quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O Presidente dos EUA vai nú

Com a divulgação do relatório da CIA em que são descritas as formas de violência praticadas contra prisioneiros considerados "terroristas", o Presidente Obama reconheceu públicamente que "agimos contra os nossos princípios". É uma confissão importante, pessoal, como norte-americano responsável pela condução do país, por isso "foi nú". Mas não foi uma auto-crítica como Presidente da maior potência imperialista, pois nada referiu das consequência dessas práticas terroristas contra prisioneiros estrangeiros, supostamente vinculados a grupos que ameaçam a paz mundial, que constituiram provas "forjadas" de que nações como Afeganistão, Iraque, Líbia, Egito, e tantas outras do Oriente Médio e norte de África, deveriam ser invadidas com o apoio da OTAN.

As revelações sobre o caminho imperialista nos últimos anos têm se sucedido com grande frequência, constituindo matéria da mídia internacional que já não pode negar as evidências tantos milhares de vezes reveladas por organizações políticas de esquerda e associações democráticas com fins humanistas. O asilo a que se submeteu Assange na embaixada do Equador tornou-se também um meio de comunicação sobre as pérfidas manobras da CIA utiliza para controlar as redes de internet consideradas livres. Ele diz hoje que a "Google é mais poderosa que o Vaticano", e ninguém duvida pois, na realidade, todos já sabiam ou desconfiavam de que a comunicação por internet passa sempre pela vista da CIA e servem ao domínio imperial.

O trágico diante de todas estas revelações, é que pessoas como o Presidente norte-americano e outros aliados preferem andar singelamente nús para ganharem o "caminho do céu" sem perderem o do inferno que abrem como políticos alimentando guerras e chacinas. Contam sempre com a possibilidade farisaica de pedirem perdão depois.

As notícias divulgadas por organismos da ONU são gravíssimas: "Pelo menos 21 milhões de seres humanos no planeta sofrem novas formas de escravatura, denunciaram esta segunda-feira, 01/12/2014, especialistas das Nações Unidas em direitos humanos, considerando que é necessário vontade política para combater o flagelo.

Entre as formas mais comuns desta escravatura dos tempos modernos conta-se o trabalho nas minas e explorações agrícolas, a exploração sexual e vários trabalhos na economia paralela.
As mulheres e crianças do sexo feminino representam a maioria dos que se encontram em situação idêntica aos antigos escravos, afirmou a relatora especial para as Formas Modernas de Escravatura, Urmila Bhoola, ao apresentar uma declaração a propósito do Dia para a Abolição da Escravatura, que se assinalou no dia 02/dezembro

Segundo a jurista sul-africana, as estatísticas sobre este flagelo não incluem os 168 milhões de menores submetidos ao trabalho infantil, metade dos quais em trabalhos perigosos, o que revela bem a dimensão do problema.

Na declaração conjunta subscrita pela relatora Bhoola, pelo relator especial para a Venda e a Exploração Sexual de Crianças, Maud de Boer-Buquicchio, e pela relatora especial para o Tráfico de Pessoas, Grazia Giammarinaro, exige-se que os estados cumpram as suas obrigações face às leis internacionais sobre direitos humanos e se empenhem mais para eliminar o flagelo da nova escravatura. Os três especialistas pedem ainda que as negociações em curso para fixar a agenda de desenvolvimento sustentável após 2015 tenham em conta a erradicação deste flagelo".

Mas nem todos os crimes imperiais podem ser visíveis. Os países subdesenvolvidos, do terceiro mundo, agora chamados de "em desenvolvimento", têm a sua moeda amarrada ao comando financeiro do império e obrigam-se a fazer os seus orçamentos sob a fiscalização dos Bancos que distribuem créditos conforme o interesse do Mercado Mundial. Todo o sistema financeiro obedece ao império, que é um invasor invisível com leis próprias acima das Constituições nacionais. Pelo aumento do desemprego, pelo aumento de impostos e redução de salários, pela exclusão social e sacrifício dos idosos, pela miséria que alastra negando a qualidade de vida às crianças e jovens que se formam sem apoio social, depois pedirão perdão e mandarão flores aos enterros.

Basta de exploração! Que os cínicos governantes enfrentem os problemas sem cometerem os crimes contra a humanidade. Não há perdão para os que se protegem com falsas confissões.

Zillah Branco


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Participação de toda a sociedade pelo desenvolvimento nacional

Dilma na reunião do G20, (Austrália, Novembro/2014) referiu o se critério para efetuar cortes na economia visando à retomada do crescimento. A presidenta disse que nem todos ajustes são feitos pelo lado de cortar a demanda. “Não se pode achar que com restrições a economia se recupera. Você tem de selecionar aquilo que pode dar maior nível de investimento e, portanto, maior capacidade de recuperação”. “Não defendemos que a melhor política seja a restrição da demanda como forma de sair da crise. Não é. E isso está provado na própria União Europeia”, acrescentou ao defender a redução de despesas consideradas “não legítimas” ou excessivas.

“Você tem no Brasil um conjunto de gastos e de despesas que não levam, necessariamente, à ampliação do investimento, nem à ampliação do consumo.  São aquelas que nós consideramos que podem ser cortadas”, acrescentou. Referiu ainda as necessidades sociais a serem atendidas através dos serviços públicos, como a educação por exemplo, que reverterá em benefício também da economia através do desenvolvimento da capacidade produtiva e de participação social.

Esta interação do desenvolvimento com a efetiva participação social tem recebido o apoio direto da Presidência. Já foi publicada uma orientação jurídica para a constituição de grupos de debates entre representantes dos três poderes e dos movimentos sociais, por todo o país, para concretizar o caminho da participação popular na avaliação das prioridades dos problemas a serem sanados.

O Governo tem agido com cautela no atendimento às exigências de forças políticas que defendem interesses empresariais e pessoais para colaborarem na democratização nacional, o que tem permitido grandes passos no sentido da inclusão social e no combate aos preconceitos sofridos pela maioria dos brasileiros privados dos direitos de cidadania.

As manifestações de trabalhadores e estudantes nos últimos anos tem demonstrado que houve um significativo avanço da consciência de cidadania e, inclusive de responsabilidade política, em camadas sociais que antes não valorizavam a necessidade de reivindicar coletivamente soluções para as suas carências. E mais, de participarem ao lado de um governo que se propõe a abrir caminhos para que toda a sociedade possa adaptar as suas condições e anseios a um programa de desenvolvimento sócio-econômico.

Os aumentos de salários dos membros do Governo, dos Juizes do STJ, de Empresas do Estado, (a nível comparável ao que ocorre nos países mais ricos da Europa) que estabelecem o teto das remunerações do serviço público, na ordem de uma relação com o salário nacional de 60 vezes maior, assinala uma distância de poder aquisitivo que contraria o princípio democrático que está na base do conceito de cidadania aplicado nas medidas de integração social de toda a população brasileira.  

A preocupação em aumentar a capacidade de enriquecimento dos membros superiores do Estado contraria o esforço, que é urgente ser concretizado, de corrigir as falhas dos serviços públicos - de saúde, educação, previdência social, abastecimento de energia, água, habitação e transporte - para colmatar as diferenças sócio-econômicas através do atendimento gratuito (ou a custo ponderado) de acordo com o rendimento dos que ainda recebem salários que os impossibilita de ter acesso à prestação de serviços privados como o faz o setor enriquecido da população.

As carências ainda existentes no mau funcionamento das instituições de caráter social do Estado brasileiro exigem prioridade em investimentos e fiscalização da legislação, administração e gestão, à altura da necessidade urgente de atendimento democrático de setores da população ainda discriminadas pesadamente em termos de recursos económicos e financeiros. 

Antes de se preocupar com a capacidade dos trabalhadores alcançarem uma situação de consumidores de bens que indiciam a classificação em classe média o Governo deverá priorizar o fomento de serviços sociais para que os cidadãos sobrevivam em condições básicas existentes para os estratos privilegiados da sociedade e na criação de empregos na produção nacional. Nessa perspectiva serão analisados os projetos de produção alimentar para consumo nacional, de infra-estruturas para o desenvolvimento, da expansão dos benefícios para as zonas mais pobres do território nacional que consolidam a economia brasileira em bases democráticas. Todas estes investimentos têm objetivos econômicos e sociais, cumprindo a necessidade de desenvolvimento das forças produtivas (mão de obra e empresas) e do mercado consumidor dos produtos nacionais.

Hoje, diante da insuperável crise do sistema capitalista, que só é mantido com o sacrifício dos mais pobres que sustentam com a sua miséria as empresas financeiras na delapidação dos recursos nacionais, os empresários e políticos mais honestos, e humanizados defendem o Estado de Direito. Assim tem recomendado o Papa Francisco, recordando os conceitos sociais da sua Igreja  e, por outro lado a China que introduz novas formulações na sua Constituição, adequando experiências ocidentais à filosofia oriental adotada há milênios. A humanidade cultiva os princípios básicos para a sua segurança: conhecimento da realidade, equilíbrio para convívio, ética, verdade, coragem para sonhar e abrir caminhos para o futuro. O ser humano é dotado de inteligência e sentimentos, aprende e cria.

A crise tem aumentado a pobreza nos Estados Unidos, na Europa e, consequentemente, nos países que ainda dependem dos seus mercados. Os efeitos mais nefastos ocorrem na África, mas também na Ásia e na América Latina, por força da globalização da exploração comandada por um grupo imperial. As nações que se uniram no BRICS defendem a esexxesolidariedade interna e estimulam a existência de instituições como a ALBA, a CELAC, o MERCOSUL e outras que surgem na região oriental com os mesmos princípios de independência nacional e solidariedade para fazer frente à ganância destruidora do império que pretende governas o mundo globalizado.

Apesar do silêncio da mídia, crescem em número os governos progressistas e mesmo a reflexão sobre a ideologia de esquerda por intelectuais de origem conservadora. A entrevista televisionada que o Juiz Baltasar Garzón, da Espanha, fez ao ex-presidente Lula, mostra a importância da participação de todos os que têm conhecimento da realidade na discussão e implementação dos princípios da Declaração dos Direitos Humanos que a ONU tem o dever de defender. 

O caminho da solidariedade e do Estado de Direito é a salvação da humanidade a nível planetário. E a vitória do povo brasileiro nas últimas eleições, revelando a maturidade política dos que defendem o interesse coletivo antes das suas reivindicações pessoais, para impedir à volta ao domínio da direita, foi o estímulo ao caminho da participação social que a Presidenta Dilma promove como eixo do seu governo. A luta continua, já!

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

 - Edição Nº2136  -  6-11-2014

O FMI e o seu rasto
de «décadas perdidas»
A América Latina conheceu a sua década perdida nos anos 80. Detectada a inoculação do vírus que reduz o PIB de cada nação controlado pelo FMI com a sua medicação neoliberal, reagiu com uma dose forte de democracia e soberania, e criou o Mercosul, a CELAC e sobretudo a ALBA com o seu carácter anti-imperialista para efectuarem a vacina em todo o continente unido. Mas o império, ao perder a antiga clientela submissa emigrou para a Europa depois do início do século XXI, além de continuar a destruir os países árabes onde o petróleo jorrava.
Coincidiu com os objectivos das grandes empresas financeiras europeias que conduzem bancos e seguros à falência (fenómeno ocorrido nos Estados Unidos onde foram formados os «especialistas» que hoje estão no topo da União Europeia, como Moedas e outros notáveis...), a criação de fortunas familiares de uma elite esbanjadora e de governantes «facilitadores» que vendem ao desbarato o património nacional para remediar as dívidas contraídas com Bancos Centrais internacionais e reduzir à miséria os trabalhadores dos países mais pobres.
Curiosamente a Europa entra na fase da colonização, do lado oposto ao que esteve no século XVI, e a União Europeia, ao contrário da CELAC latino-americana, associa-se ao FMI para iniciar a «década perdida» no continente que sustentou longamente o título de «civilizador» para o mundo.
Portugal, assim como outras nações pobres da Europa, exporta trabalhadores e universitários recém-formados, reduz o número de nascimentos, apressa a morte dos idosos mal alimentados e decepcionados com as traições da política anti-social, fecha empresas e interrompe produções nacionais, desorganiza os sistemas de Justiça, Educação e Saúde, espolia os recursos familiares através de impostos e cortes nos antigos benefícios previdenciários.
Mas os países mais ricos também sacrificam os seus povos: a Alemanha teve uma redução de quatro por cento na produção industrial, o que determina a desaceleração da economia, está previsto um rescimento de 1.5 por cento do PIB para este ano e um crescimento provavelmente nulo em 2015. Sofrerão mais os que lá estão como imigrantes.
Isto para não falar da preocupação que hoje afecta todos os países do continente, onde foi definida a necessidade do Estado Social para a sobrevivência do capitalismo.
O jornalista alemão Harald Schuman entrevistou (e divulgou a gravação na Internet) vários governos europeus a quem fez a pergunta: «Se a Europa salva os bancos, quem paga?» Eles responderam que «estão a salvar a economia da Europa, mas sabemos que os beneficiários são os bancos escolhidos pelo Banco Central».
Um estudo do Credit Suisse (referido pelo jornal The Guardian) mostra a «aceleração da desigualdade, em que o um por cento mais rico da população mundial enriquece mais rapidamente do que o restante da humanidade – as 85 pessoas mais ricas do mundo dispõem de um trilião de libras esterlinas, que corresponde ao que sobra para os 3,5 mil milhões da população mais pobre». Os media, para sobreviverem como órgãos de informação, deixam passar pedaços de verdades que correspondem ao que a realidade sempre mostrou a quem a estuda.
O sacrifício das populações europeias, onde os governantes aceitam o vírus do FMI (combatido na América Latina), começa a ser também denunciado por pessoas que estiveram caladas no seu conservadorismo durante os últimos 20 anos em que os partidos comunistas alertaram para este risco criado pelo euro manipulado pelo Banco Central da União Europeia. Sempre é tempo de aplicar a vacina para salvar as economias nacionais e extirpar o vírus financeiro que está a destruir a humanidade.


Zillah Branco 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014



As sementes do terrorismo

Zillah Branco *

O início do século 20 foi marcado pela divulgação das ideias democráticas debatidas e aprofundadas desde a Revolução Francesa. O avanço do conhecimento técnico permitiu a circulação rápida das notícias e os debates sobre as lutas sociais.


Os Estados Unidos da América apareceu como vencedor na conquista da independência nacional contra os colonizadores europeus e recebeu dos democratas francesas a estátua da Liberdade que marca ainda o porto de New York por onde entram os imigrantes que sonham com um mundo novo. Novas relações de produção eram criadas para por fim à escravidão, substituída pelo proletariado empobrecido na Europa.

A literatura norte-americana, com Steinbeck, Howard Fast, Michel Moore, e tantos outros que eram capazes de promover a esperança dos que lutam pela superação dos problemas de uma sociedade nova que se constrói a partir dos princípios éticos de um povo heroico que venceu a opressão e o lucro económico gerado pela escravidão e a espoliação nacional. Com os recursos do cinema aquela literatura ganhou uma nova dimensão que se difundiu pelo mundo.
Foi a época dos grandes movimentos sociais, como o das mulheres em defesa dos direitos de cidadania equivalente ao dos homens, o das lutas sindicais por uma legislação do trabalho contra os abusos da exploração capitalista, o da criação da escola pública e da definição de um sistema de saúde pública, que lançavam a base de um Estado Social. A Revolução Russa deu, naquela época, o grande passo para a implantação de um sistema socialista com a abolição de um poder da elite que detinha o controle financeiro nacional.

Contra a força das ideias democráticas que condicionavam nos países capitalistas o poder da elite dominante surgem, então, grupos de oposição que se especializam nos serviços secretos que minam a sociedade por baixo do cenário democrático que levava os povos a despertarem para o seu direito à liberdade e aos benefícios sociais. Esta forma de oposição tornou-se supranacional desencadeando o combate ao socialismo. Nos Estados Unidos a perseguição "mackartista" destruiu livros, filmes, e seus autores; tornou ilegal o Partido Comunista; nos países subdesenvolvidos da América Latina apoiaram governos ditatoriais que seguiram o seu modelo; na Europa desenvolvida encontraram o caminho aberto pelo fascismo que desencadeou as duas grandes guerras mundiais e agiram na sombra.

Com o fim da guerra, vencida pelos aliados capitalistas com o decisivo apoio da União Soviética, a oposição subterrânea multinacional, a que se chamou "imperialismo", detonou a "guerra fria". Com o controle do poder financeiro e militar das sociedades capitalistas, passou a agir por meio da cultura e dos meios de comunicação social na formação mental das populações que se defendiam com o apoio das instituições públicas para assegurar os princípios do bem comum e das organizações de luta por direitos humanos e sociais. A URSS aguentou perto de oito décadas o assédio criminoso constante, enquanto apoiou os povos de todo o mundo na luta pela independência e desenvolvimento dos seus países.

A Alemanha vencida recebeu financiamentos do sistema financeiro capitalista para ressurgir como poder económico e militar e os países mais ricos da Europa foram reconstruídos sob o modelo norte-americano. Foi criado o Estado de Israel em terras povoadas por palestinos com o compromisso de convívio harmonioso o que logo se tornou impossível ao ser transformado em braço armado dos Estados Unidos.

Para a necessária vigilância para garantir a paz mundial e o desenvolvimento equilibrado das nações foi criada a ONU, que tanto defende princípios de Estados Sociais e divulga os conhecimentos científicos e culturais, como mantém a Nato para as intervenções militares que forem consideradas importantes para a estabilidade planetária. Toda essa estrutura seria válida para a implementação da democracia não fosse ser comandada pelas nações mais ricas em defesa dos próprios interesses expansionistas.

Sem entrar na descrição das crises normais ao sistema capitalista, enquanto que a de 1929 foi contornada nos Estados Unidos com um programa de desenvolvimento das infraestruturas nacionais, garantia de empregos aos trabalhadores com o estímulo à produção interna e o combate jurídico aos monopólios empresariais, a crise atual agravou a cobiça do poder imperial (que controla os governos submissos eleitos com o seu apoio) pelas economias populares de nações desenvolvidas impondo cortes orçamentais que comprometem o nível de vida existente e um regime de austeridade que empobrece as populações. Por outro lado, a Nato coordena invasões onde os governantes defendem a autonomia nacional em regiões geoestratégicas dotadas de fontes de riqueza mineral no Oriente Médio e norte da África. Para criar uma aparente justificava para manter em pleno século 21 ações de conquistas bárbaras e prepotentes, como ocorriam há milénios nos primórdios da história da humanidade, as operações militares levam títulos mistificadores de "pacificação" ou de "ajuda a uma população oprimida". Assim foram feitas as guerras na Coreia e no Vietnam pelos EUA.

Na sequência deste comportamento imperial e bárbaro, a cultura subliminar da violência e da alienação que os meios de comunicação social divulgam por todo o planeta afasta as novas gerações das tradições sociais e humanistas dos povos rompendo o equilíbrio familiar e mental do jovem que, em desespero, segue o modelo do herói terrorista que povoa os cenários dentro dos quais são formados.

Não foi por acaso que surgiu uma poderosa seita com o nome de "Estado Islâmico" que destrói, em nome de uma religião originária do Oriente Médio, os povos que ainda defendem o seu direito à autonomia. Estes terroristas surgiram em substituição aos exércitos mercenários que serviram ao poder militar norte- americano quando invadiu e destruiu o Afeganistão e o Iraque, e a NATO que destroçou o Egito e a Líbia, além de provocar guerras civis na Jugoslávia assim como na Síria, Turquia, e em vários países cujos governos ousam afirmar a sua independência. De todos os países europeus têm partido grupos de jovens que, por espírito aventureiro e alienados pela cultura desestruturante dos princípios éticos e do sentido de responsabilidade social, para participarem da fantasia terrorista como se fosse um filme épico ao estilo de Hollyhood.

Esta formação espalha-se pelo mundo e só é contestada pelos movimentos de esquerda e democráticos que têm alcançado momentos de êxito como foi a Revolução dos Cravos em Portugal e o processo de independência hoje em curso na América Latina.

Abaixo reproduzo uma notícia (divulgada pelo site Pragmatismo Político 31/10/14), de Jorge Lima, Jornal GGN, onde se vê o caminho que vem sendo construído pela direita no Brasil na formação cultural de jovens da classe média e no comportamento de instituições de segurança nacional:

"Um ex-aluno do CPOR publicou no Facebook uma foto onde mostra um cartucho de fuzil e diz “Esta é para ti, Dilma”. Estou só esperando o toque da corneta.” O indivíduo vestia um uniforme do Exército Brasileiro, com as insígnias de oficial. Após a foto se tornar de conhecimento público, a conta foi apagada, e, entrevistado, o indivíduo afirmou que era uma brincadeira, e que alguém tornara a foto pública, o que não seria sua intenção. “Foi uma brincadeira. Obviamente, não foi uma coisa legal o que eu coloquei, é ambígua a foto, mas eu não sou terrorista, nunca fiz mal a ninguém”, disse.

Questionados por reportagem do G1, o Ministério da Defesa e a Polícia Federal deram as seguintes explicações: segundo o MD, o autor da ameaça serviu ao Exército em 1998, e não faz mais parte dos quadros da Força. O objeto exposto na foto é um chaveiro, portanto não há razão para que se investigue o fato. O uniforme usado no foto já não é mais usado, e o indivíduo apresenta-se com a barba por fazer, o que fere os regulamentos militares. Já a PF foi mais sucinta, dizendo que não cabe investigação por não se tratar de munição real."

A conivência com a formação terrorista alimenta a difusão de um virus tão ou mais mortífero que o ébola. É urgente o seu combate.


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O povo com Dilma aperfeiçoa o caminho democrático





Votaremos em Dilma para que o caminho que Lula abriu para fazer do Brasil um país democrático - ainda hoje cerceado por um sistema econômico injusto, capitalista, com má distribuição de renda e uma mídia vendida ao imperialismo - inclua a dignidade como padrão de responsabilidade cidadã.


Não acreditamos em contos de fadas e varinhas de condão que, em um passe de mágica, transforma terra seca em verde e corruptos em anjos. A vida é difícil para os que trabalham pela subsistência e formação dos seus filhos e para os que lutam contra a escravização do povo submisso a uma elite que desperdiça a fortuna roubada à maioria. Há 500 anos a América Latina foi ocupada pelos colonizadores europeus e em seguida pelos neocolonizadores que foram desenhando o poder dos milionários sobre a população trabalhadora escravizada. Era o Terceiro Mundo subdesenvolvido.

A história mundial desperta contradições porque a humanidade procura soluções para os problemas sem ficar fechada na mediocridade da elite exploradora. Hoje, a América Latina afirma as suas conquistas: A Revolução Cubana, o desenvolvimento econômico e social da Bolívia de cultura indígena, a projeção internacional da Venezuela de Chaves e Maduro no Conselho de Segurança da ONU, a parceria econômica e política do Brasil junto aos países mais ricos e a independência com que afirma a dignidade ao mundo, e tantas outras conquistas das demais nações latino-americanas que se tornaram modelo de democracia e liberdade. E o que vemos nos antigos colonizadores?

A Europa está sendo escravizada pelo Banco Central da União Europeia e o FMI, seus trabalhadores precisam emigrar para não morrerem de fome e para salvar os seus familiares que aguentam a miséria imposta pelos bancos das elites nacionais. Os Estados Unidos não conseguem esconder o caos em que a sua população mergulhou com milhões de pessoas vivendo em roulotes, acampados, sem emprego, vitimados pelas drogas e pelo modelo de violência propagado pela cultura nacional. A saída que encontram é através da corrupção dos mais fracos, da perda da dignidade política com a prática da mentira por governantes submissos, pelo crime da criação de grupos terroristas que desequilibram as sociedades da África e do Oriente Médio (como o Estado Islâmico) e pela utilização da indústria farmacêutica em função das guerras químicas.

Este é o quadro planetário onde poderemos escolher o que ofereceremos aos nossos filhos e netos: Luta pelo aperfeiçoamento da democracia e dignificação da humanidade capaz de criar um futuro equilibrado, ou o crime manipulado por uma elite egoísta e medíocre que se veste de verde e procura na transformação do lixo, na sordidez dos escândalos sociais e na destruição de nações mais frágeis o caminho da sua riqueza esbanjada ao longo dos séculos.

Voto em Dilma para poder continuar uma luta solidária com os povos que constroem a paz, para reduzir os sofrimentos dos que trabalham e lutam por melhores condições de vida, para afastar do poder a elite medíocre e falida que atraiçoa os mais legítimos valores humanitários contaminando e prostituindo os que ignoram que a vida está aberta a quem se solidariza com os outros e não guarda para si uma riqueza que é social. Voto para que o Brasil não retorne ao obscurantismo dos oligarcas e aos crimes dos exploradores.

sábado, 11 de outubro de 2014


Está em causa o processo de emancipação dos povos da AL

Zillah Branco *

A responsabilidade dos que atraiçoam um processo histórico - como o que ocorre no nosso continente e Lula introduziu no Brasil - por razões pessoais, de ambições mesquinhas, de incapacidade de ver que o coletivo é mais importante que as transitórias teorias inspiradas nas doces palavras dos que sempre pertenceram à elite servida por legiões de escravos para que pairem acima do povo oprimido, é a maior e mais imperdoável que um cidadão poderá suportar.


Não poderemos destruir o que foi construído pelos heróis que deram a vida para transformar gente abandonada em cidadãos e extrair dos seus valores, negados pelo analfabetismo e a humilhação impostas pelos poderosos, a força humana de soldados de uma luta revolucionária. Não podemos esquecer o significado da Coluna Prestes, de Antonio Conselheiro, da resistência à ditadura de 1964, de todas as batalhas da história brasileira que cimentaram o caminho da emancipação do nosso povo, assim como o exemplo de Fidel e Guevara e o apoio permanente da Cuba independente e de Hugo Chaves que trouxe o seu abraço entusiástico a Lula, o metalúrgico que foi empossado como presidente da República em 2003. A história é longa para ser aqui registrada, pois é a história de um processo de libertação dos seres humanos que foram colonizados e escravizados durante 500 anos e hoje convivem em pé de igualdade com as nações mais ricas do planeta.

Não podemos permitir que sejam traídas as lutas sofridas por tantos para que uma Marina Silva saísse da miséria para poder chegar ao Senado na equipe do PT e dali sair empolgada com os elogios por falar em defesa da natureza, como Obama declamando os discursos sobre a democracia. Ambos são hoje marionetes do imperialismo que se apresenta despudoradamente como defensor das causas populares - verdes e democratas - para receber o prêmio Nobel da Paz e desencadear uma terceira guerra mundial no Oriente Médio e na sofrida África, além de multiplicar as empresas que poluem o ar e aquecem todo o planeta sacudido por desequilíbrios climáticos.

Conclamamos os verdadeiros socialistas, que ainda se orgulham de Miguel Arraes como lutador que se sacrificou pelo povo sem pensar nas suas questões e simpatias pessoais, para que recordem a plêiade de camaradas do seu partido que soube criar como um único exército uma Frente Brasil Popular integrada com comunistas, cristãos, radicais ou ponderados, para fazer face à direita hoje representada pelo PSDB neoliberal; para que vejam a profundidade das conquistas democráticas alcançadas pelo Brasil nos últimos 12 anos e pela América Latina com a criação do Mercosul, da Celac, da Alba e o apoio a todas as nações irmãs que se levantam; para que não ponham em risco a longa luta tenaz e dura contra o poder imperialista que agora também os povos da Europa enfrentam para não serem colonizados ou destruídos por drones ou vírus pré-fabricados.

A luta é do povo, para a defesa do seu desenvolvimento humano e cidadão, não é um confronto entre personalidades orgulhosas dos seus valores pessoais e das ambições mesquinhas de poder.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ditadura e formação do PT


Ditadura e formação do PT

Zillah Branco *

Em 1964, diante do fortalecimento de tendências nacionalistas com Jango e projetos progressistas ligados à FAO e outros institutos de formação desenvolvimentista, como a CEPAL, atuantes na América Latina, com influência na área militar (ISEB no Brasil), o imperialismo infiltrou os países ainda democráticos para instaurar ditaduras sob o seu controle e assassinou Allende (1972) que furara o cerco.


A resistência popular no Brasil foi esmagada fascistamente pela polícia política apoiada por militares, tal como depois ocorreu no Chile sob ordens de Pinochet. A esquerda partidária dividiu-se entre guerrilheiros e socorro vermelho, destruindo as estruturas ligadas ao movimento internacionalista que entrou em colapso final com Gorbatchev na URSS em 1989.

Socialistas, comunistas (1) e democratas resistentes durante as décadas de 60 e 70 no Brasil, compuseram um partido dos trabalhadores - PT - de intelectuais, classe média com inspiração socialista e apoio social-democrata norte-americano, contando com um líder carismático operário Lula da Silva, humanista e patriota. Como único partido de esquerda não clandestino, atraiu várias tendências mais ou menos radicais e humanistas, unidos como opositores à ditadura - socialistas, nacionalistas, comunistas, cristãos, anarquistas, etc. A consciência social tomou como objetivo a promoção da classe média dentro do modelo consumista do sistema capitalista, a extinção da miséria e a marginalidade em que vivia 70% da população brasileira e os preconceitos que negam os direitos humanos Já conquistados na Europa.

Lula, com a sua intuição política de esquerda e profundo humanismo cristão, com consciência de operário e de brasileiro pobre, despido de orgulho individualista e dotado de natural sensibilidade e respeito elo ser humano, conquistou a confiança do povo brasileiro e de outros países. Dividiu o poder com aliados bem diferentes ideologicamente que reivindicaram postos públicos e compensações para o exercício das suas funções privadas e carreiras na estrutura de poder que mantiveram os vícios da antiga oligarquia em aparente equilíbrio com a formação nacional de uma consciência de cidadania que seria o esteio da democracia.

Dilma, sem o carisma pessoal de Lula, com formação técnica além de um respeitável passado de luta radical contra a ditadura, dedicou-se à promoção do país em termos econômico e financeiro, que ainda dependem estreitamente do mercado internacional e de uma classe média consumista. No final do seu mandato eclodiram as contradições entre a consciência de cidadania, que se expandiu no seio das novas gerações, a injusta distribuição da renda e dos serviços públicos essenciais ao exercício dos direitos sociais elementares, e a dependência do Estado E dos bancos em relação ao imperialismo, o que foi aproveitado pela mobilização popular feita pela direita e provocadores fornecidos pela rede do crime organizado pelo Império e seus aliados.

Até o dia 26/10 terá de surgir um compromisso claro da candidata com o povo para respeitar imediatamente um programa democrático com prazo marcado para a implementação da reforma política e da democratização dos serviços públicos essenciais. Os movimentos sociais serão os porta-vozes mais fiáveis para uma população que demonstrou a sua desconfiança no ato eleitoral. Estamos no fio da navalha, pois este caminho afastará os velhos oligarcas que ainda aparecem como aliados de uma democracia morna.

(1) Os dois partidos comunistas - o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB) - mantiveram-se independentes, mesmo clandestinos, e foram legalizados em 1985, após o fim da ditadura militar. A partir de 1989, o PCdoB, mantendo sua independência política, ideológica e orgânica, aliou-se ao PT em coligações eleitorais, (Nota da Redação do Vermelho)


sábado, 4 de outubro de 2014

O Brasil construído para o seu povo



A escolha de quem vai governar o Brasil é feita pelo cidadão consciente dos seus direitos democráticos, a partir de dois pontos de vista:
1. A vantagem pessoal para resolver problemas imediatos e assegurar um futuro tranquilo, ou abrir caminho para satisfazer ambições de elites dominantes; Ou
2. A melhoria das condições de vida da população brasileira com a superação dos grandes problemas - um país colonizado há 500 anos, neo-colonizado desde o séculoXVIII, governado pelos grupos oligárquicos nacionais aliados ao poder imperialista - que em 2002 elegeu como Presidente da República um filho da classe trabalhadora o qual deu início a um programa de desenvolvimento da Nação e do seu Povo, libertando a sociedade progressivamente das amarras criadas pelos privilégios das elites dominantes.

O período histórico em que os oligarcas brasileiros - donos de propriedades latifundiárias, empresas industriais ou bancos, que detinham o controle financeiro e dos sistemas de comercialização (interno ou externo) e a formação cultural e de informação social - evoluiu do embate entre nacionalistas e subordinados ao poder estrangeiro. A dependência do país subdesenvolvido aceitou que o poder elitista se infiltrasse por meio da moderna tecnologia nos setores da infra-estrutura do desenvolvimento nacional - da energia e transportes à formação profissional e cultural, que condicionaram a estrutura do Estado, os sistemas de saúde, de ensino, judicial, da previdência social, da segurança pública e militar, etc.

A mudança de perspectiva governamental iniciada em 2002 tem sido contínua e progressiva a favor da maioria dos brasileiros, com a extinção da fome e das condições de marginalidade em que viviam mais de 70% da população. Ninguém ignora ( e o Mundo aplaude) a importância da  "bolsa família" que conduz as famílias à integração social, assim como o combate persistente contra os preconceitos que discriminavam as mulheres diante do peso cultural do machismo e da violência, as diferentes origens étnicas, a falta de respeito humano pelos idosos, crianças e pessoas em situação de carências.

Ninguém desconhece a afirmação do Brasil no cenário internacional, de cabeça erguida diante da arrogância dos países ricos e neo-liberais. O prestígio deste renascimento do Brasil foi registrado na formação dos BRICS e na sua integração a nível internacional para decidir sobre a PAZ e os problemas que ameaçam a sobrevivência das populações mais pobres do planeta. A consolidação deste caminho revolucionário de um Brasil autónomo e independente passa pela integração com os demais países latino-americanos aliados no apoio ao desenvolvimento e crescimento de todos na CELAC.

Mas, o processo de desenvolvimento ainda não está concluído, nem o Estado foi alterado para cumprir democraticamente as funções públicas, nem o "dollar" deixou de ser a referência da moeda brasileira, nem o sistema financeiro internacional deixou de impor as suas regras de mercado e o agro-negócio as suas imposições. As boas leis existem mas nem sempre são cumpridas, há corrupção como há poluição, infiltradas como o crime organizado que com a venda da droga enriquece Nações ricas. São formas de câncer que apodrecem setores importantes da sociedade e da estrutura de poder. Há que criar novas vacinas.

A história do Brasil atravessa um processo revolucionário que enfrentou a ditadura e continua a limpar o país para que seja reconstruído pela população que participa e que tem consciência de cidadania.

Quando falamos em solidariedade com os mais necessitados, nossos filhos, netos e bisnetos, quando pensamos nas gerações que nos seguem e precisam ter uma oportunidade de viver com dignidade aplicando os seus conhecimentos e talentos, queremos que aperfeiçoem as condições de existência e cultivem a alegria "tão brasileira", não podemos permitir que seja interrompido um caminho - um processo de desenvolvimento democrático - da nossa Pátria!

Zillah Branco

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Terceira via, falsa alternativa


Zillah Branco *

"Nem peixe, nem carne". Quando a realidade é clarificada e os dois polos contrários se defrontam, surge sempre o "deixa disto" para encontrar um meio termo que protela a solução.


Em Portugal, quando as forças armadas optaram pelo golpe de Estado para derrubar uma ditadura de meio século, que empobrecera o país e criara um regime fascista que amordaçara a sua população, o povo organizado clandestinamente lançou a bandeira da Revolução dos Cravos que na defesa da produção e da democracia impôs a nacionalização dos bancos e das empresas fundamentais, a reforma agrária e o apoio aos pequenos produtores, o fim do sistema colonial, a democratização do Estado, a legislação do trabalho com a criação do salário mínimo e da segurança social para todos.

As forças políticas, da esquerda à direita, subscreveram a Constituição que estabelecia os fundamentos jurídicos para as transformações que revolucionavam o sistema de forma pacífica, com cravos nas armas. A discordância veio de fora, dos Estados Unidos, pela voz de Kissinger, secretário de Estado, e de Carlucci, diretor da CIA feito embaixador em Portugal depois de ter defendido Pinochet e colaborado para a queda de Allende no Chile.

A social-democracia, de inspiração alemã, representada por Mário Soares, lançou a idéia da terceira via, macia, que agradava ao imperialismo e ia distribuindo lucros aos que aceitavam partilhar os riscos empresariais para impedir o fortalecimento do Estado social que se fortalecia para consolidar a democracia. As cooperativas de produção conjugavam assembleias onde a liberdade de expressão era assegurada a todos, trabalhadores e administradores, e uma gestão adequada ao mercado e instituições financeiras privadas. Ou seja, cooperativas no nome e sociedades anônimas no funcionamento. Iludidos, os trabalhadores foram absorvidos pela classe patronal, destruindo a coletivização sindical que era a sua força popular.

Hoje, Portugal é comandado por um governo subordinado à União Europeia que, com o FMI integra o império capitalista, paga as dívidas patronais e dos bancos mal geridos com as pensões de velhice, o aumento dos impostos, as importações que substituem a produção nacional, a emigração dos desempregados. É o resultado da terceira via, que para fugir ao confronto com a exploração pelo capital, criou uma ilusão de terceira margem irreal e irresponsável que entregou a nação a um Império expansionista.

O Brasil de Lula encontrou o caminho da democratização social e da superação da fome e do abandono de milhões de brasileiros. Carrega ainda poderes oligárquicos grudados na estrutura do Estado e nas instituições financeiras. As mudanças são demoradas e os movimentos sociais têm suportado uma luta permanente pelos direitos dos trabalhadores e das suas famílias como cidadãos brasileiros. Muitos obstáculos foram derrubados, discriminações e preconceitos extirpados, enquanto germina a democracia e é formada uma nova geração que constrói uma consciência de cidadania para que o povo seja dono da sua pátria. Muito falta para que seja implantado o Estado social livre de comandos externos. Mas o caminho aberto por Lula não terminou, segue com Dilma que aceita os protestos populares com o peso de razões válidas.

É a unidade na margem esquerda, traçada por Lula saído do povo e eleito pelo povo, que integra o Brasil na América Latina na luta pela independência continental, que vencerá a via da direita e do Estado mínimo neocapitalista subordinado ao império. Não há terceira via nos caminhos naturais da história.
* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.

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  • terça-feira, 19 de agosto de 2014

    Costumes e hábitos modelam a cultura

    Historicamente os costumes tradicionais no comportamento social são marcados pelo autoritarismo dos "senhores", feudais ou modernos, que determinam a submissão dos mais fracos. Numa escala determinada pelo poder do chefe da família, os dependentes, e especialmente as mulheres, nada decidiam em relação à própria vida. Sobre os que trabalhavam na produção do feudo o domínio era exercido por qualquer membro da família senhorial, inclusive pelas mulheres "donas".

    Em cada família de trabalhadores reproduzia-se o mesmo escalonamento a partir do homem "chefe", relativo à propriedade de bens e direitos individuais.

    O Estado também obedecia aos poderosos que nomeavam os responsáveis administrativos para que, por sua vez, impusessem com autoridade os seus próprios interesses e o da elite poderosa. O cidadão era o último a ter, ou não, os seus direitos atendidos.

    Tal situação permaneceu como modelo cultural até os tempos modernos, traduzindo a submissão como modelo de "educação social", ou seja, comportamento "civilizado". É com orgulho que os mais frágeis mostram a sua "boa educação" de "respeito pelos seus superiores". Este modelo facilita em muito a imposição de uma disciplina ditada pelo poder, tanto a nível pessoal como de classe. Ditatorial.

    Não é por acaso que hoje o sistema capitalista estabelece padrão de roupas, modos de comportamento social, linguagem, músicas, hábitos de vida, medicamentos, profissões, através da publicidade, para todos os cantos do planeta. O canal de escoamento dos produtos, o mercado, e o financeiro para a recolha do dinheiro, os bancos, têm mão única. As novas gerações vão sendo aperfeiçoadas como carneiros dóceis. As drogas corrigem os que parecem desobedientes. Os medicamentos produzem epidemias para reduzir o excesso de populações marginais. As guerras e invasões abrem caminho para que as riquezas nacionais entrem para o tesouro imperial. É uma ditadura mundial, mas tem os seus pés de barro que animam os que conservam a esperança e lutam pela mudança de sistema.

    Estratos sociais dependentes

    Nas sociedades sempre germinou a defesa da liberdade como reação à violência e a opressão exercidas contra o indivíduo, e, em segundo lugar,
    contra o grupo social até chegar, no século 19, ao conhecimento da "classe explorada". As lutas pontuais se sucederam através dos séculos e as vitórias obtidas estimularam novas lutas em diferentes pontos do mundo. 

    As formas de rebeldia foram sendo aplicadas para substituirem os chefes das sociedades, mas não a condição de dominação sobre os membros mais frágeis que sempre desconheciam a liberdade dentro das comunidades. A defesa individual impedia a compreensão de que só uma mudança na estrutura de poder poderia propiciar a liberdade coletiva. 

    Os graves crimes cometidos pela elite contra pessoas, individualmente, despertaram o pensamento para filosofias humanitárias que estabeleciam normas de convívio social. As filosofias humanistas dão maior peso aos sacrifícios pessoais, alimentando a visão do sofrimento dos indivíduos e à sua defesa pessoal ou familiar, e não à necessária estratégia política de direitos das camadas sociais trabalhadoras que são sempre as mais pobres. 

    O sistema capitalista prefere destacar as questões individuais - que não afetam o coletivo social - e adapta soluções precárias de previdência social ou sopa dos pobres que, em fase de crise social, mascaram as enormes diferenças de rendimento entre as classes fundamentais, permitindo que os desprotegidos sobrevivam e possam ainda dinamizar o mercado de consumo de onde são extraídos os lucros, sem deixar a sua condição social de pobreza relativa na sociedade e de dependência das concessões financeiras do Estado. 

    Esta mesma precariedade vê-se na "suspensão de conflitos por razões humanitárias", mas deixando afastada a discussão sobre a validade dos propósitos que deram início às agressões. É apenas uma busca de caminhos diplomáticos para que o mais poderoso vença.

    A prática da violência

    A violência contra a mulher e as crianças, assim como contra os que são mais frágeis fisicamente, tem origem na Idade da Pedra. As culturas adotaram filosofias que definiram funções sociais tornando as mulheres apenas valorizadas como objeto e mão de obra braçal, merecedoras de proteção enquanto dependentes e escravizadas na família ou na sociedade em geral.

    A luta pela igualdade de direitos da mulher e do homem tem sofrido distorções alimentadas pelo sistema capitalista que "paga mais pela função do objeto-mulher" e menos como trabalhadora profissional. Quem alimenta a cultura machista não são apenas os homens. Há interesses (conscientes ou inconscientes) de mulheres em manter a dependência em relação aos homens. Os velhos hábitos nem sempre são questionados e perpetuam através da formação cultural as discriminações que se pretende combater.

    Estão presentes na educação familiar e no comportamento social costumes rígidos de subordinação ao "provedor de recursos" que impõe a sua vontade como lei. Mesmo quando a mulher consegue argumentar com o chefe da família e mostrar a conveniência de alterar a gestão e o relacionamento familiar, o porta-voz da nova conduta será sempre o homem para manter a disciplina formal do sistema de poder. O mesmo ocorre entre os governantes da sociedade e os seus conselheiros. 

    Os abusos e crimes praticados contra as mulheres até o nosso tempo derivam da brutalidade, que é aceita no homem - devidos aos "direitos de posse" sobre pessoas e bens materiais que detém - e da cultura de "submissão" em que são formadas as mulheres. Também o mesmo ocorre a nível social onde os crimes são perdoados quando cometidos por importantes membros da elite.

    Os poderosos sempre são julgados com benevolência. Um grande banqueiro em Portugal, que desviou grossas quantias de dinheiro dos depositantes para enriquecer a sua família, o que levou o Estado capitalista a fazer empréstimos para repor o que foi "roubado", foi considerado " imprudente na gestão" e "pouco ortodoxo" nas decisões. Se aplicassem os mesmos conceitos aos ladrões menores as prisões do país esvaziavam.

    Crises sistêmicas e evolução da consciência social

    As crises acentuam o processo de deterioração da democracia e acentuam o desespero das pessoas que sentem a "redução dos direitos de cidadania", devido ao enfraquecimento do Estado social. Ocorre o desequilíbrio social que só pode ser superado se os princípios do sistema socialista - igualdade, solidariedade, liberdade - forem mantidos como o caminho de luta permanente na formação cultural, educação familiar, direitos trabalhistas, serviço de saúde e ensino igual para todos.

    A identificação entre o sistema dominante e o Estado, leva as populações a reconhecerem-se na dependência dos serviços e benefícios públicos para sobreviverem como se não houvesse outro caminho na vida. A privação dos meios de sobrevivência conduz ao desejo de fugir ao prolongado sofrimento causado pelas carências, seja através das drogas que entorpecem a consciência ou mesmo o suicídio.

    O século 20 apresentou a alternativa do sistema socialista alcançada pela via revolucionária em 1917 na Rússia. As propostas teóricas formuladas no século anterior, de liberdade dos cidadãos e de substituição da elite governativa pela classe trabalhadora no poder deram origem ao modelo soviético que foi atacado de todas as maneiras pelos defensores do capitalismo. Das falsas informações veiculadas pelos meios de informação, incluindo a produção de livros escolares e teses universitárias, à perseguição cruel dos adeptos que se multiplicavam por todos os países e às duas grandes guerras mundiais iniciadas com o propósito de varrerem do planeta a ideia de uma sociedade socialista que respeitava a igualdade, a liberdade e a fraternidade dos seres humanos, teve início uma luta permanente liderada pela potência norte-americana. 

    A elite capitalista elaborou pensamentos alternativos, como o da social-democracia humanizada, e elevou o nível de vida dos cidadãos nas sociedades mais ricas mantendo o domínio ditatorial dos donos do capital, para simular o ideal socialista sem revolução e sem guerras. Para vencer a iniciativa de Hitler na conquista da Europa, os aliados capitalistas precisaram pedir o apoio da Rússia socialista que perdeu 40 milhões de vidas até obter a vitória. Criaram a "cortina de ferro" entre os dois sistemas e mantiveram a espionagem e os ataques permanentes contra a URSS e os Partidos Comunistas criados em todo o mundo, demonizando-os através de todos os meios de informação social para modelar a consciência dos submissos. 

    Neste processo sem tréguas minaram o poder soviético que ruiu, depois de ter apoiado a humanidade nas iniciativas de conquistar a autonomia de suas nações e a consciência de cidadania livre de todos os povos durante oito décadas. A sobrevivência das nações socialistas - China, Cuba, Vietnã, Coreia Popular e Laos - e dos Partidos Comunistas, guardou a semente de um sistema que obriga a elite capitalista poderosa no planeta a cumprir princípios humanistas estabelecidos como Direitos Humanos pela ONU para sobreviver às crises internas e manter algum equilíbrio com as populações oprimidas. A história mundial mostra que a consciência de cidadania, que deriva da compreensão dos direitos de liberdade, igualdade e fraternidade de todos os seres humanos, que cabe aos Estados assegurar, alastra-se sobretudo pelas regiões em processo de desenvolvimento ou luta pela autonomia nacional. 

    Este processo é imparável e conquista povos em luta no mundo sub-desenvolvido e estudiosos honestos nos países ricos. A globalização que favorece o domínio econômico e político do sistema capitalista tem a sua face oposta, de intercâmbio de conhecimento com os que praticam os verdadeiros princípios socialistas e lutam pelo desenvolvimento contra a exploração capitalista. 

    A publicidade de uma versão demoníaca de um processo revolucionário que liberta os cidadãos começa a ser ridícula para os que, defendendo o capitalismo, se preocupam em conhecer a realidade do mundo atual. Mesmo pessoas de formação conservadora capitalista não querem hoje parecer coniventes com os crimes praticados pelas elites que desviam os recursos públicos para satisfazerem as suas mesquinhas ambições e a sua incompetência na gestão financeira condenando o povo aos sofrimentos e à morte.

    Os lideres nacionais escolhidos pelo poder imperialista têm sido preparados para parecerem democratas. Obama, por ser negro e falar como um democrata atraiu grande parte da população mundial que conserva a esperança de transformação social. Desmoralizou-se ao deixar cair a máscara diante do Prêmio Nobel da Paz, com a sua declaração de "guerra justa". O mesmo aconteceu com lideres trabalhistas na Inglaterra e sociais-democratas em várias nações europeias, como Mário Soares em Portugal, ao revelarem que são conduzidos pelos cordelinhos norte-americanos. Até o Vaticano teve necessidade de eleger um Papa capaz de denunciar as injustiças do sistema capitalista que os comunistas sempre denunciaram. 

    A balança capitalista vai pendendo para a esquerda e obriga a direita a fazer concessões, pelo menos na linguagem, que apontam as medidas socialistas como as mais corretas. Mentem, na maioria das vezes, deixando a filosofia humanista para os discursos enquanto legislam e cortam os salários do povo como os velhos ditadores fascistas. Não se preocupam com a triste figura de indignidade humana que representam nos altos cargos nacionais e internacionais. São bem pagos para isso, e basta. Mas, devagar, a história abre caminho para os que lutam e enfrentam sacrifícios para dignificar a vida humana liderarem a revolução necessária.

    O sistema capitalista impõe o modelo que convém à sua perpetuação

    A implantação de um sistema socialista como foi o soviético durante oito décadas difundiu os princípios de liberdade dos seres humanos e das nações. O poder capitalista foi obrigado a adaptar-se concedendo autonomia aos povos que lutaram pela independência nacional e aos setores sociais que levantaram as bandeiras de luta por direitos trabalhistas e de cidadania. A cedência aos direitos humanos e dos trabalhadores é definida através das leis e das instituições sociais dos Estados (que podem vir a ser suspensos se o povo não exigir).

    Como ocorre na suspensão de conflitos que ameaçam o poder pessoal, nacional ou do sistema mais forte, novos caminhos de afirmação foram encontrados pela elite capitalista, como o da informação global controlada e da formação cultural que molda a conduta das novas gerações. Gradualmente os meios de comunicação foram sendo transformados em agentes do sistema para fomentar novas mentalidades passivas diante das ofertas tanto de produtos como de idéias. 

    Outra forma de manipulação foi a adaptação ao gosto tradicional popular - futebol ou outros jogos, músicas, literatura etc. - simplificados ou mesmo empobrecidos e repetitivos, investindo em modelos e formas de dependência que limitam a criatividade das pessoas forçadas a um nível subalterno considerado como "opinião pública". Os grandes eventos mundiais tornaram-se palcos de um sistema de mega-corrupção que corresponde aos encontros dos líderes do imperialismo exibindo uma cascata de dinheiro na apresentação visual e um mar de lama mental.

    Faz parte do funcionamento do sistema capitalista a corrupção que elimina a força dos princípios éticos, que estão na base da consciência de cidadania e do sistema socialista relativos à liberdade e ao desenvolvimento da classe trabalhadora construtora da produção e do crescimento da economia nacional em beneficio de toda a sociedade e não só de uma elite governante. Promovem o enriquecimento dos que de alguma forma demonstram capacidade para inovar ou liderar na vida social e política separando-os da sua classe. Esta é a situação da nova classe média que, apesar da falta de preparo profissional, vai sendo absorvida no setor de serviços para escapar ao trabalho indiferenciado que é braçal. Logo se comportam e vestem segundo o modelo dos chefes e abandonam os hábitos dos operários.

    Qualquer máscara sobreposta à realidade social impede a união dos cidadãos em defesa dos interesses coletivos e nacionais. E o resultado será sempre em benefício da perpetuação do poder de uma elite exploradora e ditatorial.Publicado nos portais: Vermelho do Brasil, e Liberdade da Galiza



    Historicamente os costumes tradicionais no comportamento social são marcados pelo autoritarismo dos "senhores", feudais ou modernos, que determinam a submissão dos mais fracos. Numa escala determinada pelo poder do chefe da família, os dependentes, e especialmente as mulheres, nada decidiam em relação à própria vida. Sobre os que trabalhavam na produção do feudo o domínio era exercido por qualquer membro da família senhorial, inclusive pelas mulheres "donas".

    Em cada família de trabalhadores reproduzia-se o mesmo escalonamento a partir do homem "chefe", relativo à propriedade de bens e direitos individuais.

    O Estado também obedecia aos poderosos que nomeavam os responsáveis administrativos para que, por sua vez, impusessem com autoridade os seus próprios interesses e o da elite poderosa. O cidadão era o último a ter, ou não, os seus direitos atendidos.

    Tal situação permaneceu como modelo cultural até os tempos modernos, traduzindo a submissão como modelo de "educação social", ou seja, comportamento "civilizado". É com orgulho que os mais frágeis mostram a sua "boa educação" de "respeito pelos seus superiores". Este modelo facilita em muito a imposição de uma disciplina ditada pelo poder, tanto a nível pessoal como de classe. Ditatorial.

    Não é por acaso que hoje o sistema capitalista estabelece padrão de roupas, modos de comportamento social, linguagem, músicas, hábitos de vida, medicamentos, profissões, através da publicidade, para todos os cantos do planeta. O canal de escoamento dos produtos, o mercado, e o financeiro para a recolha do dinheiro, os bancos, têm mão única. As novas gerações vão sendo aperfeiçoadas como carneiros dóceis. As drogas corrigem os que parecem desobedientes. Os medicamentos produzem epidemias para reduzir o excesso de populações marginais. As guerras e invasões abrem caminho para que as riquezas nacionais entrem para o tesouro imperial. É uma ditadura mundial, mas tem os seus pés de barro que animam os que conservam a esperança e lutam pela mudança de sistema.

    Estratos sociais dependentes

    Nas sociedades sempre germinou a defesa da liberdade como reação à violência e a opressão exercidas contra o indivíduo, e, em segundo lugar,
    contra o grupo social até chegar, no século 19, ao conhecimento da "classe explorada". As lutas pontuais se sucederam através dos séculos e as vitórias obtidas estimularam novas lutas em diferentes pontos do mundo. 

    As formas de rebeldia foram sendo aplicadas para substituirem os chefes das sociedades, mas não a condição de dominação sobre os membros mais frágeis que sempre desconheciam a liberdade dentro das comunidades. A defesa individual impedia a compreensão de que só uma mudança na estrutura de poder poderia propiciar a liberdade coletiva. 

    Os graves crimes cometidos pela elite contra pessoas, individualmente, despertaram o pensamento para filosofias humanitárias que estabeleciam normas de convívio social. As filosofias humanistas dão maior peso aos sacrifícios pessoais, alimentando a visão do sofrimento dos indivíduos e à sua defesa pessoal ou familiar, e não à necessária estratégia política de direitos das camadas sociais trabalhadoras que são sempre as mais pobres. 

    O sistema capitalista prefere destacar as questões individuais - que não afetam o coletivo social - e adapta soluções precárias de previdência social ou sopa dos pobres que, em fase de crise social, mascaram as enormes diferenças de rendimento entre as classes fundamentais, permitindo que os desprotegidos sobrevivam e possam ainda dinamizar o mercado de consumo de onde são extraídos os lucros, sem deixar a sua condição social de pobreza relativa na sociedade e de dependência das concessões financeiras do Estado. 

    Esta mesma precariedade vê-se na "suspensão de conflitos por razões humanitárias", mas deixando afastada a discussão sobre a validade dos propósitos que deram início às agressões. É apenas uma busca de caminhos diplomáticos para que o mais poderoso vença.

    A prática da violência

    A violência contra a mulher e as crianças, assim como contra os que são mais frágeis fisicamente, tem origem na Idade da Pedra. As culturas adotaram filosofias que definiram funções sociais tornando as mulheres apenas valorizadas como objeto e mão de obra braçal, merecedoras de proteção enquanto dependentes e escravizadas na família ou na sociedade em geral.

    A luta pela igualdade de direitos da mulher e do homem tem sofrido distorções alimentadas pelo sistema capitalista que "paga mais pela função do objeto-mulher" e menos como trabalhadora profissional. Quem alimenta a cultura machista não são apenas os homens. Há interesses (conscientes ou inconscientes) de mulheres em manter a dependência em relação aos homens. Os velhos hábitos nem sempre são questionados e perpetuam através da formação cultural as discriminações que se pretende combater.

    Estão presentes na educação familiar e no comportamento social costumes rígidos de subordinação ao "provedor de recursos" que impõe a sua vontade como lei. Mesmo quando a mulher consegue argumentar com o chefe da família e mostrar a conveniência de alterar a gestão e o relacionamento familiar, o porta-voz da nova conduta será sempre o homem para manter a disciplina formal do sistema de poder. O mesmo ocorre entre os governantes da sociedade e os seus conselheiros. 

    Os abusos e crimes praticados contra as mulheres até o nosso tempo derivam da brutalidade, que é aceita no homem - devidos aos "direitos de posse" sobre pessoas e bens materiais que detém - e da cultura de "submissão" em que são formadas as mulheres. Também o mesmo ocorre a nível social onde os crimes são perdoados quando cometidos por importantes membros da elite.

    Os poderosos sempre são julgados com benevolência. Um grande banqueiro em Portugal, que desviou grossas quantias de dinheiro dos depositantes para enriquecer a sua família, o que levou o Estado capitalista a fazer empréstimos para repor o que foi "roubado", foi considerado " imprudente na gestão" e "pouco ortodoxo" nas decisões. Se aplicassem os mesmos conceitos aos ladrões menores as prisões do país esvaziavam.

    Crises sistêmicas e evolução da consciência social

    As crises acentuam o processo de deterioração da democracia e acentuam o desespero das pessoas que sentem a "redução dos direitos de cidadania", devido ao enfraquecimento do Estado social. Ocorre o desequilíbrio social que só pode ser superado se os princípios do sistema socialista - igualdade, solidariedade, liberdade - forem mantidos como o caminho de luta permanente na formação cultural, educação familiar, direitos trabalhistas, serviço de saúde e ensino igual para todos.

    A identificação entre o sistema dominante e o Estado, leva as populações a reconhecerem-se na dependência dos serviços e benefícios públicos para sobreviverem como se não houvesse outro caminho na vida. A privação dos meios de sobrevivência conduz ao desejo de fugir ao prolongado sofrimento causado pelas carências, seja através das drogas que entorpecem a consciência ou mesmo o suicídio.

    O século 20 apresentou a alternativa do sistema socialista alcançada pela via revolucionária em 1917 na Rússia. As propostas teóricas formuladas no século anterior, de liberdade dos cidadãos e de substituição da elite governativa pela classe trabalhadora no poder deram origem ao modelo soviético que foi atacado de todas as maneiras pelos defensores do capitalismo. Das falsas informações veiculadas pelos meios de informação, incluindo a produção de livros escolares e teses universitárias, à perseguição cruel dos adeptos que se multiplicavam por todos os países e às duas grandes guerras mundiais iniciadas com o propósito de varrerem do planeta a ideia de uma sociedade socialista que respeitava a igualdade, a liberdade e a fraternidade dos seres humanos, teve início uma luta permanente liderada pela potência norte-americana. 

    A elite capitalista elaborou pensamentos alternativos, como o da social-democracia humanizada, e elevou o nível de vida dos cidadãos nas sociedades mais ricas mantendo o domínio ditatorial dos donos do capital, para simular o ideal socialista sem revolução e sem guerras. Para vencer a iniciativa de Hitler na conquista da Europa, os aliados capitalistas precisaram pedir o apoio da Rússia socialista que perdeu 40 milhões de vidas até obter a vitória. Criaram a "cortina de ferro" entre os dois sistemas e mantiveram a espionagem e os ataques permanentes contra a URSS e os Partidos Comunistas criados em todo o mundo, demonizando-os através de todos os meios de informação social para modelar a consciência dos submissos. 

    Neste processo sem tréguas minaram o poder soviético que ruiu, depois de ter apoiado a humanidade nas iniciativas de conquistar a autonomia de suas nações e a consciência de cidadania livre de todos os povos durante oito décadas. A sobrevivência das nações socialistas - China, Cuba, Vietnã, Coreia Popular e Laos - e dos Partidos Comunistas, guardou a semente de um sistema que obriga a elite capitalista poderosa no planeta a cumprir princípios humanistas estabelecidos como Direitos Humanos pela ONU para sobreviver às crises internas e manter algum equilíbrio com as populações oprimidas. A história mundial mostra que a consciência de cidadania, que deriva da compreensão dos direitos de liberdade, igualdade e fraternidade de todos os seres humanos, que cabe aos Estados assegurar, alastra-se sobretudo pelas regiões em processo de desenvolvimento ou luta pela autonomia nacional. 

    Este processo é imparável e conquista povos em luta no mundo sub-desenvolvido e estudiosos honestos nos países ricos. A globalização que favorece o domínio econômico e político do sistema capitalista tem a sua face oposta, de intercâmbio de conhecimento com os que praticam os verdadeiros princípios socialistas e lutam pelo desenvolvimento contra a exploração capitalista. 

    A publicidade de uma versão demoníaca de um processo revolucionário que liberta os cidadãos começa a ser ridícula para os que, defendendo o capitalismo, se preocupam em conhecer a realidade do mundo atual. Mesmo pessoas de formação conservadora capitalista não querem hoje parecer coniventes com os crimes praticados pelas elites que desviam os recursos públicos para satisfazerem as suas mesquinhas ambições e a sua incompetência na gestão financeira condenando o povo aos sofrimentos e à morte.

    Os lideres nacionais escolhidos pelo poder imperialista têm sido preparados para parecerem democratas. Obama, por ser negro e falar como um democrata atraiu grande parte da população mundial que conserva a esperança de transformação social. Desmoralizou-se ao deixar cair a máscara diante do Prêmio Nobel da Paz, com a sua declaração de "guerra justa". O mesmo aconteceu com lideres trabalhistas na Inglaterra e sociais-democratas em várias nações europeias, como Mário Soares em Portugal, ao revelarem que são conduzidos pelos cordelinhos norte-americanos. Até o Vaticano teve necessidade de eleger um Papa capaz de denunciar as injustiças do sistema capitalista que os comunistas sempre denunciaram. 

    A balança capitalista vai pendendo para a esquerda e obriga a direita a fazer concessões, pelo menos na linguagem, que apontam as medidas socialistas como as mais corretas. Mentem, na maioria das vezes, deixando a filosofia humanista para os discursos enquanto legislam e cortam os salários do povo como os velhos ditadores fascistas. Não se preocupam com a triste figura de indignidade humana que representam nos altos cargos nacionais e internacionais. São bem pagos para isso, e basta. Mas, devagar, a história abre caminho para os que lutam e enfrentam sacrifícios para dignificar a vida humana liderarem a revolução necessária.

    O sistema capitalista impõe o modelo que convém à sua perpetuação

    A implantação de um sistema socialista como foi o soviético durante oito décadas difundiu os princípios de liberdade dos seres humanos e das nações. O poder capitalista foi obrigado a adaptar-se concedendo autonomia aos povos que lutaram pela independência nacional e aos setores sociais que levantaram as bandeiras de luta por direitos trabalhistas e de cidadania. A cedência aos direitos humanos e dos trabalhadores é definida através das leis e das instituições sociais dos Estados (que podem vir a ser suspensos se o povo não exigir).

    Como ocorre na suspensão de conflitos que ameaçam o poder pessoal, nacional ou do sistema mais forte, novos caminhos de afirmação foram encontrados pela elite capitalista, como o da informação global controlada e da formação cultural que molda a conduta das novas gerações. Gradualmente os meios de comunicação foram sendo transformados em agentes do sistema para fomentar novas mentalidades passivas diante das ofertas tanto de produtos como de idéias. 

    Outra forma de manipulação foi a adaptação ao gosto tradicional popular - futebol ou outros jogos, músicas, literatura etc. - simplificados ou mesmo empobrecidos e repetitivos, investindo em modelos e formas de dependência que limitam a criatividade das pessoas forçadas a um nível subalterno considerado como "opinião pública". Os grandes eventos mundiais tornaram-se palcos de um sistema de mega-corrupção que corresponde aos encontros dos líderes do imperialismo exibindo uma cascata de dinheiro na apresentação visual e um mar de lama mental.

    Faz parte do funcionamento do sistema capitalista a corrupção que elimina a força dos princípios éticos, que estão na base da consciência de cidadania e do sistema socialista relativos à liberdade e ao desenvolvimento da classe trabalhadora construtora da produção e do crescimento da economia nacional em beneficio de toda a sociedade e não só de uma elite governante. Promovem o enriquecimento dos que de alguma forma demonstram capacidade para inovar ou liderar na vida social e política separando-os da sua classe. Esta é a situação da nova classe média que, apesar da falta de preparo profissional, vai sendo absorvida no setor de serviços para escapar ao trabalho indiferenciado que é braçal. Logo se comportam e vestem segundo o modelo dos chefes e abandonam os hábitos dos operários.

    Qualquer máscara sobreposta à realidade social impede a união dos cidadãos em defesa dos interesses coletivos e nacionais. E o resultado será sempre em benefício da perpetuação do poder de uma elite exploradora e ditatorial.