sobre a humanidade que deles depende para desenvolver as suas capacidades humanas de vida, ou seja, do desenvolvimento físico, mental e material da população planetária.

Darcy Ribeiro, no livro "O Povo Brasileiro" (Companhia das Letras 1995, SP/Brasil), relata com maestria a confiança com que os indígenas receberam os "descobridores europeus",  com a curiosidade ingênua e respeitosa de quem admira pessoas que agem com segurança e força devidas a formas de conhecimento diferentes das suas. Dentro das suas crenças míticas identificaram os homens brancos, com roupas e armas desconhecidas, como capazes de lhes ensinar a aperfeiçoar a vida, como os deuses ou os "mais velhos" faziam. A ingenuidade revela a confiança que a humanidade em sua pureza natural sempre tem, antes de conhecer a maldade e o egoísmo que fazem do visitante um inimigo. Corresponde ao sentimento de uma criança ou de quem viveu protegido pela solidariedade em sua comunidade isolada.

O autor refere as surpresas crescentes que despertaram o medo e o ódio dos indígenas, destruindo a ingenuidade e, portanto, a confiança naqueles seres que pretenderam escraviza-los, usa-los como objetos de uso pessoal, forma-los para que aceitassem sem contestação o novo modelo de crenças e de vida. Através do ensino praticado sob a forma de catequese e superação da condição de "selvagens", como era entendida a simplicidade natural, os "descobridores" acreditaram trazer a "civilização para aqueles seres inferiores" ao mesmo tempo em que recolhiam os lucros que enriqueciam primeiro os seus reis e senhores e depois a eles próprios que passavam de servidores a patrões e donos de escravos, como se fossem pequenos reis.

A preparação profissional estava entrelaçada com a criação de hábitos de vida e, sobretudo, de crenças que baniam as tradições tribais e introduziam um novo Deus que condenava como pecados os conceitos ancestrais de vida dos ancestrais ainda ligados à natureza. Assim, além de destruir a cultura daqueles povos, culpavam os seus "mais velhos" pelos males existentes que agora eram revelados na subordinação a que eram forçados. Modernamente poderíamos dizer que os indígenas foram "formatados" pelos novos ocupantes das suas terras. Isto no século XVI, com o peso da Idade Média obscurantista, na formação do Terceiro Mundo.


Que disse ao mundo o Presidente Mujica, do Uruguai, nos Estados Unidos em 2013, cinco séculos depois do povoamento "civilizado" no Terceiro Mundo?

"Sacrificamos os velhos deuses imateriais e ocupamo o templo com o Deus Mercado. Ele
Organiza a nossa economia, a Política, os hábitos, a vida e até nos financia com quotas e cartões, a aparência de felicidade. Parece que nascemos apenas para consumir e consumir, e se não o podemos, carregamos com a frustração, a pobreza e a auto-exclusão.

O certo, hoje, é que para gastar e enterrar detritos, a chamada mancha de carbono pela ciência, diz que se a humanidade inteira quiser viver como um norte-americano médio, seriam necessários três Planetas. Quer dizer: nossa civilização criou um desafío mentiroso e, tal como vamos, não é possível para que todos atinjam este “sentido da vida” que se impõe como cultura na nossa época dirigida pela acumulação e o Mercado. Prometemos uma vida de desperdícios e esbanjamentos que constitui uma conta regressiva contra la natureza, e contra a humanidade como futuro. Civilização contra a simplicidade, contra la sobriedade, contra todos os ciclos naturais, mas o pior, civilização contra la liberdade que supõe tempo para viver as relações humanas, amor, amizade, aventura, solidariedade, família. Civilização contra o tempo livre que não se paga e pode gozar esquadrinhando a natureza. Arrasamos as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anónimas de cimento. Enfrentamos o descanso com caminhadas, a insónia com pastilhas, a solidão com electrónica…. E somos felizes alienados do eterno humano? Aturdidos, fugimos da nossa biologia  que defende a vida pela própria vida como causa superior e a suplantamos pelo consumismo funcional e a acumulação. La política, eterna mãe do acontecer humano, ficou acorrentada à economia e ao Mercado."

Os povos latino-americanos aprenderam os usos e costumes dos europeus e mais, formaram-se como cientistas e profissionais em todas as matérias aplicadas ao desenvolvimento do sistema capitalista que define as bases do atual modelo global das sociedades. "Descobriram" a Europa e o resto do mundo, aprenderam que uma elite rica e poderosa governa o mundo e escraviza todos os trabalhadores nos países capitalistas impondo-lhes sacrifícios e misérias para que prolonguem a sua dependência e continuem a enriquecer o poder imperial, ameaçando com invasões e bombardeios os povos que lutam pela sua libertação, espionando como qualquer bandido os governos democráticos que conseguem desenvolver a consciência de cidadania dos seus povos.

A verdade relatada por Pepe Mujica, presidente do Uruguai, é dura e parece ser permanente, já que prolonga os efeitos nocivos da ignorância medieval por séculos. A História, no entanto, mostra que as transformações mundiais são lentas, com avanços e retrocessos, mas inexorável com o acumular de conhecimentos e a abertura democrática do acesso à informação e ao combate aos preconceitos que nega a igualdade de capacidade intelectual e de direitos entre todos os seres humanos.

Existe ainda a confiança e a aparente ingenuidade nos seres humanos que têm ideais e crêem nos valores éticos da humanidade. Não fosse assim, a ambição dos que detêm o poder teria produzido uma população desesperada e enlouquecida que hoje dominaria com crimes e violência todo o planeta. Caminha-se neste sentido e o terrorismo inspirado na ação autoritária e criminosa da elite imperial espalha-se por todos os continentes. A gravidade de tal situação, nos nossos dias, tem despertado a consciência em muita gente que estava alienada à sombra da elite.

O perigo é visível, mas as manifestações dos que lutam pela Paz e por uma vida mais justa para os povos, têm vencido a inércia dos que se acomodaram com as ilusões do consumismo e de um Deus Mercado criado para destruir a capacidade filosófica dos seres humanos. A democracia é um valor que penetra nas mentes ativas, permitindo que não exista o medo de pensar e dar opiniões baseadas nos princípios que a humanidade elaborou a partir da sensibilidade e do conhecimento adquirido em contato com a realidade natural e social.

Zillah Branco


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Os modelos do capitalismo e a destruição das nações



A criação de "modelos" - visuais e mentais - definidos pelos critérios impostos pela elite dominante,  pretende uniformizar a população tornando-a mais facilmente controlável. É a "formatação" imprescindível para manter uma organização do poder, autoritária e inflexível, transmitida pelos meios sociais de informação e por variadas formas de publicidade.
A lógica do sistema capitalista, especialmente na sua fase de imposição do mercado a nível global, é intrínseca à acumulação centralizada do capital nas mãos de uma elite que exerce um poder discriminatório sobre os povos. Esta dinâmica foi despoletada na expansão colonialista com a descoberta do Terceiro Mundo, dando início à destruição progressiva de civilizações indígenas e seguiu, mesmo nos países colonizadores onde as antigas culturas ficaram marcadas pela pobreza e o atraso por falta de acesso à comunicação e desenvolvimento do conhecimento intelectual fechado nos cofres dos "escolhidos" pelo poder.

A estrutura administrativa deste tipo de poder define a sociedade como uma estratificação de acordo com a qualificação econômica dos que tiveram oportunidade de formação profissional e adquiriram conhecimento moderno e comportamento social consideradas "superiores". Os privilegiados atingem graus de chefia com autonomia para classificarem os seus subalternos, enquadrados de acordo com os seus próprios critérios eivados de preconceitos e má fé.
As instituições que dinamizam o Estado, formadas de cima para baixo reproduzem o "modelo" do poder central e garantem a sua permanência executando as "ordens" emitidas pelos seus superiores mesmo que contrárias aos conceitos específicos da matéria pela qual é responsável profissionalmente. Aqueles que se rebelarem apresentando argumentos alternativos às decisões superiores serão afastados da escala de poder administrativo ou mesmo demitidos.

O medo é o móbil do comportamento funcional para alcançar e conservar o emprego com os benefícios oferecidos pelas instituições do Estado e empresas. Em função do medo proliferam as formas de oportunismo que anulam os conceitos éticos básicos no comportamento humanista e independente que caracterizam a formação de personalidades criativas e solidárias com o desenvolvimento coletivo da sociedade, contrária às ambições individualistas e mesquinhas dependentes das estreitas metas oferecidas pelo poder de uma elite.

O sistema capitalista, hoje predominante em todo o planeta, nasceu pela via financeira que passou a servir as famílias da nobreza que dominavam nações, feudos e condados herdeiros da situação medieval. Financiaram confrontos, guerras de expansão territorial, intrigas palacianas, crimes que eliminam opositores, enquanto consolidavam as primeiras instituições que constituíam o eixo dos futuros Estados republicanos. As famílias reais passaram a coadjuvantes daqueles que haviam sido os seus antigos assessores e investidores.

Foram abandonados os punhos de renda e a roupagem pouco prática para os novos políticos e executivos que assumiram os trabalhos que o poder capitalista exige aos  executivos do sistema. Conservaram a gravata distinguindo-se dos trabalhadores mais rudes, pertencentes a uma classe que apenas recebe para sobreviver. Entre as duas classes com condições de vida e interesses opostos, permaneceu uma classe média que tem capacidade de adquirir formação profissional e de consumir mantendo a dinâmica do mercado e recebendo benefícios do Estado como cidadãos. A perspectiva de futuro a faz adotar os modelos da classe dominante mesmo que construídos com matéria prima e técnica de qualidade inferior. São escolhidos pelo crivo político do alto poder tanto pelo talento de que são dotados como pela feição maleável com que aceitam o autoritarismo das instituições. Relativizam a ética esquecendo a riqueza da cultura e do humanismo das suas origens de classe trabalhadora diante do brilho e do conforto da modernidade com seus múltiplos privilégios.

A luta pela democracia está em curso

Disse Nelson Mandela, no discurso de posse na presidência da República na África do Sul em 1994, depois de passar 27 anos prisioneiro por liderar o movimento contra o appartheid : "Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida. É a nossa luz, não as nossas trevas, o que mais nos apavora. Nós nos perguntamos: Quem sou eu para ser Brilhante, Maravilhoso, Talentoso e Fabuloso?
Na realidade, quem é você para não ser? Você é filho do Universo. Se fazer pequeno não ajuda o mundo. Não há iluminação em se encolher, para que os outros não se sintam inseguros quando estão perto de você. Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros".

Pontualmente vemos hoje as conquistas de um longo processo revolucionário para efetivar um Estado democrático apesar do poder capitalista controlar financeiramente as relações políticas em todo o planeta. Referimos líderes que caminharam não por uma ascensão pessoal, mas do coletivo humano que representam. Fidel Castro e seus companheiros, reviveram a liderança de Martí e sustentam, por mais de meio século, as conquistas de Cuba revolucionária apesar da permanente perseguição do vizinho império, Hugo Chavez introduziu na América Latina a luta traçada antes por Simon Bolívar e hoje a Alba, UNASUL e CELAC fortalecem a unificação das nações que carregam o peso da antiga colonização. Amilcar Cabral conseguiu criar um Estado Popular dentro de uma nação colonizada e venceu a guerra contra a ditadura de Salazar. São muitos os líderes revolucionários que abrem caminho para que os povos sigam o processo natural de desenvolvimento do espaço e da história dos seus territórios. A barreira a ser vencida é o modelo hegemônico do capitalismo criado para escravizar a humanidade. Modelo político, cultural, mental, comercial, que transforma as sociedades "enquadradas"  em uma camisa de força que anula a criatividade e a participação dos povos.

O Brasil elegeu Lula, antigo metalúrgico que se construiu como grande estadista na defesa de uma real democracia dentro de um território minado pelo poder imperialista que ainda tenta anular os esforços revolucionários do Governo eleito. Dilma impôs o respeito à Presidenta, e às mulheres brasileiras, para prosseguir o caminho aberto por Lula. No seu governo uma conquista notável, entre muitas que consolidam a democracia, é simbolizada por um feito inédito: primeiro médico indígena formado na UNB (Universidade Nacional de Brasília) que trabalhará para seu povo - Josinaldo da Silva, representante da tribo Atikum, no sertão pernambucano, é o símbolo de um projeto de diversidade. "Meu objetivo é voltar para a aldeia tão logo termine a formação. É um acordo que faz parte do convênio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), mas é mais do que isso, é um compromisso meu com o meu povo, com os Atikum, minha origem e minha razão de estudar. O índio é o que pode cuidar melhor da saúde do índio, compreende os costumes, conhece a tradição. Um índio tem todas as condições de cuidar de uma tribo, reunindo o saber da universidade com o saber tradicional. É esse o meu objetivo."

Europa colonizada

Curiosamente, enquanto os povos do Terceiro Mundo que lutam para implantar uma verdadeira democracia e aos poucos vão cortando as amarras lançadas pelo sistema colonialista que desde o século XVI afogou as suas características culturais e destruiu os seus recursos de desenvolvimento nacional, a moderna exploração imperialista voltou-se para antigas nações europeias colonizadoras. A criação da Troika pela União Européia e o FMI exerce hoje um poder que anula a existência de Governos nacionais e traça os programas de Estados, que eram independentes há dezenas de séculos, como se fossem suas colônias. Isto já ocorre em Portugal, Espanha e Grécia, avança na Irlanda e Itália, e invade com maior ou menor visibilidade todos os demais países do Velho Continente enquanto dilacera as nações do Oriente Médio. O valor cultural e humano das nações europeias hoje sofre o mesmo aniquilamento que as civilizações na África, nas Américas, no Oriente Médio e na Ásia imposto pela invasão colonial. Para além de ser um crime hediondo contra a humanidade é o retorno da barbárie fascista.

As grandes empresas farmacêuticas multinacionais substituíram o uso de cobaias nos laboratórios dos países ricos pelos testes feitos com pessoas que vivem na miséria a quem pagam uns tostões e, no melhor dos casos, dão uma "compensação" financeira à família quando a "cobaia humana" morre em consequência dos testes. Isto foi denunciado em filme (TVI em Portugal - programa Observatório) com entrevistas na Índia onde cresce a estatística de mortes por responsabilidade de laboratórios norte-americanos, franceses, suíços e alemães.

O colonialismo britânico, ao dominar aquela civilização milenar, abriu as portas à desagregação nacional e foi expulso em 1947 pelo movimento conduzido por Ghandi, deixando o território minado para a infiltração imperialista da qual faz parte. Este é um dos muitos exemplos que explicam as chacinas e os projetos "errados" aplicados pelo Banco Mundial que levou povos inteiros à fome na África.

Hoje os "projetos de desenvolvimento econômicos e organização de supostos Estados Sociais" são aplicados impunemente pelo FMI e a Troika nos paises mais pobres da Europa (como anteriormente em todo o Terceiro Mundo) e têm o desplante de reconhecerem que "não deu certo, por falhas técnicas dos governos subalternos de cada nação", e inventam outro programa. Portugal está aberto ao saque estabelecido pelo sistema de privatizações dos serviços públicos, especialmente saúde e educação, e a liquidação de empresas valiosas como os estaleiros de Viana do Castelo. O mundo todo está servindo de "cobaia" para os cérebros doentios de uma elite que só visa lucros financeiros imediatos para fortalecer o sistema bancário que lhes pertence.

Zillah Branco




quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Congresso do Centenário de Álvaro Cunhal

Álvaro Cunhal deixou um legado de conhecimentos e esperança


Quem teve a oportunidade de conhecer e ouvir o camarada Álvaro Cunhal, ou que hoje estude os documentos da sua vida e procure entender a fusão alcançada por ele entre o ser humano, o intelectual, o artista, o militante e o dirigente comunista, assume o dever de participar e contribuir no processo de transformação que ocorre no presente fazendo uso do seu exemplo e do legado científico e filosófico que nos deixou. 

Por Zillah Branco*, de Lisboa, especial para o Vermelho


 
Comemoração do aniversário de Àlvaro Cunhal dia 10 de novembro de 2013.
A luta dos povos durante o século passado deu-se contra as formas de opressão política e patronal que constituem a estrutura do sistema capitalista mas, também, contra os seus reflexos no interior das várias culturas humanas carregadas de medos e preconceitos, que levam ao uso prepotente da força e à incapacidade de respeitar os mais frágeis, conhecer plenamente a realidade e compreender a justiça e a ética. 

No calor do processo revolucionário os militantes comunistas amadureceram incorporando as qualidades humanas que abriram múltiplos caminhos de luta: pela democracia, pelos direitos trabalhistas, pela igualdade de direitos das mulheres, pela valorização dos idosos e das crianças, contra os preconceitos raciais, de crenças, de gênero, de condições de saúde e opções de vida. 

A queda da URSS e do sistema socialista na Europa não destruiu as conquistas ideológicas que foram desenvolvidas com a Revolução de Outubro e absorvidas em todo o mundo. 
O longo trabalho de formação nas escolas soviéticas e dos demais países socialistas - de quadros profissionais e militantes de todos os continente - assegurou o êxito das transformações revolucionária empreendidas por povos que lutavam contra a opressão colonialista e imperialista que os asfixiava. 



O apoio à divulgação de textos teóricos e notícias das lutas de libertação em todo o mundo, para a formação de uma cultura livre do controle mediático capitalista, permitiu o esclarecimento de grandes massas sobre o caminho da emancipação social como base dos Direitos Humanos fundamentais.

A existência por 80 anos de uma sociedade socialista mudou o curso da história mundial abrindo caminhos de luta para que a humanidade não aceite a escravização imposta por elites que se apropriaram das riquezas nacionais.

O camarada Álvaro Cunhal defendeu sempre a necessidade de "ouvir 
o outro", dialogar, compreender as diferenças, procurar o caminho para promover "alianças", com o objetivo de ampliar as bases de apoio ao caminho revolucionário e conquistar as massas trabalhadoras.

Foi assim que, na década de 1940 o jovem dirigente orienta o PCP no sentido de estimular a organização de setores democráticos não comunistas a desencadearem lutas contra o fascismo e a opressão ditatorial. 

O resultado do longo percurso partidário permitiu, meio século depois, a eclosão do 25 de Abril com o êxito da ação do MFA, o fortalecimento do movimento sindical, o fim da guerra colonial e a queda do regime ditatorial em Portugal, com amplo apoio da população e de organismos internacionais defensores da Paz mundial.

Em 2003, Álvaro Cunhal enviou a sua reflexão para o Encontro Interna


cional da "América Latina: sua potencialidade transformadora no mundo de hoje". Compreendeu que as diferentes culturas seguem cursos históricos específicos, alternativos às experiências europeias. 
Naquele texto recomenda: "os trabalhadores, os povos e as nações não podem aceitar que a ofensiva global seja irreversível" e deverão organizar "as forças capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objetivo".

Faz um alerta: "apesar de ser por caminhos diferenciados, complexos e sujeitos a extremas dificuldades, é essencial para a humanidade que alcancem com êxito tal objetivo". 
Aponta as bases para a luta que continua e hoje exige a nossa decidida participação em todo o mundo:

"Primeiro: os países nos quais os comunistas no poder (China, Cuba, Vietname, Laos, Coreia do Norte) insistem em que o seu objetivo é a construção de uma sociedade socialista. 

Segundo: os movimentos e organizações sindicais de classe, lutando corajosamente em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores. 

Terceiro: partidos comunistas e outros partidos revolucionários, firmes, corajosos e confiantes. 

Quarto: movimentos patrióticos, com as mais variadas composições políticas, atuando em defesa dos interesses nacionais e da independência nacional. 

Quinto: movimentos pacifistas, ecologistas e outros movimentos progressistas de massas."

Na América Latina cresce o número de nações com governos progressistas que, apesar das pressões políticas ostensivas e das infiltrações imperialistas em setores de oposição que agem dentro dos Estados e através de redes do crime organizado, têm reunido um conhecimento aprofundado da realidade social que permite atender e valorizar populações antes marginalizadas integrando-as com os direitos de cidadãos na vida nacional. Retiram das condições desumanas de fome e miséria milhões de pessoas, integrando-as como cidadãos na sociedade.

Esta grandiosa tarefa só é possível com o apoio fundamental e revolucionário dos movimentos sociais, sindicais e de moradores, as iniciativas de participação popular organizadas e a efetiva aliança com partidos de esquerda. Os Partidos Comunistas levam a esses movimentos a experiência revolucionária centenária no mundo e a capacidade organizativa adquirida na luta. 

Este vínculo direto de Governos democráticos com a realidade em que vive o povo, permite canalizar os recursos necessários ao desenvolvimento de novas atividades e usufruir da capacidade criativa na produção de bens e ideias construtivas. 

A contribuição levada por professores e estudantes neste processo democrático de desenvolvimento estabelece uma aproximação do sistema educacional com a realidade profunda contribuindo para o enriquecimento intelectual e profissional das sociedades. 
A militância organizada dos comunistas alimenta-se e contribui para o aprofundamento da educação social e da formação profissional nos múltiplos setores do desenvolvimento econômico e da organização das forças produtivas.

O camarada Álvaro Cunhal referiu-se em carta (de 28 de Fevereiro de 2003), ao processo de eleições presidenciais democráticas vitoriosas na América Latina como "grande acontecimento político positivo que não exclui contradições e dificuldades graves. Anoto também, (diz Álvaro Cunhal) que quaisquer comparações com acontecimentos em Portugal, antes e depois da revolução de Abril, com extrema prudência podem ser avançadas." 

Hoje vemos que, não só na América Latina mas na Ásia e na África, caminhos revolucionários adequados às condições históricas e culturais que formaram nações e povos independentes, têm alcançado significativos êxitos nacionais e internacionais no processo democrático mundial.

Camaradas, unidos em todo o mundo, venceremos! 

*Zillah Branco é cientista social, militante comunista, colaboradora do Vermelho e integrante do Conselho do Cebrapaz.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A CIA e a Democracia

A CIA e a Democracia

 Zillah Branco

O medo de sucumbir sem qualquer ajuda sempre levou os seres humanos a transformarem os seus mitos e crenças no sobrenatural em possíveis socorros. É o desespero a que a solidão conduz como última esperança.

O populismo, com a enumeração de uma lista de problemas sociais sofridos desde sempre pelas classes mais desfavorecidas, sempre foi um recurso de representantes da  elite dominante que precisam dos votos dos seus adversários de classe para a chamada "eleição democrática" que o regime republicano exige. Prometer é fácil e convencer os que já perderam as esperanças na luta coletiva como o recurso adequado, é o caminho habitual dos inescrupulosos.

Por alguma razão, que não foi devidamente estudada, os Estados Unidos - um país sem nome de pátria nacional - construiu, como sua, a história da Democracia. Solidariamente a França presenteou aquela Federação que adotou o nome de todo um continente estando situada apenas no Norte (deixando em aberto o caminho expansionista pelo Sul, no século XIX), com a estátua da Liberdade representando a memória da Revolução burguesa de 1789 que deitou abaixo a monarquia.

Como fazem os mentirosos históricos, os que orientaram o destino político dos Estados Unidos enveredaram pela especialização da arte e da técnica publicitárias e desenvolveram, com enorme êxito, toda uma indústria de comunicação que alimentou mundialmente uma cultura  dominante no ocidente e em parte do oriente.

Os valores filosóficos foram roubados aos gregos da antiguidade e adaptados às conveniências do poder norte-americano que, assim, assumiu a figura de um deus imperial no planeta condutor da ética universal. Impôs-se ao seu povo e aos vizinhos, estendendo-se pelo mundo, como o lider que constrói o modelo a ser seguido pela humanidade "civilizada". Definiu normas de conduta para cidadãos e nações e a sua função de polícia planetário com um poder quase divino de reprimir e matar os desobedientes. Abriu o caminho para a criação de um governo mundial.

Dentro da sua Federação abafou as vozes que, em nome da guerra de independência e adopção do regime democrático, denunciavam as chacinas que exterminaram os nativos do território e oprimiram os antigos escravos africanos discriminados ferozmente na vida social do país. A literatura do início do século XX e o nascente cinema, hoje conhecidos  como clássicos de alto valor  (com autores como Bernard Shaw, Haward Fast e Charles Chaplin, entre outros), foram as primeiras formas de comunicação a sofrerem a repressão anti-democrática do período "mackartista" intensamente anti-comunista.

No caminho expansionista selvagem os EUA avançaram pelo território mexicano anexando a Flórida e passaram a apoiar os movimentos independentistas das novas nações que expulsavam os seus colonizadores europeus. Neste papel de "irmão maior americano" introduziram modernizações que permitiam a industrialização e desenvolvimento urbano deixando títeres de sua confiança nos governos ditatoriais.

Ao mesmo tempo os colonizadores europeus expulsos das colónias americanas decidiram aliar-se ao império capitalista que surgia, selando esta amizade no confronto com a Alemanha nas duas grandes guerras que pretenderam usar também para acabar com a nascente União Soviética. Mas a Revolução Socialista forjara uma profunda consciência de luta nos povos que deram a vida para extirpar a ameaça nazi-fascista de Hitler que ocupara a França e bombardeara a Inglaterra.

O projecto anti-comunista ficou temporariamente arquivado para reacender após a vitória dos "aliados" a que se somaram as forças militares norte-americanas no final para deixar a sua chancela cruel com o uso da bomba atômica que matou 200 mil civis japoneses quando a guerra já estava decidida com a chegada do exército soviético a Berlim.
Começou na sombra a terceira guerra, chamada pelos imperialistas de "guerra fria". A Europa destruída decidiu organizar o seu quartel general imperialista para não ser engolida pelos EUA. Em Bildenberg, na Holanda, em 1947 nasceu a decisão de formar um Clube com representantes norte-americanos além de personalidades da direita europeia acompanhados por remanescentes da velha monarquia que se mantiveram aliados dos governos republicanos ou "democratas" dos países ricos ocidentais.

Em 1954 reuniram-se pela primeira vez e passaram a ter encontros anuais para traçar o programa de um governo planetário com a centralização financeira bancária e de um Mercado para regular as economias. Passaram a escolher futuros Presidentes ou Primeiros Ministros dos países submissos formados a partir de quadros fiéis ao controle imperialista (entre muitos, Clinton, Merkel, Balsemão, Sócrates e outros de igual valia).

Ai nasceu o projecto da União Europeia para amarrar a economia, sobretudo as finanças, de todas as nações europeias e subordiná-los ao controle político unificado pelos países mais ricos. Com a ponta de lança da Social-Democracia dirigida por Helmut Koll, da Alemanha, apoiado de perto por Henry Kissinger, sionista do governo dos EUA, apoiaram Mario Soares (que aderira ao processo inicial da Revolução dos Cravos) a minar a base popular liderada pelos comunistas, com a apologia do "capitalismo humanizado e democrático". Combateram implacavelmente a Reforma Agrária e as nacionalizações da banca iniciadas com vigor no Governo de Vasco Gonçalves, pilares da democracia nacional.

Foi criada a  CEE que abraçou os "irmão pobres da Europa" (tal como fizeram os EUA no início do século XX na América Latina) com os cantos de sereia do consumismo e do desenvolvimentos da estrutura de comunicações rasgando belas estradas por onde escoava os produtos exportados pelos mais ricos e criando em Portugal o maior parque de centros comerciais de luxo que passaram a formar uma mentalidade consumista e alienada em populações de cultura e trabalho agrícola humanizada e politicamente ingênua.

A apresentação da história da CEE/UE revela o "uso ignobel" de  linguagem democrática e de valores artísticos e desportivos capazes de atrair e comover uma população jovem, alienada das suas esperanças tradicionais próprias às condições reais de vida, (como a música dos Beatles e o desporto de risco - ver site da UE).

Nos Estados Unidos, diante da crise normal do sistema capitalista na sua fase imperialista (prevista por Marx e seus seguidores) o Partido Democrático revestiu os seus Presidentes eleitos com uma fachada humanista apesar de prosseguir as invasões em todo o mundo pela via da CIA ou da NATO. Escolheu Obama, por ser negro, que copiou com maestria o comportamento e a linguagem da esquerda democrática iludindo com falsas esperanças de liberdade e respeito humano os que sofriam a repressão imposta pelo sistema capitalista em todo o planeta, o que ficou provado com o discurso de intenções  terroristas e expansionista que fez ao receber o prêmio Nobel da Paz.

Assim reforçavam a liderança cultural e política, assumindo inescrupulosamente a imagem de princípios éticos dos seus adversários revolucionários e dando novos sentidos aos vocábulos tradicionais de uma cultura expoliada.

O sentido histórico das palavras

Os países de língua portuguesa tentam impor aos seus povos um acordo para satisfazer os interesses das empresas editoriais. Os estudantes do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor, são obrigados a reaprenderem o idioma que já sabiam falar introduzindo as mudanças ortográficas que facilitam a edição e venda de textos em todos os continentes onde a língua portuguesa é conhecida. Até aí, na linguagem redutora, tornam os povos escravos do mercado.

Mais importante que unificar a ortografia de tantos povos com diferentes culturas, será restabelecer o valor atual de termos que foram apropriados na Idade Média por elites da classe dominante esvaziando o seu conteúdo filosófico. Por exemplo: "nobre", durante a dominação exercida pela aristocracia monárquica, eram os seus familiares. No entanto, com o advento da República, que levou a realeza à visível decadência, ser nobre significa "ter valor humano, dignidade, integridade, solidariedade", que os povos revelam principalmente nos estratos sociais vinculados ao trabalho. É a "nobreza de caracter" não de títulos herdados familiarmente ou comprados. No entanto, em quase todas as nações da Europa, a nobre gente trabalhadora é pobre e do seu trabalho sai a riqueza que sustenta no luxo os descendentes da aristocracia medieval e as elites que os substituíram no poder político e financeiro.

Outra confusão de conteúdo em termos amplamente usados, é o de "classe média". Médio quer dizer "do meio", mas é preciso estabelecer de quê. Dos menores e maiores salários? Da situação inferior e superior na estrutura social? Dos benefícios concedidos pelo Estado? Do conhecimento? Ou apenas uma camada social que fica entre os mais desgraçados que apenas sobrevivem e os mais ricos que desconhecem a fome e até esbanjam o que lhes sobra?

No sistema capitalista as estatísticas classificam os cidadãos em classes apenas pelo valor das suas propriedades e salário completado com o valor do que consomem. "Valor" estritamente financeiro como manda o mercado, conceito também medieval que atribuía "valor humano" aos "nobres aristocratas" (as palavras do Presidente Cavaco e Silva, em Portugal, confirmam o reducionismo do conceito de valor ao substituí-lo pelo de "custo financeiro" a propósito de um orçamento nacional que enriquece os ricos e condena os trabalhadores e pensionista à miséria em 2014).

Se ainda não atualizamos estas pendências medievais em pleno século XXI, depois de uma importante Revolução Burguesa em 1789 e uma Revolução Socialista em 1917 que levaram a humanidade a descobrir que os "valores" não são os financeiros roubados à força, mas sim os "conquistados pelos cidadãos" através da luta pelo desenvolvimento social, porque então esta falsa atribuição do título de "classe média" a quem é explorado como força de trabalho para enriquecer a elite dominante? Só para que fiquem iludidos na hora de eleger os seus candidatos e poderem manter a dinâmica de um mercado de quinquilharias que gira o dinheiro entre os empresários e os banqueiros sem criar um produto importante para a economia nacional?

O imperialismo tropeça na CIA

A prepotência da elite imperial tornou-a descuidada. Deslumbrados com o domínio financeiro, tal como o Tio Patinhas por ela criado para divertir os pobres e alienados, descuidaram o comportamento político enquanto destruíam o Estado Social que despertava a consciência de classe em todo o mundo.

Da CIA, e serviços congêneres de outras nações, escoaram informações que revelam não apenas os planos de destruição da democracia planetária mas a espionagem organizadas através de todos os meios de informação disponíveis mundialmente. Tornaram-se conhecidos os políticos, militares e policiais, além de outras categorias de personalidades influentes por meio da mídia, que foram e são corrompidos em todos os países para sabotarem os processos democráticos e revolucionários.

Agora, com o hábito de utilizar a democracia para manter uma fachada aparentemente decente, tanto invadem os correios electrónicos de militantes da esquerda como também os telefones particulares de membros de qualquer Governo Nacional e mesmo dos "aliados do imperialismo". Até foi bom que invadissem a intimidade de Angela Merkel, expoente dos Bildenberg e parceira direta do poder que conduz o Presidente dos EUA, atirando-a para o campo das populações esmagadas pelo sistema nefasto que ainda domina o ocidente e morde o oriente nesta guerra globalizada.
               

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A decomposição do poder governamental

 
  • Zillah Branco 

A decomposição do poder governamental
Destacados economistas, incluindo alguns com Prémio Nobel, tanto com formação marxista como também conservadora ou social-democrata, têm divulgado as suas análises sobre as crise do sistema capitalista que atingiram de forma dramática os Estados Unidos provocando a recessão de 1929 e se repetiram ao longo do século XX sacrificando vários países até expandir os seus efeitos devastadores em função da globalização ao iniciar o século XXI.
As causas apontadas têm em comum a classificação de uma crise sistémica decorrente da financeirização da economia que criou um super poder do sistema bancário sombra(shadow banking system) que abrange várias empresas financeiras que ficam fora de qualquer regulamentação pelos Bancos Centrais dos respectivos países.
Grandes bancos – Lehman Brothers nos Estados Unidos em 2007, Barclays na Inglaterra entre 2005 e 2009 com envolvimento de operadores de bancos franceses Société Génerale e Credit Agricole, do alemão Deutsche Bank e do britânico HSBC (segundo reportagem do site Financial Times de 18/07/2012) enfrentaram falências, casos de corrupção escandalosa, demissões de executivos de grandes corporações, roubalheiras explícitas e desmoralizadas publicamente, punidos pela justiça ou não.
Trata-se, como explica Sérgio Barroso, numa série de artigos divulgados pelo Portal Vermelho (PCdoB, Brasil) «de um processo que alia formas de ganância capitalistas nunca vistas, de braços dados à ideologia do darwinismo social; somados à gestão do Estado e da grande finança inteiramente a serviço do capital sem quaisquer veleidades». Ou seja, a implantação da lei da selva onde vence o mais forte, com a anulação de todas as conquistas da humanidade que a diferenciam do reino animal.
Esta situação de ganância absoluta e desprezo pelo seres humanos, que hoje faz uso das invasões militares e de espionagem para promover conflitos que desestabilizam as sociedades destruindo as estruturas produtivas e as populações civis, como bárbaros modernos ou bandidos vulgares, abriu um caminho de entendimento entre políticos que ainda exigem os antigos princípios humanos de dignidade, respeito, solidariedade para a sobrevivência das Nações. O comportamento submisso de governos manipulados pela troika na Europa e pelo poder militar imperial nas áreas mais pobres do planeta, envergonham os que, independentemente da ideologia que professam, assistem à degradação da história nacional e dos valores patrióticos.
As divergências teóricas e ideológicas entre os especialistas em economia que condenam a financeirização conduzida pelas empresas que detêm o poder globalizado acima de qualquer regulamentação institucional, nacional e internacional, situam-se na meta estabelecida para a organização de programas de desenvolvimento e distribuição de renda, capitalista ou socialista.
Discutem orçamentos, impostos, salários mínimos e pensões de sobrevivência e a estrutura de um «Estado Social», numa vã tentativa de salvar a Nação à beira da miséria. Mas recorrem ao crédito que os donos do poder financeiro oferecem com juros altíssimos sem exercerem o dever constitucional de regulamentarem as empresas que sobre-acumularam, por processos nem sempre lícitos, o dinheiro dos contribuintes. Para demonstrarem a sua noção de dignidade e patriotismo, explicam a necessidade moral de aplicar as condições de austeridade (que se traduz em desemprego, cortes salariais, privatização da saúde, da educação e de bancos nacionais, com o sacrifício exclusivo das camadas mais pobres da população e a destruição das empresas familiares de produção) sem referirem o dever ético de distribuir a renda nacional de forma equilibrada para assegurar a vida do seu povo e a dignidade de uma nação independente.
Diante dessa farsa política, não poderá haver acordo entre os partidos de esquerda e de direita, nem mesmo entre militantes da direita que conservam a noção de respeito pelos seres humanos e de que a riqueza nacional deve ser investida na produção e nas condições de vida do povo para garantir a integridade patriótica e a independência nacional.
O atual dirigente do PS gastou uma semana (que agravou o prejuízo financeiro do país e a credibilidade dos organismos responsáveis pela sua condução política) no falso cenário da «salvação nacional», com os lideres birrentos dos partidos de direita que competem entre si pelo beneplácito da troika.
Velhos socialistas ameaçaram sair do PS acompanhados por uma juventude que entende o socialismo para o crescimento económico em benefício da população, não da subordinação vergonhosa à «financeirização» dos agiotas. Adriano Moreira, antigo líder do CDS, denominou o termo «salvação nacional» de «esdrúxulo» nesta situação em que não há acordo possível no entendimento do caminho para evitar a derrocada do País entre pessoas com ambições pessoais opostas.
O bom senso começa a criar uma aproximação de antigos adversários com a proposta de esquerda (no Parlamento e em manifestações populares por todo o país) que vem sendo repetida desde o início da subordinação ao comando da troika, de que o programa do Governo está errado desde o seu nascimento (como confessou o seu ex-ministro das Finanças) por não levar em consideração a vida dos trabalhadores que produzem a salvação e a independência nacionais e só agir como agiota autoritário.
Qualquer criança é capaz de compreender que os governantes devem ser escolhidos pela maioria da populaçãose estiverem decididos e capacitados para organizar o trabalho produtivo que garante emprego para a população ativa, assegurar o funcionamento das escolas, dos serviços de saúde, as reformas para quem já não está em condições de trabalhar. E mais, defender a independência de Portugal que não será colónia de nenhum poder externo. Esta é a alternativa patriótica capaz de unir os portugueses que conservam o bom senso e o ato eleitoral é urgente.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Confronto entre duas visões de mundo




O belíssimo discurso feito pelo Presidente do Uruguai no Congresso da ONU em NY levantou uma questão que sempre dividiu a humanidade - entre exploradores e explorados - que os estudos da História e da Antropologia investigaram, com riqueza de análises, nos acontecimentos que cercaram os "Descobrimentos" no século XVI.

Sem reduzir as observações às questões meramente económicas da apropriação pela força e o poder, do produto do trabalho individual ou coletivo, impõe-se hoje a partir das informações científicas já registadas pelos investigadores de todas as universidades mundiais, refletir sobre as formas de imposição de objetivos práticos, mesquinhos e criminosos, pelos que ocupam posição de domínio político sobre a humanidade que deles depende para desenvolver as suas capacidades humanas de vida, ou seja, do desenvolvimento físico, mental e material.

Darcy Ribeiro, no livro "O Povo Brasileiro" (Companhia das Letras 1995, SP/Brasil), relata com maestria a confiança com que os indígenas receberam os "descobridores europeus",  com a curiosidade ingênua e respeitosa de quem admira pessoas que agem com segurança e força devidas a formas de conhecimento diferentes das suas. Dentro das suas crenças míticas identificaram os homens brancos com roupas e armas desconhecidas como capazes de lhes ensinar a aperfeiçoar a vida, como os deuses ou os "mais velhos" faziam. A ingenuidade revela a confiança que a humanidade em sua pureza natural sempre tem, antes de conhecer a maldade e o egoísmo que fazem do visitante um inimigo. Corresponde ao sentimento de uma criança ou de quem viveu protegido pela solidariedade em sua comunidade isolada.

O autor refere as surpresas crescentes que despertaram o medo e o ódio dos indígenas, destruindo a ingenuidade e, portanto, a confiança naqueles seres que pretenderam escravizá- los, usá-los como objetos de uso pessoal, formá-los para que aceitassem sem contestação o novo modelo de crenças e de vida. Através do ensino praticado sob a forma de catequese e superação da condição de "selvagens", como era entendida a simplicidade natural, os "descobridores" acreditaram trazer a "civilização para aqueles seres inferiores" ao mesmo tempo em que recolhiam os lucros que enriqueciam primeiro os seus reis e senhores e depois a eles próprios que passavam de servidores a patrões e donos de escravos, como se fossem pequenos reis.

A preparação profissional estava entrelaçada com a criação de hábitos de vida e, sobretudo, de crenças que baniam as tradições tribais e introduziam um novo Deus que condenava como pecados os conceitos ancestrais de vida dos ancestrais. Assim, além de destruir a cultura daqueles povos, culpavam os seus "mais velhos" pelos males existentes que agora eram revelados na subordinação a que eram forçados. Modernamente poderiamos dizer que os indígenas foram "formatados" pelos novos ocupantes das suas terras. Isto no século XVI com o peso da Idade Média na formação do Terceiro Mundo.


Que disse ao mundo o Presidente Mujica, do Uruguai, nos Estados Unidos em 2013, cinco séculos depois do povoamento "civilizado" no Terceiro Mundo?
"Hemos sacrificado los viejos dioses inmateriales, y ocupamos el templo con el Dios Mercado. Él nos organiza la economía, la Política, los hábitos, la vida y hasta nos financia en cuotas y tarjetas, la apariencia de felicidad. Parecería que hemos nacido sólo para consumir y consumir y cuando no podemos cargamos con la frustración, la pobreza y la autoexclusión. Lo cierto hoy, que para gastar y enterrar detritos, la llamada huella de carbono por la ciencia, dice que si la humanidad total aspira a vivir como un norteamericano medio, serían necesarios tres Planetas. Es decir: nuestra civilización montó un desafío mentiroso y así como vamos, no es posible para Todos colmar este “sentido de la vida” que en los hechos masifica como cultura nuestra época dirigida por la acumulación y el Mercado. Prometemos una vida de derroche y despilfarro, que constituye una cuenta regresiva contra la naturaleza, y contra la humanidad como futuro. Civilización contra la sencillez, contra la sobriedad, contra todos los ciclos naturales, pero lo peor, civilización contra la libertad que supone Tiempo para vivir las relaciones humanas, amor, amistad, aventura, solidaridad, familia. Civilización contra el tiempo libre que no paga y puede gozar escudriñando la naturaleza. Arrasamos las selvas verdaderas, e implantamos selvas anónimas de cemento. Enfrentamos al sedentarismo con caminadores, al insomnio con pastillas, a la soledad con electrónica…. ¿Es que somos felices alejados de lo eterno humano? Aturdidos, huimos de nuestra Biología que defiende la vida por la vida misma como causa superior y la suplantamos por el consumismo funcional a la acumulación. La política, eterna madre del acontecer humano, quedó engrillada a la economía y al Mercado."

Os povos latino-americanos aprenderam os usos e costumes dos europeus e mais, formaram-se como cientistas e profissionais em todas as matérias aplicadas ao desenvolvimento do sistema capitalista que define as bases do atual modelo global das sociedades. "Descobriram" a Europa e o resto do mundo, aprenderam que uma elite rica e poderosa governa o mundo e escravisa todos os trabalhadores nos países capitalistas impondo-lhes sacrifícios e misérias para que prolonguem a sua dependência e continuem a enriquecer o poder imperial, ameaçando com invasões e bombardeios os povos que lutam pela sua libertação, espionando como qualquer bandido os governos democráticos que conseguem desenvolver a consciência de cidadania dos seus povos.

A verdade relatada por Pepe Mujica, presidente do Uruguai, é dura e parece ser permanente, já que prolonga os efeitos nocivos da ignorância medieval por séculos. A História, no entanto, mostra que as transformações mundiais são lentas, com avanços e retrocessos, mas inexorável com o acumular de conhecimentos e a abertura democrática do acesso à informação e ao combate aos preconceitos que estabelece a igualdade de capacidade intelectual e de direitos entre todos os seres humanos.

Existe ainda a confiança e a aparente ingenuidade nos seres humanos que têm ideais e creem nos valores éticos da humanidade. Não fosse assim, a ambição dos que detêm o poder teria produzido uma população desesperada e enlouquecida que hoje dominaria com crimes e violência todo o planeta. Caminha-se neste sentido e o terrorismo inspirado na ação autoritária e criminosa da elite imperial espalha-se por todos os continentes. A gravidade de tal situação, nos nossos dias, tem despertado a consciência em muita gente que estava alienada à sombra da elite.

O perigo é visível, mas as manifestações dos que lutam pela Paz e por uma vida mais justa para os povos, têm vencido a inércia dos que se acomodaram com as ilusões do consumismo e de um Deus Mercado criado para destruir a capacidade filosófica dos seres humanos. A democracia é um valor que penetra nas mentes ativas, permitindo que não exista o medo de pensar e dar opiniões baseadas nos princípios que a humanidade elaborou a partir da sensibilidade e do conhecimento adquirido em contato com a realidade natural e social.
                           




quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Estado ao nível do seu povo

                                                              


As manifestações de protesto popular surgiam pontualmente um pouco por todo o país, até eclodir um movimento de jovens, com maior força, em junho de 2013 em São Paulo e outras grandes cidades. A mídia tentou tirar proveito liderando um grupo de oposição ao Governo Dilma que foi logo desmascarado como baderneiro com alianças com o crime organizado.


A esquerda mais lúcida agiu prontamente, o que permitiu dar corpo partidário aos protestos conscientes contra falhas do Estado que o próprio Governo ainda não conseguiu superar com o seu equilíbrio de forças coligadas.

O caminho democrático da emancipação nacional no Brasil pode ser estudado historicamente na sua fase mais lenta, mas com a eleição de Lula a velocidade das transformações aumentou devido a dois fatores: a expansão de uma consciência social que se aprofundara durante a repressão ditatorial aflorando e explodindo com a abertura democrática do Governo, e os trabalhos de participação popular que, na esteira dos Governos de Lula e de Dilma, as forças e movimentos de esquerda desenvolveram junto às populações marginalizadas paralelamente às ações progressistas oficiais. 

A meta a ser atingida passava por soluções imediatas de melhoria das condições econômicas e sociais de vida com a organização de trabalhos geridos de forma cooperativa, a formação técnica e profissional, a inserção nas instituições nacionais, a criação de infraestruturas básicas de vida rural, na moderna orientação da educação e, consequentemente, no desenvolvimento da consciência de cidadania.

A rapidez com que surgiu uma nova geração consciente dos seus direitos e da sua força para apoiar os programas enunciados pelo Governo exigindo soluções concretas, ultrapassou em um primeiro momento o ritmo da esquerda coligada. Foi dado um salto qualitativo que todos os autores marxistas explicam ao escreverem sobre a dialética. 

Em Portugal de Abril, durante o brevíssimo governo revolucionário de Vasco Gonçalves (10 meses de nacionalizações e reforma agrária em que se introduziu a estrutura democrática no Estado, a qual a social-democracia comandada por Mário Soares levou anos para destruir) comentava-se sempre a necessidade de entender os fundamentos da dialética para não perder o carro ultrarrápido das transformações mentais da população trabalhadora. "Acorda, camarada, que a dialética está dinamizada e tu ficas no caminho". Alguns ficaram, mas a grande massa trabalhadora e seus líderes voltaram à carga com estrondosas manifestações contra a perversa política imposta agora à Europa pela União Europeia e o FMI.

A adoção do discurso democrático por setores que apoiaram Lula e apoiam Dilma, paira como uma promessa no alto das instituições nacionais. Para que penetre na circulação não bastam novos organogramas e racionalizações administrativas que aparecem transparentes nos sites ministeriais. A interpretação de leis e normas herdadas de um passado elitista deve ser revista à luz da democracia. 

Assim como o combate aos preconceitos que discriminavam os mais pobres e humildes da população melhorou o atendimento direto ao público, é preciso aprofundar o respeito humano para que as informações e orientações dadas pelos funcionários com o apoio das respectivas chefias seja clara, honesta e verdadeira. Nem sempre isto acontece e, para agravar a contradição antidemocrática que o cidadão enfrenta no dia a dia junto a balcões do INSS ou da Saúde, por exemplo, aquele que adquiriu consciência de cidadania é hostilizado, boicotado e sofre represálias quando recorre aos órgãos existentes para corrigir os abusos e incompetências dos serviços públicos.

A consciência dos nossos direitos introduz a liberdade na nossa vida social. A responsabilidade de um Governo democrático é garantir a liberdade aos cidadãos que não estão prejudicando outros. As camadas populares darão o seu apoio à democratização das instituições nacionais informando sobre as eventuais falhas que persistem. Comissões de trabalhadores sindicalizados e de moradores serão os que zelam pela democratização a nível local para manter uma sintonia entre os programas elaborados em cima e os produtos apresentados na base como resposta à reivindicação do cidadão.

As questões relativas ao transporte despoletaram mais depressa esta necessidade de ação coletiva porque não existe uma instituição que canalize respostas pessoais. O produto é entregue à população inteira todos os dias. O mesmo ocorre com a recolha do lixo, manutenção de ruas e calçadas ou estradas, a segurança pública, o controle das enchentes, etc.

A consciência popular impõe a existência de um Estado com um nível compatível com o da sua liberdade de pensamento e de expressão. Já não há medos de punições arbitrárias, não são mais admitidas as formulas de desprezo e humilhação com que o cidadão discriminado era tratado. As incongruências e falsidades que frequentemente emperravam (e emperram hoje) os processos atrás das cortinas burocráticas nos serviços públicos têm de ser discutidas e resolvidas pelas chefias em curto prazo. As denúncias feitas em nome dos direitos de cidadania não visam pessoas mas sim questões profissionais que barram o fluxo da democracia nos canais do serviço público. Se envolvem pessoas, esta questão será tratada à parte pelo setor judiciário e policial.

As estruturas sindicais, de movimentos sociais e partidárias acompanhando de perto as ocorrências locais que exigem solução superior, estarão mais bem informadas sobre a realidade e poderão agir junto aos níveis superiores da estrutura política. Ao mesmo tempo poderão conduzir os que estão desesperados por se sentirem isolados à condição equilibrada dos que têm consciência e percebem que a sua contribuição constrói o processo de transformação.

Zillah Branco é cientista social, militante comunista, colaboradora do Vermelho e integrante do Conselho do Cebrapaz

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A paz no mundo está por um fio


 


Os Estados Unidos afundam a sua população na crise produzida pelo sistema financeiro que controla a política nacional, desvendando uma crescente miséria da classe média, cuja cultura tem sido moldada pela mídia a serviço dos desmandos imperiais. Famílias inteiras perdem os empregos e as casas, passando a viver dentro dos seus carros. A Califórnia passa de um desastre climático para outro sem capacidade para sequer proteger a vida dos habitantes.


O democrata Obama traiu os seus eleitores que esperavam que um negro ao vencer o preconceito racial representaria o lado humanista dos norte-americanos que lutam pela paz e os direitos humanos, desde que apresentou um discurso a favor da guerra ao receber o prêmio Nobel da Paz que ficou para sempre desprestigiado.

Em busca de mercado para as indústrias de armas e de produtos químicos e farmacêuticos, repetem a mesma falsa acusação (reconhecida pelas autoridades norte- americanas) utilizada para explicar a injustificável destruição do Iraque, agora contra a Síria. Ao mesmo tempo, a Otan bombardeia o Afeganistão e a CIA provoca conflitos no Egito, na Turquia e em países africanos.

Os casos de jovens e mesmo crianças tornados assassinos pela cultura orientada no fomento da violência e da loucura social pelos canais de televisão como a FOX e outros, além dos jogos criminosos que alienam o ser humano negando a capacidade de amar e respeitar os seus semelhantes, marcam a sociedade norte-americana como uma fábrica de robôs para servirem à escalada assassina do império.

Na Europa, o FMI impõe o empobrecimento da Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália para favorecer a centralização da capacidade de produção econômica nos aliados ricos, especialmente Alemanha e Inglaterra. Comete visíveis erros de análise que provoca desemprego e prejuízos sociais incontroláveis e reconhece as falhas, visíveis até para personalidades mais cultas da direita, afirmando que repetiria os mesmos erros se necessário. As informações veiculadas pela Troica (Banco Cerntral Europeu, FMI e Comissão Europeia) através de governos submissos nos países mais pobres, são de tal maneira mentirosas e indefensáveis que a mídia começa a revelar a realidade que as populações organizadas por sindicatos e associações sociais apresentam nas manifestações cada vez maiores contra a destruição da democracia, o crescente desemprego, a fome que assola famílias e prejudica o crescimento das crianças, os suicídios e casos de loucura. Com o pretexto de pagar as dívidas, enriquecem os setores financeiros e destroem o país.

Na Alemanha cresce a composição neonazista com uma mistura de discursos nacionalistas e radicais que confunde jovens de diferentes tendências diante do desespero que destrói qualquer esperança de vida equilibrada. É um rastilho que aparece um pouco por todos os demais países, como ocorreu sob a liderança de Hitler na Segunda Guerra Mundial.

Grandes manifestações em todas as nações, pela Paz Mundial, serão uma barreira ao caminho que tem sido preparado e anunciado pelo Imperialismo que não poderá ter êxito nesta marcha destruidora sem os soldados que são cidadãos normais. A humanidade é mais forte que a elite criminosa que ocupa os cargos de poder assegurados pelo sistema que está falido.

Zillah Branco é cientista social, militante comunista, colaboradora do Vermelho e integrante do Conselho do Cebrapaz




quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A gestão da pobreza


Por Zillah Branco*, para o Vermelho



Em uma voo de Lisboa ao Brasil conheci alguns jovens que comemoravam o final de um curso de Administração com uma viagem pelo interior do território brasileiro. 


Perguntaram- me sobre lugares fora dos habituais circuitos turísticos ( que já conheciam por vídeos e tv). Falei sobre as diferenças acentuadas entre as regiões devido à fixação de imigrantes de várias nações europeias que marcaram com as suas culturas o tipo de cidades e de produção que compõem uma colcha de retalhos muito interessante.

"Será que isto determina também uma variação no tipo de administração que praticam? ", perguntaram. recomende-lhes a leitura de trabalhos feitos por especialistas em Geografia Humana e o grande mestre nessa matéria que foi Milton Santos, autor de "A Natureza do Espaço" (1996).

A conversa continuou dexando-me encantada com uma juventude que fez um curso que habitualmente dá maior enfase à gestão empresarial, tendo em vista o sucesso no mercado, com o ideal do "lucro", mas que revelava interesse pela administração pública adequada à realidade social das regiões.

Sugeri que recolhessem dados para um estudo que nunca encontrei divulgado: "A gestão da pobreza". O interior do Brasil oferecia (hoje alterados pela política "Fome Zero" criada pelo governo Lula em 2003) fartos exemplos de populações que, de tão miseráveis viviam marginalizados das instituições sociais e do sistema de trabalho no país. Como conseguem sobreviver estes milhões de brasileiros, que muitos deles nem o registo de nascimento têm? Como gerem os recursos mínimos que conseguem obter? Os jovens comentaram que um projeto sobre esta realidade daria uma tese de doutoramento muito polêmica.

Lembrei-me do aprendizado que fiz, tanto no Brasil, como no Chile, em Portugal e em Cabo Verde, observando a capacidade de pessoas com diferentes graus de pobreza garantirem um alimento essencial à sobrevivência. A capacidade de organização e gestão de recursos escassos exige inteligência e firmeza especiais. Em Cabo Verde conheci uma família que à entrada de uma casa paupérrima, mantinha um verdadeiro jardim em vasos de lata que impressionava pela beleza verde onda a falta de água impede a existência de canalização. Demonstrei a minha surpreza perguntando como faziam aquele "milagre"em um país sem rios. Explicaram que toda a família quando lavava as mãos ou os pratos e panelas iam distribuindo a água pelos vasos de modo a manter o verde.

Os exemplos são muitos nas zonas rurais de Portugal, contados como situações do passado que os programas de austeridade (trazidos pela Troika e seu comparsa FMI) trouxeram para hoje. No Alentejo, antes da Revolução dos Cravos, era comum haver para a sopa, servida à família de trabalhadores agrícolas, apenas uma sardinha ou um chouriço que a mãe partia para que todos tivessem um naco coroando o prato de pão que recebia o caldo do cozimento daquele petisco com alho ou ervas. Outra demonstração de planeamento vitorioso é na Ilha da Madeira e regiões do centro e norte de Portugal, a formação de terrenos de cultivo, em solo empedrado, com a cobertura de terra transportada em sacos às costas por antigos agricultores. 

No sul do Chile aprendi com os trabalhadores rurais mapuches a enganar a fome tomando chicha de maçã com um pouco de farinha de trigo torrada misturada. Fez-me recordar um hábito de índios guarani do litoral de São Paulo, no Brasil, que quando criança visitávamos com meus pais, que nos ofereciam café com farinha de mandioca granulada ( manema) misturada, para alimentar como o pão que não tinham.

Há uma infinidade de soluções para amenizar a fome que, certamente, os pobres de todo o mundo poderiam ensinar como sobreviver sem os recursos que os mais ricos desperdiçam sem qualquer sensibilidade humana. O desprezo soberano que leva muita gente a repudiar as soluções inteligentes de populações pobres para poderem sobreviver é o resultado da discriminação social que está na base da cultura das elites. Não lhes basta a possibilidade de comer e viver melhor, precisam demonstrar que podem destruir ou deitar no lixo o que poderia servir a outros. A ideia de solidariedade é, neste caso, o contrário da sua formação de administradores porque reduz o lucro e, portanto o seu poder.

Os programas da Troika/FMI aplicados na Grécia e Portugal não deram certo (como foi publicamente reconhecido pelos seus autores quando crescem as manifestações populares) e os Ministros das Finanças que executarm os erros pedem demissão e são promovidos a conselheiros em altos cargos. Em boa verdade os mandantes da Troika/FMI mentem ao referirem o próprio erro, pois voltam a fazer um percurso alternativo para destruir a capacidade produtiva dos países mais pobres com a esperança que a população desista de lutar contra esta forma de colonização e esbulho dos recursos financeiros dos contribuintes. Seguem o modelo incompetente dos administradores e gestores que desprezam a inteligência, a criatividade e a dignidade dos que consideram a vida humana como um valor muito maior do que a riqueza e o poder dos tecnocratas da política que vendem a Pátria.

*Zillah Branco é cientista social, militante comunista e colaboradora do Vermelho