quarta-feira, 8 de julho de 2015

Democracia é palavra grega e mundial




A palavra e o seu conceito nasceram na Grécia antiga, depois passou a ser repetida em todo o planeta graças às lutas dos povos contra o domínio e a exploração impostos por elites que passaram a controlar o poder financeiro e militar.

Para não reconhecer as graduais derrotas, a elite (que controla os meios de comunicação e forma a opinião pública fazendo esquecer a cultura e a formação ideológica dos povos), adota palavras como democracia e liberdade deturpando o seu conteúdo histórico. Assim surgiu o conceito de capitalismo democrático, e os seus líderes imperialistas apresentam-se como democratas mesmo quando invadem os países independentes e chacinam as populações civis; quando dão armas a grupos terroristas e exércitos mercenários que desestabilizam o Oriente Médio e o norte da África; quando apoiam grupos de direita que preparam golpes na progressista América Latina. E, com a falsa democracia foi criada a União Europeia que desuniu os povos e uniu os capitais sob o controle do Banco Europeu que criou a moeda Euro.

A Grécia, que sofreu a ocupação alemã na última guerra (tendo um milhão de mortos e a produção nacional destruída) e recusa pagar esta imensa dívida, suportou décadas de pressões imperialistas que impuseram ditaduras que impediram o desenvolvimento nacional até ser admitida democráticamente como parceira da União Europeia.

O povo grego, cansado de ser traído por governantes que aceitaram os programas da UE e FMI que resultaram na austeridade para a população e o enriquecimento dos banqueiros e afins, elegeu um governo de esquerda chefiado por Alexis Tsipras. Os debates de surdos foram feitos durante cinco meses com os mandatários e especialistas da UE/FMI que insistem em comandar o novo governo sem mudar as suas táticas destrutivas até que Tsipras resolveu consultar o povo se devia ou não aceitar o comando externo. A resposta dada foi um rotundo NÃO (OXI em grego) que o mundo inteiro entendeu (com os parabéns escritos em todos os idiomas), menos os dirigentes do Conselho Europeu.

Com as suas gravatas e roupas finas, concederam uma nova reunião com o Primeiro Ministro da Grécia, Tsipras que lá foi com o renovado apoio popular (que os demais não têm, por isso compram roupas caras e gravatas para manter a falsa firmeza de governantes democraticamente eleitos). Explicou o que é democracia, desenvolvimento, produção, independência e soberania. Mas não deu a lista de despesas que fará com os 7 mil milhões de Euros necessários para sair do buraco em que a UE/FMI meteu o povo grego. Não cumpriu a exigência dos que se assenhorearam do capital europeu para colonizar os povos. E fez muito bem! Aplaude a humanidade que defende a dignidade dos povos e o Direito dos Homens.

Os dirigentes da UE sairam descontentes dizendo à mídia submissa que a Grécia não fez a lição e poderá ser expulsa da Zona Euro! Mas o mundo viu que a UE e o FMI não entenderam a resposta de Tsipras que qualquer cidadão do mundo entende, porque a questão é DEMOCRACIA!

Zillah Branco  

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Do medo à conivência

Medo, auto-defesa, conivência


A sociedade moderna, onde a pressa impõe decisões ultra-rápidas, retira ao ser humano a sua capacidade de pensar e refletir utilizando princípios éticos que vieram de tempos melhores. Eram tempos em que o convívio pausado permitia aprender com a experiência do outro, ouvir o que ensinavam os mais velhos, ponderar considerando a sua realidade e a de outros a quem teria o prazer de ajudar. Não se vivia sob a pressão de um mercado bem publicitado para convencer o cidadão a consumir produtos cuja utilidade pode ser desnecessária.

Se observarmos uma criança de 3 anos vemos que ela quer aprender, quer participar, quer colaborar. Tendo essas oportunidades, passará a ter idéias próprias e a criar soluções. Se for atropelada por uma "educação" autoritária, apenas vai repetir o que viu, como um robô. Terá sido amedrontada, alienada e transformada em um instrumento repetidor do comando que recebeu.

As conquistas da humanidade ao longo da sua experiência desde a Idade da Pedra, transformou aquele ser, que disputava o território com outros animais, em um pensador capaz de escolher as melhores condições de sobrevivência inserido na coletividade. Selecionou os princípios que propiciam um bom relacionamento social, solidário com os que têm alguma dificuldade, exemplar para formar bons parceiros de vida, firme para evitar eventuais erros de quem revela egoísmo, criativo para introduzir ou receber novas idéias, defensor da comunidade quando agredida.

Com a má divisão das riquezas, formou-se uma elite poderosa que passou a escravizar os que trabalhavam pela subsistência. Surgiram as classes sociais, uma explorando a outra, dando apenas os recursos para sobreviverem sem tempo para cultivarem o seu próprio desenvolvimento intelectual e tomarem conhecimento das idéias novas que promoviam o avanço das artes e ciências. Houve confrontos entre os que trabalhavam e os que mandavam, pois nem todos desistiram de pensar e de lutar pela liberdade. Ocorreram momentos revolucionários que impuseram as idéias de liberdade, igualdade, fraternidade, contidos na definição de democracia e direitos humanos nos regimes políticos de organização das sociedades.

Tudo isto leva tempo para ser concretizado em cada país, dependendo da história de cada povo e do poder militar da elite que o governa. O sistema denominado capitalista condiciona o poder do capital como o que forma a elite governante. Os poderosos eram as famílias que controlavam as riquezas produzidas pelo povo ou conquistadas a outros povos vencidos em batalhas. Durante muitos séculos os países mais ricos colonizaram os mais pobres, e as monarquias europeias enriqueceram com os produtos extraídos de outros continentes vencidos e escravizados. Ao serem organizadas as instituições financeiras - bancos, moedas, papéis de crédito - as monarquias passaram a ser dependentes desta nova elite que organizava o capital. Permaneceram aliadas as duas elites, uma burguesa e outra "nobre" para manter a imagem de "poder familiar tradicional" que fazia parte da cultura transmitida aos povos.

Surgiu a definição de um sistema de organização das sociedades em que a elite seria subordinada, como todo o povo, a um Estado Socialista que aplicaria os recursos em benefício da coletividade. Todos teriam direitos de cidadania - saúde, ensino, moradia, transporte, alimentação e vestimenta - e trabalhariam de acordo com as suas aptidões, para o desenvolvimento nacional. A primeira revolução socialista, definida por Marx e Engels no "Manifesto Comunista" em 1848 foi liderada por Wladimir I. lenine e seus camaradas, na Rússia em 1917. Foi criado o poder Soviético (do russo soviets=popular) que passou a ser combatido por todos os países capitalistas mesmo depois de vencer o exército de Hitler ao lado dos aliados europeus e norte-americanos. Uma guerra surda, sob o título de cortina de ferro, desenvolveu-se contra os 14 países socialistas que se uniram à Rússia Soviética para manter o regime socialista e apoiar todos os movimentos de libertação nacional e os partidos comunistas que surgiram em todos os continentes. A China, Vietnam, Laos, Coreia do Norte e Cuba realizaram as suas revoluções e instituíram o regime socialista nos seus territórios.

Grandes conquistas foram alcançadas em benefício de toda a humanidade que teve acesso ao conhecimento, que era propriedade apenas das elites, e que impôs os princípios democráticos e dos direitos humanos através da ONU, os direitos trabalhistas através da OIT, a defesa da saúde através da OMS, os direitos das crianças através da UNICEF, a orientação na produção de alimentos através da FAO e outros serviços internacionais de apoio às conquistas como a da igualdade de direitos das Mulheres, das diferentes etnias, etc. Não se pode esquecer que todas estas conquistas foram reconhecidas no plano jurídico e que só são impostas pela força política dos movimentos populares, pois mundialmente segue o poder capitalista que minou por dentro até mesmo o poder soviético que ruiu na década de 1990, depois de uma experiência de quase 80 anos que transformou a Rússia na segunda potência mundial.  Mas, a luta continua, entre os que pensam e lutam e os que cumprem as ordens do modelo capitalista.

As crises periódicas do sistema capitalista mostram a sua fragilidade e desvendam as formas de comando exercidas para transformar os humanos em robôs. O título deste artigo refere a situação dramática em que os povos se vêm atualmente, ano 2015, submetidos ao poder imperial (que reune as elites capitalistas sob o comando dos EU) que promove invasões dos países árabes em busca de petróleo, assassinatos de governantes depois de promoverem conflitos sociais internos em cada país, formação de grupos terroristas (como o chamado Estado Islâmico) que são armados para destruir o equilíbrio social tanto no Oriente Médio como na Europa, controle da comunicação social e das técnicas de publicidade para formar opinião pública favorável aos interesses capitalistas (transformando o ser pensante em robôs para elegerem governantes da elite, mas também para sucumbirem ao medo dos perigos anunciados, à auto-defesa para  preservarem os seus interesses pessoais, e tornarem-se coniventes com as orientações imperiais).

Esta despersonalização de cidadãos capazes de defender a humanidade é que cria uma inércia e um insensibilidade dominantes em populações que assistem sem aparente emoção que governantes incompetentes destruam as instituições do Estado instaurando o caos na Justiça, nas Finanças, na Previdência, na Economia, nas Escolas, nos Transportes, nas Forças Armadas e na Polícia e vendam o patrimônio nacional ao desbarato para fazer dinheiro, como fazem os ladrões comuns; que os que confiaram as suas poupanças a um banco nacional vejam que os donos usaram para si os seus depósitos e nada pagam; que as crianças cheias de fome queiram frequentar as escolas mesmo durante as férias onde comem alguma refeição; que os idosos só recebam o suficiente para comer ou comprar medicamentos; que todos os dias vejam as notícias de grandes barcos, carregados de refugiados dos países destroçados pelo imperialismo, flutuem sem tripulação pelo mar Mediterrâneo em busca de um porto europeu que os aceite; que os credores da Troika/FMI imponham aos países o programa de miséria que favorece os donos do capital; que desesperem uma geração de jovens que não podem pagar as propinas das escolas, ou não têm emprego com os diplomas nas mão, que não acreditam nos governantes nem nos adultos cheios de medo de perderem o pouco que têm, nem nos deuses tradicionais, nem nas drogas oferecidas em cada esquina, e que são capazes de se deixarem levar pelos terroristas para saciarem o ódio que lhes sobra de uma rebeldia amordaçada na alma de robôs.

Os fabricantes de terroristas, (que hoje são apresentados pelas revelações que a mídia recebe de redes de ex-funcionário da CIA e de hackers, como Assange, que usaram as suas capacidades para trazerem a público as decisões criminosas dos imperialistas) são os grandes culpados pelo sofrimento da humanidade e pela anulação da capacidade de pensar e de lutar que o ser humano tem. Mas cada um tem de lutar intimamente para compreender que não pode aceitar tornar-se um robô. Os que se desviaram do caminho bem pago da CIA ou dos hackers que roubavam informações em benefício próprio, deram um exemplo do despertar da razão humana na cabeça de um robô. Com mais razão um cidadão comum, trabalhador honesto, descobre em si o dever de lutar e a satisfação em participar numa luta coletiva para reabilitar a humanidade extirpando o caos agora instalado no planeta.

Zillah Branco

sábado, 4 de julho de 2015

Crise de quê?




A crise, ou as crises, se instalaram. Isto ninguém pode negar. São tantas - financeira, ética, de competência administrativa, de caráter, de respeito humano, de sensibilidade, de percepção da inteligência popular e dos valores patrióticos, e outras mais - que a situação política na Europa sob a liderança da União Europeia de braços dados com o FMI e o Pentágono tem ministrado um curso intensivo de política que aponta metas contrárias às dos seus dirigentes. Saltando de galho em galho para corrigir as escorregadelas conseguiram aproximar o raciocínio de toda a gente honrada, seja de esquerda ou de direita. A dialética passou a gerir as consciências.

Fica claro que os tecnocratas de serviço só conseguem pensar em dinheiro sonante quando falam em desenvolvimento. São capazes de recomendar a uma família em dificuldade para sustentar 10 filhos que a solução é exportar 3 dos mais fortes, deixar morrer 4 dos mais débeis e manter sob controle austero os que restam para poder amealhar cada ano mais uns tostões. E com as oportunidades oferecidas pelo turismo e graças à paisagem e à culinária de origem rural, vende-se de tudo um pouco para aumentar o pé de meia a qualquer custo. A visão reduzida dos financistas dogmáticos impede que lembrem o que é um ser humano, os seus valores tradicionais, a sua sensibilidade e afeto, a criatividade comprovada, a história patriótica e o património herdado, a dignidade de um povo, a independência nacional.

Diante da catástrofe que é ter por dirigentes continentais e nacionais espécimes tão precários, naturalmente as pessoas normais se encontram no protesto apesar de divergências ideológicas ou de tendências menos drásticas. Em Portugal todos os dias alguém protesta e faz greve por falta de interlocutor governamental: os trabalhadores mal pagos, os desempregados, os pensionistas que morrem à mingua, os reformados com os cortes nos rendimentos, os espoliados das suas moradias por não poderem suportar as coimas, os doentes que não podem pagar os medicamentos, os que não são atendidos nos Centros de Saúde, os médicos contratados com salários de quem não tem formação superior, os enfermeiros que não têm descanso, os juízes que não têm condições de trabalho, os estudantes que não têm aulas, os professores que não são contratados, os comerciantes que depositaram os seus recursos e foram roubados por banqueiros sem escrúpulos, os pais de crianças especiais que não são mais recebidos na escola, idosos acamados que deixaram de ser atendidos apesar de viverem sozinhos, bombeiros que arriscam a vida com equipamentos inadequados e sem salários suficientes, polícias mal pagos que precisam fazer serviços remunerados incompatíveis, militares que afirmam não existirem mais condições para a defesa do país, autarcas que sentem as omissões do governo central pesarem sobre os concelhos como se fossem uma federação sem orçamento próprio, políticos conservadores que não suportam a vergonha de representarem os seus partidos que cumprem ordens externas, toda agente que vê o património empresarial do Estado a ser vendido a preço de saldo na feira. A lista é enorme. Ficamos à espera que entrem em greve os padres e freiras, assim como os voluntários e os recém nascidos.

E dizem que o caos está na Grécia onde o governo e o seu povo não aceitam mais os sacrifícios impostos pelos credores com seus modelos de crescimento do capital que insistem em chamar de desenvolvimento.

Zillah Branco